6.7.07

Ainda a magia de 60

A década de 60 persegue-me.

É Manoel de Oliveira que traz a sua Belle Toujours, em honra de Buñuel e de uma outra Belle de 1967.

São as nossas memórias e os seus livros – recentemente, João Freire com Pessoa Comum e, ontem mesmo, Foi Assim com Zita Seabra. São outros livros, como O Poder e os Idealistas – A Geração de 68 e a sua Subida ao Poder (Paul Berman).

É o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sarkozy a fazer-me lembrar o tempo em que era apenas Berbard Kouchner e liderava rebeliões de 68.

São pesquisas em sites dedicados ao estudo da gloriosa década, como este, descoberto através de Passado / Presente.


Mas a silly season está aí, o fim de semana já começou e, hoje (talvez por culpa do Piccoli) tudo isto me fez lembrar alguns filmes – neste caso, imagens com música, quando o quotidiano não era tão acelerado e vivíamos «na nostalgia de um mundo perfeito e original, que conhecíamos dos livros e do cinema».


À bout de souffle, Jean-Luc Godard, 1960



Jules & Jim, François Truffaut, 1962



The graduate, Mike Nichols, 1969



5.7.07

Canções na memória (IX) - Le déserteur

Algures na Bélgica, nos anos 60, assisti ao casamento de amigos portugueses exilados que usaram esta canção como «marcha nupcial

Serge Reggiani - Le déserteur
Colocado por Rick42
Le déserteur - (Serge Reggiani)
Texto de Boris Vian, música de Boris Vian e Hard Berg, 1954

Monsieur le président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps

Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour aller à la guerre
Avant mercredi soir

Monsieur le président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens

C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants

Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers

Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé

Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:

"Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir"

S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le président

Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer


Visto e ouvido

Hoje, na SIC N:

«Flexisegurança? Tem a ver com aquilo das 7 maravilhas, não é?»

É sim, minha senhora. Tem tudo a ver.
E também com a Quadratura do Círculo.

4.7.07

Novo blogue – Uma extensão do «Brumas»

Quando há alguns dias publiquei este post sobre as eleições de 1958 e a campanha de Humberto Delgado, alguém me perguntou onde poderia encontrar o texto da carta que o Bispo do Porto escreveu a Salazar em Julho de 1958, precisamente ainda na refrega das referidas eleições.

Lembrei-me então que tinha em formato digital não só esse texto como alguns outros que me «sobraram» de Apêndices, que não chegaram a sê-lo, do meu livro Entre as Brumas da Memória. Resolvi disponibilizá-los na net, não aqui mas num outro blogue, criado para o efeito: Entre os textos da memória.

Esse novo blogue:
• não terá «vida própria», ou seja, todos os posts serão anunciados / iniciados aqui;
• não terá actualização regular - «a ver vamos»;
• não se restringirá a textos relacionados com o meu livro.

Já a seguir, um post sobre a Carta do Bispo do Porto a Salazar (1958).

Carta do Bispo do Porto a Salazar (1958)

Cerca de um mês depois das eleições presidenciais de 1958, mais precisamente no dia 13 de Julho, D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, escreveu uma longa e corajosíssima carta a Salazar, que lhe valeu dez anos de exílio em Espanha, França e Alemanha (entre 1959 e 1969).

Essa carta foi um marco na resistência dos católicos (então ainda relativamente incipiente) contra a ditadura.

O texto já foi incluído em várias publicações, mas nem sempre é fácil aceder-lhes. Poderá agora ser lido neste blogue e na sua nova «extensão»:


«AO EX.mo PRESIDENTE DO CONSELHO

Porto, 13 de Julho de 1958

Excelência,

Cumpre-me, antes de mais, agradecer a V. Ex.ª o ter manifestado a boa disposição de me ouvir.
Na verdade, estando eu, na ocasião das eleições, legitimamente ausente em Barcelona, a deslocação a Portugal, que se me pedia, por forma tão extraordinária e pública, não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação, visto que, nas condições das duas candidaturas, sem falar sequer da posição ideológica de quem me pedia, era praticamente voto aberto. Isto tinha talvez menos importância; o que a tinha máxima era o carácter plebiscitário que se tem dado às nossas eleições, carácter que eu procurei fazer compreender ao grupo de pessoas que se me dirigiu e que depois V. Ex.ª publicamente reconheceu.
Em tais condições e forçado a ser, diametralmente ao contrário do meu desejo, uma bandeira, eu não podia deixar de fazer uma declaração de voto. Como a não deveria fazer em público, requeri fazê-lo a V. Excelência.
Acho porém preferível enviar primeiro, por escrito, os pontos fundamentais desta minha declaração a fim de poder ser útil à nossa conferência.
Quero, sobretudo e antes de tudo, acentuar que aquilo que se me põe à minha consciência é um problema directamente da Igreja.
A grande e trágica realidade, que já se conhecia mas que a campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa, é que a Igreja em Portugal está perdendo a confiança dos seus melhores. Não direi se este processo está, em princípio, no meio ou perto do fim; o que é evidente é que tal processo está em curso, por mim penso que muito e muito adiantado.»

Ler o texto completo aqui.

Portugal e os seus símbolos


Um Símbolo de Portugal em Espanha

O Governo Português anunciou que irá encerrar o Consulado Geral de Portugal em Sevilha. Esse encerramento implica a perda de um Edifício Histórico Português, que foi construído para albergar o Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Sevilha de 1929 e cuja propriedade será devolvida ao Ayuntamiento de Sevilha.

Este Edifício Histórico está localizado no centro da cidade de Sevilha, ao lado do Hotel Alfonso XIII, um dos melhores de Espanha e é cobiçado por grandes interesses espanhóis e internacionais. Nós que o temos na mão, por direito, decidimos abandoná-lo.

Será que o Governo entende que temos demasiadas referências culturais portuguesas em Espanha?

Será que, decididamente, preferimos acabar com todos os símbolos nacionais? Como este que a Espanha nos cedeu gratuitamente há quase um século, no centro de uma das suas mais importantes e bonitas cidades?

Um Consulado não se mede só pelos serviços que presta. Conta por ser uma presença de um País numa cidade amiga. Uma cidade onde trabalham Portugueses, onde estudam Portugueses, onde se ensina o Português a centenas de estudantes espanhóis. Uma cidade Amiga. Por isso e por estar num Edifício Histórico Português, pode ser também uma Referência da Cultura Portuguesa, a melhor Marca de Portugal. Em Espanha.

Todo o Português que vai a Sevilha se orgulha de ver o seu País, a sua Imagem, o seu Símbolo no centro da Cidade-Monumento.

O Governo Português vai acabar com ele. E sem ganhar nada com isso. Provavelmente veremos em breve no seu interior uma delegação do "Gungenheim" ou do "Rainha Sofia". É que os Espanhóis tratam bem o que têm.

Denuncie esta situação aos seus amigos. E se conhecer o Presidente da República, ou o Primeiro-Ministro envie-lhes também. Para que não digam que o Povo não os avisou. Não envie é para Amigos Espanhóis. Por vergonha.

Grupo Promotor do
Círculo de Portugal em Sevilha

3.7.07

Atenção, polacos!

Hoje no DN:

«Portugal lançou ontem um aviso muito claro à Polónia de que não haverá renegociação do acordo conseguido para a aprovação do Tratado Reformador, que relançou o processo institucional travado pelo "não" à Constituição Europeia.»

Canções na memória (VIII) - San Francisco


Há 40 anos, quando os «hippies» povoavam o nosso imaginário e esta canção era um ícone.
Voltou agora com a leitura de João Freire,
Pessoa Comum no seu Tempo.



San Francisco (Scott McKensie, 1967)

If you're going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair
If you're going to San Francisco
You're gonna meet some gentle people there

For those who come to San Francisco
Summertime will be a love-in there
In the streets of San Francisco
Gentle people with flowers in their hair

All across the nation such a strange vibration
People in motion
There's a whole generation with a new explanation
People in motion people in motion

For those who come to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair
If you come to San Francisco
Summertime will be a love-in there

If you come to San Francisco
Summertime will be a love-in there



2.7.07

PT - 9 000 em casa, 7 000 no activo

No «Público» de hoje:

«A Portugal Telecom tem nove mil trabalhadores em casa, em situação de pré-reforma ou suspensão de contrato, que custam à empresa cerca de 160 milhões de euros por ano. Este valor é equivalente a quase 40 por cento dos custos com colaboradores. O operador histórico e detentor da rede de cobre de telecomunicações, a PTC, tem actualmente mais trabalhadores em casa do que no activo. Os trabalhadores pré-reformados e com suspensão de contrato recebem entre 80 e 100 por cento do salário, com actualizações anuais [como se estivessem no activo]...»

Parece que algumas destas pessoas têm menos de 50 anos.
Haverá excelentes razões para isto acontecer.
Mas somos nós ou não que estamos a pagar?

1.7.07

1 de Julho de 1958 - Salazar e as eleições presidenciais


Em 8 de Junho de 1958, realizaram-se eleições para a Presidência da República, em que a oposição apresentou como único candidato o general Humbero Delgado. É bem conhecido o sucesso da campanha que as precedeu e que causou o maior «sobressalto político» (a expressão é de Franco Nogueira) que o Estado Novo conhecera até então.

Poucos dias mais tarde, mais precisamente no dia 1 de Julho, Salazar dirigiu-se aos portugueses em discurso proferido na União Nacional, comentando desta forma o comportamento da oposição:

«Para mobilizar 23% do eleitorado, as oposições fizeram a maior coligação e a mais completa junção de esforços de que há memória e tiveram de aceitar a cooperação, senão a preponderância directiva, de elementos comunistas. Os que sobrevivem do chamado partido democrático, monárquicos liberais ou integralistas desgarrados, socialistas, elementos da Seara Nova, o directório democrato-social, vestígios dos partidos republicanos moderados, alguns novos, sedentos de mudança, e os comunistas – todos poderiam unir-se, como fizeram, mas só podiam unir-se para o esforço da subversão, não para obra construtiva. Não se pode ser liberal e socialista ao mesmo tempo; não se pode ser monárquico e republicano; não se pode ser católico e comunista (*) - de onde deve concluir-se que as oposições não podiam em caso algum constituir uma alternativa e que a sua impossível vitória devia significar aos olhos dos próprios que nela intervinham cair-se no caos, abrindo novo capítulo de desordem nacional.»

(*) O destaque é meu: se Salazar cá voltasse, estranharia tanta coisa...

Com a voz inconfundível de Salazar como pano de fundo, aqui ficam imagens que recordam algumas cenas da epopeia que foi a campanha de Humberto delgado.

Foram mais cinco


Percorrem a net algumas cadeias - neste caso concreto, a dos últimos cinco livros lidos.

A cs incluiu-me nela, agradeço e obedeço.
  • João Freire, Pessoa Comum no seu Tempo - Memórias de um Médio-Burguês de Lisboa na Segunda Metade do Século XX. (Ainda não acabei, lá chegarei...)
  • Sam Harris, O Fim da Fé - Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão.(Referido AQUI.)
  • Haruki Murakami, Em Busca do Carneiro Selvagem. (Não perco nenhum Murakami.)
  • Paul Berman, O Poder e os Idealistas - A Geração Idealista de 68 e a sua Subida ao Poder.
  • Philip Roth, A Conspiração contra a América.

E passo a bola a cinco dos frequentadors assíduos desta casa, que ainda não vi incluídos nesta faina. Façam o favor de continuar...