8.9.07

O golo de Sócrates

Com o barulho de fundo do Portugal-Polónia (aqui mesmo ao lado, no Estádio da Luz).


7.9.07

Certezas de cardeal

Ainda a propósito das cartas da Madre Teresa, li no Portugal Diário de 5/9:

«O Cardeal Patriarca de Lisboa, D.José Policarpo, recusou hoje que os escritos recém-conhecidos da Madre Teresa de Calcutá ponham em causa a sua crença em Deus e afirmou que os media “não perceberam nada” ao falarem em crise de fé.»



Se não é crise de fé, então o que é?
A imagem de uma crise de fé?
Demasiado «magrittiano», para meu gosto.

6.9.07

«Le Plat Pays»

Biblioteca da Universidade de Lovaina (Leuven)

A Bélgica está sem governo há cerca de três meses e mantêm-se as dificuldades para formar o próximo. Uma vez mais, é a questão linguística que está no centro dos problemas. Fala-se, como sempre, da hipótese de desmembramento do país, mas as sondagens indicam que a maioria dos belgas não o deseja.

Não vou entrar em pormenores sobre esta crise porque a informação está disponível, mas Le Plat Pays de Jacques Brel, geralmente considerado pouco interessante, é para mim uma referência importante. Andei por lá quase nove anos (e muitas outras curtas estadias), em duas fases – uma como estudante, outra a trabalhar na IBM. Na primeira, que teve início em 1957 (há 50 anos?...), vivi por dentro este verdadeiro drama linguístico dos belgas.

A universidade onde estudei – Lovaina – fica na parte flamenga, mas era então bilingue, como tudo no país. Era uma cidade excepcionalmente cosmopolita, com estudantes de mais de sessenta países (tentem imaginar o que isso significou para mim, ida do Portugal salazarento). Como é óbvio, quase todos os estrangeiros frequentavam as aulas em francês (a excepção sendo apenas os indonésios e um ou outro holandês).

De ano para ano, foram crescendo as hostilidades por parte dos flamengos contra o uso do francês: nomes de ruas arrancadas, montras partidas, uma monumental manifestação, à pedrada, contra Jacques Brel que insistiu em cantar Les Flamandes no cine-teatro de Lovaina, num espectáculo a que assisti (com letra bem pouca simpática para as ditas, há que reconhecê-lo) (*).


Em 1962 foi fixada a fronteira linguística, mas a crise agudizou-se sobretudo na segunda metade da década de 60. A páginas tantas, os professores deixaram de poder dar aulas nas duas línguas, mas as instalações, as bibliotecas e tudo o resto era partilhado. Depois de manifestações gigantescas em 1967, por todo o país, foi decidido, em 1968, que a parte francófona saísse de Lovaina (Leuven) e se instalasse a menos de 30 km. Nasceria assim, do nada, uma nova cidade e uma nova universidade, Louvain-la-Neuve, que começou a funcionar em 1972. (É mais ou menos como se, por um qualquer motivo regionalista, a Universidade de Coimbra fosse obrigada a «duplicar-se» na Anadia...)

Custos? Desperdícios? Incalculáveis. Um único e grande exemplo. O conteúdo da magnífica Biblioteca da Universidade, onde passei anos da minha juventude, teve de ser dividida ao meio. Embora parcialmente destruída durante as duas Grandes Guerras, o seu espólio tinha um valor inestimável e foram longamente discutidos, durante anos, os critérios a adoptar para a distribuição de livros e documentos. O mesmo aconteceu com as bibliotecas das faculdades, laboratórios, hospital universitário, etc., etc.

(O meu cartão de acesso à Biblioteca)


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Uma última observação neste texto que já vai demasiadamente longo. Por ironia do destino, é neste pequeno país que não consegue governar-se unido que a está a sede da... União Europeia. Nos meus momentos pessimistas sobre o que o futuro nos reserva – e não são poucos –, penso sempre nisto.

(*) Vídeo aqui no fim deste post.

Les Flamandes (Jacques Brel, 1959)

5.9.07

Aprender publicidade?


Ignorante me confesso: nunca me ensinaram publicidade.

Já muitos se indignaram com uma notícia segundo a qual existem negociações entre o Ministério da Educação e a Associação Portuguesa de Anunciantes para que que os programas do 1º e do 2º ciclos (crianças dos 6 aos 11 anos) passem a ter esta «disciplina».

Indignação à parte:
1 - Ainda não consegui perceber o que é que se pretende ensinar e não vejo explicado em parte nenhuma.
2 - Porquê para quê?
2 - No nosso estado de iliteracia, será uma prioridade ? O argumento de que já existe noutros países não chega.

Diz Helena Matos, no Público de hoje, num contexto diferente:
«A escola acha que deve ensinar os petizes a ver televisão, a fazer amor, a comer maçãs ao pequeno-almoço... mas hesita na hora de lhes ensinar o que mais ninguém faz por ela como Matemática, Francês, Alemão, Química...»

100% de acordo.

Pesquisas brasileiras

Quem tem blogues e percorre um qualquer sitemeter, sabe que o número de pesquisas googlianas feitas a partir do Brasil cresce exponencialmente.

Há verdadeiras ideias fixas. Não há dia em que não cheguem a este blogue à procura de «Hiroshima e Nagasaki» e, sobretudo, de «animais africanos». É uma verdadeira obsessão.

Mas as mais curiosas são as perguntas do tipo «o que devo pensar sobre o mundo».


Hoje alguém tentou saber tudo sobre:
«assim sob qualquer ângulo que se está a considerar a situação»

????


3.9.07

São dez, podiam ser muitos mais

Correspondendo ao convite do Rui Bebiano, aqui vai a lista de dez livros que não mudaram em nada a minha vida.

Para variar e para evitar repetições sistemáticas, restrinjo-me a autores portugueses.

* José Saramago, As Pequenas Memórias (2006) e alguns outros do mesmo autor.
* António Lobo Antunes, Eu Hei-de Amar uma Pedra (2004) e muitos outros do mesmo autor.
* Álvaro Cunhal, Rumo à Vitória (1964) e todos os outros do mesmo autor.
* Zita Seabra, Foi Assim (2007).
* Alexandre Herculano, Lendas e Narrativas (1851), por ser leitura liceal obrigatória e prematura.
* Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868), pela mesma razão.
* Miguel Torga, Bichos (1940).
* Lídia Jorge, Combateremos a Sombra (2007).
* Inês Pedrosa, Fazes-me Falta (2002), porque nunca me faz falta ler esta autora.
* António Damásio, O Erro de Descartes (1994).

E que haja mais cinco a continuar a cadeia:
Fernando Redondo, Raimundo Narciso, Cristina, Carlos Almeida e Ana Cláudia Vicente.

É a «rentrée» em todo o seu esplendor...


O tempo das grisalhas

Nos Estados Unidos, a causa feminista comprou uma nova batalha – as mulheres devem assumir os cabelos brancos. Grisalhas ao ataque parece ser uma das recentes palavras de ordem das baby boomers que, entretanto, já chegaram à casa dos 50’s.

A Time acaba de publicar um artigo sobre o assunto: The War Over Going Gray.

Se é verdade que as mulheres vão atingindo lugares de topo nas diversas instâncias, públicas ou empresariais, aparentemente continua a ser inaceitável que não tentem parecer eternamente jovens. E, nesse contexto, os cabelos podem ser escuros, encarniçados ou louros – mas nem brancos, nem grisalhos.

A autora do artigo recolhe vários testemunhos. Há quem afirme categoricamente que pintar o cabelo é indispensável para subir na carreira. Uma obstetra explica que as pessoas gostam de médicos com maturidade mas de aspecto convencional; que os seus colegas homens são mais respeitados quando grisalhos, mas que as mulheres ficam com um ar considerado «alternativo».

É verdade que o hábito de pintar cabelos vem da Antiguidade, mas a sua massificação, nos Estados Unidos, data apenas da década de 50 do século XX. Até aí, quem o fazia era considerada «aventureira».

Vai-se instalando agora a tendência inversa, por uma questão de princípio – uma nova forma de afirmação de poder por parte das mulheres. E, neste momento, já se vê muitas mais com o cabelo grisalho ou branco do que há alguns anos.

Sem considerar que se trate de uma questão de primeira importância (ou fracturante...), acho-a pertinente. Por que razão é que metade da humanidade se sente forçada a fingir o que não é (mais nova, neste caso) para competir com a outra metade? Claro que cada um pode – e deve – adoptar o visual com que se sente melhor, tendo em conta os seus próprios gostos e condicionalismos pessoais. Mas para competir com o sexo oposto? Ou para o «conquistar»? Até quando?

Por outro lado, como se vai vivendo cada vez até mais tarde, talvez seja tempo de ganhar algum sentido do ridículo. Cabeças negras, ruivas ou louríssimas em corpos que por cá andam há demasiadas décadas é contra-natura e chega por vezes a ser um pouco obsceno...

Há também homens que pintam o cabelo? Certamente, nomeadamente no mundo do espectáculo. Mas, de um modo geral, troça-se dos outros que o fazem. Se Cavaco ou Sócrates aparecessem amanhã sem cãs seriam abertura de telejornais durante vinte minutos. (Aliás, admira-me que Vítor Constâncio escape ao gozo.)

Quanto a mim, estou na crista da onda: sem ter qualquer conhecimento destas movimentações feministo-americanas, assumi a minha cabeleira totalmente branca há dois ou três meses. E sinto-me bem. Às vezes acerta-se...



2.9.07

Os políticos que compramos


Daniel Sampaio na Púbica de hoje:

«Os nossos dirigentes repetem frases ditadas pelos conselheiros de imagem, onde as emoções são escondidas (...) e as promessas são feitas em estilo sincopado (...).

Os resultados estão à vista: as "qualidades" vendidas como decisivas para o êxito e repetidas até à exaustão para convencer eleitores desprevenidos, acabam por se virar contra os próprios (...).

Na realidade não conhecemos a personalidade dos nossos políticos, nem sabemos bem as suas ideias: mostram o que lhes recomendam, escondem quem são. O problema é que a verdade vem sempre ao de cima (...).»