30.6.07

Só se nós deixarmos


Foto de René Maltête
Via Prosas Vadias

Plantas africanas

Mais algumas das fotografias de viagem.

Árvores e dunas (Sossusvlei, Namíbia)





Welwitchia Mirabilis - planta com 500 anos (só existe na Namíbia e no Sul de Angola)



Troncos petrificados (trazidos por glaciares da África Central)





No rio Zambeze, Zâmbia








28.6.07

Contra a tolerância e o teísmo

Li recentemente dois livros que abordam temáticas próximas, mas de pontos de vista diferentes e, em certa medida, divergentes (*). Os últimos capítulos aproximam-nos, porque ambos tratam do problema da procura de uma ética e de uma espiritualidade «sem Deus».

1. Relativamente a O Fim da Fé..., de Sam Harris (SH), remeto para a crítica já publicada por Rui Bebiano no Passado/Presente. Retomo apenas o essencial do objectivo que o autor se propõe.

«Espero conseguir mostrar que o próprio ideal da tolerância religiosa – com origem na ideia de que todos os seres humanos devem ser livres de acreditar naquilo que quiserem sobre Deus – é uma das principais forças que nos arrasta para o abismo.»

Nada de politicamente mais incorrecto poderia ser dito a este respeito, num tempo em que se propaga e acredita (será que se acredita mesmo?) que só diálogos, consensos e alianças de civilizações podem salvar este nosso mundo.

Concorde-se ou não, o livro de SH é uma pedrada no charco e identifiquei-me com muito do que li. Gostei menos dos últimos capítulos, mais teóricos e um tanto ou quanto prosélitos. Curiosamente, são os que se aproximam mais das teses centrais da obra que refiro a seguir.


2. Em L’Esprit de l’Athéisme..., de André Comte-Sponville (AC-S), laicidade é o nome do combate que o autor se propõe travar, a par da procura de uma espiritualidade para os ateus. Ao contrário de SH, AC-S valoriza a tolerância (considerada «um bem precioso»).

«Basta-me este mundo: sou ateu e feliz por sê-lo. Mas outros, certamente mais numerosos, não são menos felizes por terem fé. Talvez porque precisem de um Deus para se consolarem, para se tranquilizarem, para escaparem (...) ao absurdo e ao desespero ou, simplesmente, para darem coerência à vida.»

O autor define-se como um «ateu fiel» – «fiel porque me reconheço numa certa história, numa certa tradição, numa certa comunidade e especialmente nos valores judaico-cristãos (ou greco-judaico-cristãos) que são os nossos.(...) Quando já não se tem fé, resta a fidelidade».

Segue-se um longo capítulo sobre a diferença entre agnosticismo e ateísmo, onde AC-S sublinha que «crer em Deus, de um ponto de vista teórico, significa sempre querer explicar algo que não se compreende – o mundo, a vida, a consciência – por algo que ainda se compreende menos».

Na última parte do livro, explica-se a urgência de reencontrar uma espiritualidade sem Deus, sem dogmas, sem Igreja, que nos defenda tanto do fanatismo como do niilismo.


Sem que nenhum dos dois livros tenha correspondido totalmente às minhas expectativas (criadas pelos títulos e pelo início da leitura), são ambos importantes e ajudam a reflectir sobre questões indiscutivelmente cruciais.

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(*) Sam Harris, O Fim da Fé. Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão, Tinta da China, Lisboa, 2007, 352 p.
André Comte-Sponville, L'ésprit de l'Athéisme. Introduction à une Spiritualité sans Dieu, Albin Michel, Paris, 2006, 222 p.

27.6.07

27/6/1976 - Eleições presidenciais

Para os mais novos, aqui fica registado que as primeiras eleições presidenciais depois do 25 de Abril tiveram lugar precisamente há 31 anos, em 27 de Junho de 1976. Os mais «antigos» recordar-se-ão certamente da campanha épica que as precedeu!

Candidatos e resultados:

Ramalho Eanes - 61,6%
Otelo S. de Carvalho - 16,5%
Pinheiro de Azevedo - 14,4%
Octávio Pato - 7,5%

Afluência às urnas: 75,5%


(Debate na RTP, moderado por Joaquim Letria)

26.6.07

«Berardização»?

Nas duas semanas em que estive fora do país, este ganhou um novo herói e a língua portuguesa um novíssimo substantivo. Ainda meia ensonada da viagem, ouvi um comentador televisivo falar de uma OPA sobre o Benfica, associada à hipótese de criação de um novo banco. Julguei que se referia a uma qualquer experiência no “Second Life”. Mas não: Joe Berardo aparecia em todos os telejornais, de carne e osso, por causa da dita OPA.

Entretanto abriu o museu. Ainda não tem 24 horas de existência e já está comprada uma guerra entre JB e Mega Ferreira. Vai ser fácil a vida no CCB!...
Até ao fim do ano, funcionários públicos e/ou sócios de clubes de futebol da primeira liga entrarão gratuitamente. Porquê este bizarro conjunto? Porque JB quer, ponto final. (Ou será que vai lançar também uma OPA sobre a função pública?)

Temos homem: ex-emigrante pobre (ainda por cima da Madeira, com sotaque e tudo), dado a OPA’s e a artes, sempre disponível para falar com os jornalistas. Estivessem eleições presidenciais à vista e teríamos candidato – nem socialista, republicano e laico, nem economista, nem engravatado. Nem doutor, nem engenheiro – comendador. Um Joe absolutamente original. E com uma primeira-dama anafada e engalanada, como nos mostraram ontem.
Quanto ao novo herói, estamos entendidos.

Mas porque é que se fala de «berardização» do país? O que é? Já vi escrito «berardização / globalização»! Alguém está a esconder alguma coisa? Ou é só saloiice?

Acho que vou voltar para as dunas da Namíbia!

Interrogatórios da PIDE

sob tortura do sono.
Não deixemos que se apaguem as memórias.

Curta-metragem: «Quem é Ricardo?» (2004), realização de José Barahona, argumento de Mário de Carvalho (*).



(*) Descoberta através de O país do Burro.

Animais africanos (II) - Estes gostam de nadar

Não sei se, nesta costa da Namíbia, vivem 800.000 focas (como dizem os guias turísticos), mas há muitas...



... e algumas são verdadeiros animais domésticos.



Belos pelicanos, quase todos correctamente alinhados.



Na Zâmbia, no rio Zambeze,
vi este belo crocodilo



e estes dois hipopótamos.

25.6.07

«Memórias» no Abrupto

José Pacheco Pereira (JPP) escreveu dois artigos no jornal «Público» (de 9 e 16 de Junho) sobre Memórias dos Tempos Radicais, que depois publicou com desenvolvimentos adicionais no Abrupto e que podem ser lidos aqui. Textos extremamente interessantes, no meu entender, que mostram, muito bem e sinteticamente, convergências e especificidades.

No segundo (versão Abrupto), a propósito do meu livro Entre as Brumas da Memória..., JPP afirma que desaguaram na LUAR e no PRP/BR «...muitos católicos que começaram a sua militância na Igreja pós-conciliar e se foram radicalizando politicamente».

Recebi alguns comentários a esta afirmação, frisando que, percentualmente, foram poucos – e não muitos – os que fizeram tal percurso e que era importante eu esclarecer este ponto. É certo que, tendo em conta o conjunto dos chamados «católicos progressistas» do fim da década de 60, a esmagadora maioria não se «radicalizou» aderindo a algum daqueles movimentos. Não tenho números (Alguém os terá?! Não ficaram ficheiros para a posteridade, com nomes, profissões e credos religiosos...). Sei que a participação de católicos (ou ex-) na LUAR foi numericamente mais significativa do que no PRP/BR, talvez por aquela organização ter realizado as suas primeiras acções muito mais cedo do que as BR (Maio de 1967 versus Novembro de 1971), em plena crise do catolicismo pós-Vaticano II, e porque o PRP propriamente dito só foi fundado em 1973.

Com certeza que JPP sabe que se trata de um «muitos» relativo. Aliás, ele próprio fez a separação das águas dentro das oposições dos católicos na recensão do meu livro, também no Abrupto (e na revista «Sábado»).

E já agora: dadas as circunstâncias, os percursos pessoais e todos os outros condicionalismos, não fomos assim tão poucos...

24.6.07

Animais africanos (I)

Na Namíbia e na Zâmbia, fui vendo zebras, girafas, elefantes e muitos mais.





Quando o turismo já chega aos beduínos: