12.5.07

Canções na memória (I)


«Quando trauteámos When I'm sixty four (...), não parámos para pensar que chegaríamos aos sessenta e quatro bem mais rapidamente do que então teríamos podido imaginar». («Entre as brumas da memória...», p.119)



When I'm 64 (The Beatles, 1967)

When I get older, losing my hair, many years from now,
Will you still be sending me a Valentine, birthday greetings, bottle of wine?
If I'd been out 'till quarter to three, would you lock the door?
Will you still need me, will you still feed me,When I'm sixty-four?

You'll be older, too. And if you say the word, I could stay with you.
I could be handy, mending a fuse, when your lights have gone.
You can knit a sweater by the fireside, Sunday mornings, go for a ride.
Doing the garden, digging the weeds, who could ask for more?
Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four?

Every summer we can rent a cottage in the Isle of Wight if it's not to dear.
We shall scrimp and save.
Grandchildren on your knee, Vera, Chuck, and Dave.
Send me a postcard, drop me a line stating point of view.
Indicate precisely what you mean to say, yours sincerely wasting away.
Give me your answer, fill in a form, mine forever more.
Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four?

11.5.07

Fátima 1967 - A visita polémica de um Papa


Paulo VI com a irmã Lúcia (13/5/1967)
(Postal da época)


Há quarenta anos, era grande a consternação nas hostes dos chamados «católicos progressistas» portugueses. Desde que se levantou a hipótese de Paulo VI vir a Fátima em Maio de 1967, para as comemorações do 50º aniversário das aparições, que se temia que essa visita funcionasse como uma quebra do isolamento internacional a que Portugal estava sujeito, sobretudo desde o início da guerra em África, e como um aval às orientações políticas do governo português.

Em Entre as brumas da memória..., dedico um capítulo não só a esta viagem de Paulo VI como a outras que tiveram a ver com Portugal, nomeadamente à sua ida a Bombaim, que Salazar considerou uma afronta inaceitável (por causa da anexação pela União Indiana, alguns anos antes, de Goa, Damão e Diu). Deixo aqui um extracto desse capítulo (pp. 52-56):

«Na segunda metade do ano de 1966, começou a ser ventilada a hipótese de Paulo VI se deslocar a Fátima por ocasião do cinquentenário das aparições, em 13 de Maio de 1967.
Em Novembro de 1966, a Conferência Episcopal dirigiu-lhe um convite formal nesse sentido, mas só em 1 de Maio de 1967 é que foi oficiosamente comunicada a decisão definitiva à embaixada de Portugal no Vaticano. (...)

Já há algum tempo que os que se tinham alegrado com as viagens a Jerusalém, a Bombaim e à ONU temiam que a vinda a Fátima se concretizasse. (...)
Mas já que a vinda do papa se apresentava como inevitável, havia que recorrer à imaginação e tentar tirar partido de uma situação de facto. E o tempo era muito escasso.
Foi entregue na Nunciatura uma carta que um dos filhos do Coronel Varela Gomes escreveu ao papa, pedindo-lhe que intercedesse pela libertação do pai que se encontrava preso pela PIDE. Terá havido fuga de informação por parte da Nunciatura: segundo Maria Eugénia Varela Gomes, o
Correio da Manhã publicou, alguns dias mais tarde, um artigo em que o conteúdo da carta foi mencionado e distorcido. No entanto, ela crê na eficácia da iniciativa, já que está convencida de que à mesma se ficou a dever a redução das medidas de segurança a que o marido estava sujeito, de um ano e meio para seis meses.
(...) José Manuel Galvão Teles e eu pertencíamos à Junta Central da Acção Católica e essa condição abria-nos muitas portas. Decidimos pedir uma audiência particular ao Núncio Apostólico. Audiência concedida, apresentámo-nos, juntamente com Nuno Teotónio Pereira, e expusemos as nossas preocupações sobre o que nos parecia inevitável: o aproveitamento da visita do papa para fins políticos favoráveis ao regime. Insistimos na importância de tudo ser feito para o evitar. Fomos tão incisivos quanto soubemos. (...)

Aproximava-se o dia 13 de Maio. Soube-se que o Vaticano tinha “despolitizado” a viagem: o papa não viria a Lisboa (o avião papal aterraria em Monte Real), não condecoraria ninguém (em Bombaim, o presidente da União Indiana tinha recebido a mais alta condecoração concedida pelo Vaticano a não cristãos), não seria hóspede do governo mas sim do bispo de Leiria.
Sabe-se agora que, cerca de uma semana antes da viagem, o governo recebeu uma informação da Embaixada de Portugal em Madrid, segundo a qual se preparavam atentados contra personalidades portuguesas de vulto e contra o próprio papa. De Nova York, terá vindo uma outra notícia dizendo que um grupo de oficiais estava a organizar um golpe de estado contra Salazar. Estes boatos obrigaram a um reforço das medidas de segurança em Fátima, impedindo, por exemplo, que Paulo VI fizesse alguns percursos a pé, como inicialmente previsto.

Entretanto, em Lisboa, continuavam os protestos.
Foi preparada uma iniciativa importante: a elaboração de um documento altamente sigiloso, a fazer chegar directamente ao papa, no qual um numeroso grupo de antigos e então actuais dirigentes da Acção Católica e de outras organizações de leigos, que como tal se identificavam individualmente a seguir à respectiva assinatura, informavam detalhadamente Paulo VI da situação existente em Portugal, por eles considerada contrária aos ensinamentos da Igreja e do próprio papa. Havia que garantir que o documento fosse entregue em boas mãos. Alguém nos disse que a pessoa a ser procurada em Fátima era Monsenhor Loris Capovilla, que tinha sido secretário particular do papa João XXIII e que integraria a comitiva de Paulo VI. E foi assim que o nosso livre trânsito, como convidados oficiais por sermos membros da Junta Central da Acção Católica, permitiu que encontrássemos Capovilla e que José Manuel Galvão Teles lhe entregasse a carta. (...)

Nos bastidores do poder, passaram-se episódios que só muito mais tarde viemos a conhecer. Com a aversão que tinha a Paulo VI e com a sua proverbial misantropia, Salazar ficou furioso quando soube, na véspera das comemorações e já em Monte Real, que o Papa queria que a irmã Lúcia estivesse presente, porque considerou tratar-se de um acto puramente demagógico. Ameaçou mesmo regressar imediatamente a Lisboa, mas acabou por ficar – no Hotel de Monte Real, onde a estadia, com meia pensão, custou 220$00.
Confessaria no dia seguinte que o que mais apreciara na visita do Papa fora a fúria que ela provocara nos seus inimigos.

As cerimónias decorreram em Fátima com toda a pompa e emoção generalizada, na presença de mais de um milhão de pessoas. Os membros da Junta Central da Acção Católica foram convidados privilegiados, juntamente com as autoridades civis e eclesiásticas, e estiveram por isso presentes, como tinham exigido, na tribuna de honra, erguida em frente da Basílica. Foi estranho ver, a poucos metros de distância, Américo Tomás, Salazar, a irmã Lúcia e o papa, quando desejávamos tanto que tudo aquilo não estivesse a acontecer, que não passasse de um simples pesadelo.
Entretanto, Paulo VI foi almoçar, recatadamente. Como tinha pedido: sopa, frango, um pouco de vinho tinto e um cálice de Porto.
Recebeu-nos mais tarde, numa das muitas audiências que se seguiram às cerimónias religiosas.
Tínhamos feito o que pareceu ser possível – e que foi bem pouco.
Nunca mais voltei a Fátima.

Para Franco Nogueira, “foi um dia de grande emoção popular, de grande espectáculo, de grande política para a ala conservadora da Igreja.”
Para os que não se incluíam nessa “ala conservadora”, as feridas estavam abertas e, para alguns, não se fechariam.(...)»

* * *

Como os leitores deste blogue se distribuem por grupos que dão para vários peditórios, deixo, aos eventuais interessados, os links para os discursos que Paulo VI fez em Fátima, em 12 e 13 de Maio de 1967:
* Discurso ao Presidente da República
* Discurso ao Corpo Diplomático
* Discurso ao Episcopado Português
* Discurso aos Representantes dos Leigos Católicos
* Discurso aos Representantes das Comunidades Cristãs Não Católicas
* Homilia durante a Missa no dia 13 de Maio
* Discurso de Despedida

9.5.07

«Eu falei na PIDE»


Têm sido publicados muitos estudos sobre os presos políticos durante a ditadura. Mas ainda não encontrei nenhum (falha minha?) que se debruçasse, especificamente, sobre a problemática de quem não resistiu à tortura e, por esse motivo, denunciou pessoas e factos.

Foi este texto de João Tunes, no Água Lisa(6), que me levou ao depoimento de Nuno Teotónio Pereira numa obra recente (*). Considero importante que NTP tenha assumido publicamente que falou na prisão, sob tortura, provocando a prisão de outras pessoas (já o tinha feito na RTP, em entrevista a Ana Sousa Dias, julgo que em 2004). Como diz J. Tunes no texto acima referido, este facto «...levanta a questão de quanta parcialidade e composição do retrato histórico do antifascismo é difundida através dos depoimentos oficializados e considerados correctos na absolutização da dicotomia de heróis para um lado (os resistentes) e diabos para outro (Salazar e pides). Como se fosse possível uma tal grandeza universal numa qualquer comunidade clandestina, género “fábrica de heróis”...». Num outro texto do mesmo blogue, J. Tunes retoma a questão e relata um caso real elucidativo.

Julgo que é necessário que se aborde claramente esta temática, deixando de tratar hagiograficamente – ou farisaicamente – os resistentes ao fascismo.

Estou especialmente à vontade para abordar este assunto. Nunca fui presa (talvez com alguma sorte). Sou viúva de alguém que cumpriu uma pena de seis anos e que, apesar de nove dias consecutivos de tortura do sono, se recusou a responder a toda e qualquer questão durante os interrogatórios, incluindo a que dizia respeito à confirmação da sua própria identidade. Um dos meus amigos mais próximos, quando esteve preso e teve medo de falar, cortou parte da língua. Conheci, pessoalmente, muitos outros casos de gente que não abriu a boca. Nunca deixarei de os admirar profundamente, pela força e pela coragem, absolutamente notáveis, por vezes brutais, que revelam.

Teria eu falado se tivesse sido torturada? Nunca o saberei, mas tenho que admitir que sim, já que não vislumbro em mim quaisquer características especiais de heroicidade.

Acho que é tempo – antes que seja demasiado tarde para alguns – não de apagar os factos mas, muito pelo contrário, de os trazer à luz do dia, de mostrar a sua dimensão e os seus contornos. Não para denunciar, nem para justificar – simplesmente para repor a verdade e para matar fantasmas. De que forma? Não sei exactamente. A colaboração dos próprios é indispensável mas muito difícil, o que só por si evidencia a complexidade e a importância do problema.

Mas é ou não fundamental que fique claro que a conquista da democracia não foi (só) obra de santos e de mártires?


(*) Rui Galiza e João Pina, Por Teu Livre Pensamento..., Assírio & Alvim, Lisboa, 2007.

7.5.07

Fátima e os milagres do «Sol»


Preparem-se porque, lá para o fim desta semana, vamos ser bombardeados com as comemorações dos noventa anos das aparições – em maior ou menor grau, conforme a evolução dos processos jornalísticos em curso, nomeadamente a saga sobre a C. M. de Lisboa. Mas virão.

De resto, os prenúncios aí estão e a minha alma está parva.

O jornal Sol de Sábado passado (5/5/2007) publicou os resultados de uma sondagem sobre o posicionamento dos portugueses face a Fátima. Sem nenhuma razão para duvidar do carácter fidedigno da peça, fiquei em estado de choque. Algumas das percentagens reveladas:

• 69% dos portugueses acreditam nas aparições;
• 52,5% vão a Fátima pelo menos uma vez por ano;
• 15,4% já lá foram a pé.

Há mais números, muitos mais, mas fixemo-nos nestes.

Assumindo que somos dez milhões, há 6 900 000 que acreditam que, há noventa anos, Nossa Senhora apareceu às três crianças. Mais mulheres que homens (hélas!), mais velhos que novos (ainda assim, 55% dos jovens entre os 15 e os 24 anos), sobretudo católicos (mas não só: também 26,8% de «sem religião» – leram bem: sem religião mas acreditando nas aparições!!!).

Fazendo fé no que está escrito, mais de cinco milhões dos nossos compatriotas rumam em direcção à Cova da Iria pelo menos uma vez por ano. Há mesmo cerca de 500 000 que lá vão uma ou mais vezes por mês – e não vive tanta gente nas redondezas!...

Mais de 1 500 000 já foram a Fátima a pé. Será mesmo verdade? Pergunta para quem está a ler esta prosa: conhecem muitas pessoas nestas circunstâncias? Eu só tenho um amigo que o fez, para cumprir uma promessa, quando o Sporting ganhou o campeonato. Mas esse assume-se como maluco. Viverei numa redoma?

Enganaram o Sol? O Sol está a enganar-nos? Ou será que isto é mesmo o país real?!!!


P. S. 1 – Não sou leitora habitual do Sol, mas o Luís Osório aguçou-me o apetite ao falar desta sondagem no programa Fim de Semana, do RCP. «Roubei-lhe», aliás, a ideia para o título deste post...

P.S. 2 – Voltarei em breve ao tema Fátima, até porque, no Entre as brumas..., dediquei um capítulo às viagens do papa Paulo VI, nomeadamente à sua vinda aquando das comemorações do 40º aniversário das aparições, em 1967.

6.5.07

Hoje somos todos franceses II


Levez-vous,
Il est Sarzo moins le quart





Hoje somos todos franceses!

Dis moi!!!

Nicolas Sarkozy,

Pourquoi ton père

A fui la Hongrie?

Vale a pena ver e ouvir!...