16.7.07

«La mort de l'intellectuel de gauche?»

Jack Lang aceitou esta noite um convite de Sarkozy para ser membro de uma comissão de reflexão sobre a modernização das instituições em França (um Simplex à francesa?). O mítico Ministro da Cultura e da Educação Nacional socialista, durante longos anos em mais de duas décadas, enfrenta a oposição clara do seu partido, tendo apresentado o pedido de demissão do respectivo secretariado.

Este é apenas o episódio mais recente de uma série de iniciativas do presidente da República francês, que já conta no seu gabinete com seis socialistas de peso – antes de mais Bernard Kouchner, como Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Um outro socialista – Dominique Strauss-Kanh – tem o seu apoio para se candidatar à chefia do FMI (mas, neste caso, o PS está de acordo).

Nicolas Sarkozy afirma que não ficará por aqui e terá dito, pouco depois de ser eleito: «Je veux occuper tout l’espace, c'est la règle».

Entretanto o debate sobre os efeitos, para a esquerda, desta fase pós-gaulista vai aquecendo. Alain Badiou, um polémico filósofo francês, fundador do PSU, soissante-huitard discípulo de Althusser e de Lacan, recentemente acusado de anti-semitismo, não poupa nas palavras:

«Le ralliement à M. Sarkozy symbolise la possibilité pour des intellectuels et des philosophes d'être désormais des réactionnaires classiques "sans hésitation ni murmure", comme dit le règlement militaire. (...)
Nous allons assister – ce à quoi j'aspire – à la mort de l'intellectuel de gauche, qui va sombrer en même temps que la gauche tout entière, avant de renaître de ses cendres comme le phénix! Cette renaissance ne peut se faire que selon le partage: ou radicalisme politique de type nouveau, ou ralliement réactionnaire. Pas de milieu.»
(*)


A procissão ainda vai no adro.
Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos.
Tenho a impressão (a intuição) de que as ondas de choque vão cá chegar.

------------------------------
Informação sobre estes assuntos, por exemplo:
neste texto,
neste,
e neste.

(*) Texto de entrevista aqui

P.S. - CORRECÇÃO: Não se trata de uma espécie de Simplex, como acima referi, mas de reformas mais profundas das instituições.

3 comments:

Anónimo disse...

Olá Joana, bom dia

A menos que não esteja a perceber pretendidos segundos sentidos na sua expressão - "Tenho a impressão (a intuição) de que as ondas de choque vão cá chegar" - parece-me que o fenómeno não é novo.

Em Portugal, a partir dos inícios da década de oitenta, é evidente que com picos "sazonais" mais ou menos acentuados, parece-me ter sido contínuo o fluxo migratório esquerda/direita. Mesmo atendo-nos apenas à intelectualidade encartada. E considerando a dimensão (intelectual) do país.

nelson anjos

Joana Lopes disse...

Estava a pensar sobretudo numa «transumância» de personalidades (de diferentes partidos) para ocupação de cargos governativos.

Anónimo disse...

...trata-se de um caso particular de migração. Não tinha percebido a nuance.