10.11.07

Pintores do Mundo Moderno

Yue Minjun

Na Time de hoje, excelente vídeo sobre cinco artistas asiáticos.

9.11.07

Berlim, 9 de Novembro de 1989

O fim de um pesadelo.
A festa.

«O povo é sereno!»

Os últimos dias do PREC foram férteis em acontecimentos que uns poderão recordar e outros – os mais novos – tentarão compreender.

No dia 9 de Novembro de 1975, teve lugar (no Terreiro do Paço em Lisboa) uma manifestação de apoio ao VI Governo Provisório presidido por Pinheiro de Azevedo, «o almirante sem medo».

Gás lacrimogéneo e petardos lançados, alegada e respectivamente, pela Polícia Militar e pelo PRP estabeleceram a confusão e estiveram na origem de duas frases que ficaram célebres e que se ouvem no vídeo:

«O povo é sereno!»

«É apenas fumaça!»

«Paciência, paciência. É precisa muita paciência»


... diz Pedro Santana Lopes no seu blogue.

De acordo, Dr. PSL: NÓS precisamos de muita paciência para o vermos e ouvirmos (de novo!) a toda a hora. Não esperávamos que voltasse tão depressa.

Algumas frases do seu post desta noite:
«Quem é protagonista de histórias e depois lê, ou vê, como são "contadas", não pode deixar de se rir. Ou sorrir, com pena de quem lê... (...)
Esta semana, já há mais histórias. Mas vamos com calma. Eles
[os jornalistas] esforçam-se mas os factos são maçadores. Estão sempre a desmenti-los!...
Parece que, ontem à noite, um deles disse que Luís Filipe Menezes e eu estaríamos próximos, politicamente, do PS!!!!!...Então já não é do CDS/PP??? Esta nunca tinha ouvido. É mesmo de espantar. Essa confesso, nunca esperei ouvir. Já não sabem o que dizer, coitados.»

8.11.07

Argentina – Tributo aos desaparecidos


O Presidente da República argentino inaugurou um monumento em honra dos desaparecidos que foram vítimas da ditadura entre 1976 e 1983.

Junto do Rio da Prata, a Norte de Buenos Aires, foi criado um Parque da Memória onde, em 30 000 lápides, figuram os nomes que são conhecidos. Mas julga-se que correspondem a cerca de um terço do total destas vítimas – 90 000 em sete anos, portanto.

São muitas as organizações que se empenham em identificar os que faltam, nomeadamente a Associação das Mães e Avós da Praça de Maio que, com uma persistência impressionante, desfila todas as 5ª feiras na dita praça.

A blogosfera também contribui: há cerca de 9 000 blogues empenhados nesta tarefa.

Ler mais aqui.

7.11.07

«Olhe que não! Olhe que não!» – 7 de Novembro de 1975

Há trinta e dois anos, o país parou durante quatro horas (das 10 da noite às duas da manhã) para assistir a um frente-a-frente entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, no debate mais célebre do PREC - a poucos dias de este chegar ao seu fim.

Ficou para a história uma frase com que Cunhal respondeu a Soares quando este afirmou que o PC dava provas de querer transformar Portugal numa ditadura:
«Olhe que não! Olhe que não!»

Aqui fica um curto vídeo e um texto com alguns excertos do que foi dito (*).




(Clique no texto para o ler.)








(*) Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, Expresso / Público, Lisboa, 2006, pp. 382-383.

Brunir e burilar

AFP
Esta imagem é um ícone. A Europa entretém-se a brunir uniformes.

Também burila tratados.
Compõe orçamentos para alindar as contas.
Discute aos berros questões de lana-caprina.
Dá tostões aos indígenas para fazerem mais filhos.
Disfarça crises com luzes natalícias.

Teima em julgar-se o centro do mundo – que já não é.

6.11.07

Circo, duelo ou o futuro do país?

Imagino Sócrates e Santana Lopes em profunda meditação sobre o debate de logo à tarde.
Ou estarão num qualquer ginásio exercitando os músculos?
Já terão escolhido a gravata?
O que vão comer ao almoço?

Os jornais preparam-nos para o espectáculo:

«A partir das 15h, pode assistir ao duelo entre Sócrates e Santana» (Portugal Diário).
«Sócrates preparou “dossier” anti-Santana» (Diário de Notícias).
«Menezes garante surpresa» (Correio da Manhã).
«Santana Lopes e José Sócrates enfrentam-se em papéis trocados» (Público).
Etc., etc.

Pobre país – o nosso.

Birmânia - não esquecer

5.11.07

Memória na História

Li com o maior interesse o texto Pela História Oral que Manuela Cruzeiro acaba de publicar no Passado/Presente.

Nele se fala, entre muitas outras coisas, da memória, «a mais épica» das faculdades do homem, do fascínio da memória oral, do seu papel especial nos «momentos de crise como as revoluções em que a pura racionalidade abstracta dos conceitos e dos sistemas cede face à invasão de elementos supra ou infra racionais», das características e do estatuto da História Oral.

Historiadora que não sou, entrei destemida e atrevidamente por esse universo quando escrevi Entre as Brumas da Memória. Se é verdade que reuni e estudei centenas de documentos escritos, sem o recurso à oralidade, com dezenas de pessoas, muitas das «histórias» que contei não existiriam ou seriam radicalmente diferentes – e mais erróneas. Escrevi aliás na introdução do livro:
«Em muitos casos, por inexistência de testemunhos escritos, a reconstituição foi feita por simples recurso à memória, pessoal ou colectiva. Com a fascinante experiência do carácter selectivo, porque afectivo, dessa memória: de um mesmo facto, vivido por vários intervenientes, alguns lembram-se de certos episódios e esqueceram totalmente outros. Cada um guardou, sabe se lá onde e porquê, a sua parte das histórias.» (p. 18)

Talvez em parte por isso seja tão sensível ao conceito de História Oral e a tudo o que com ela se relaciona, nomeadamente aos resultados que conheço do trabalho de Manuela Cruzeiro e do Centro de Documentação 25 de Abril.


Manuela Cruzeiro fala da necessidade de debate «sobre o estatuto científico-académico da História Oral», lembrando que «o testemunho constitui a estrutura fundamental da transição entre memória e história».

Tendo a crer que não é um debate pacífico.

No livro que acaba de publicar sobre a PIDE (*), Irene Pimentel diz expressamente (pp. 15-16) que optou «por não utilizar a chamada história oral», entre outros motivos porque «o testemunho oral é “provocado” pelo historiador, que, ao interrogar a testemunha, constrói a sua própria fonte, utilizando-a à maneira de um produtor». Conclui que «quando se trata de estabelecer factos cinquenta anos depois, são os documentos da época que marcam a diferença».

Sinto – pressinto – que é uma discussão que dá pano para mangas. Mas eu não tenho o pano – ficarei pois sem as mangas.

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(*) Irene Flunser Pimentel, A História da PIDE, Círculo de Leitores / Temas e Debates, 2007, 576 p.

4.11.07

«A Desilusão (?) de Deus»

Acabou de sair a tradução desta obra de Richard Dawkins (*), sobre a qual deixo aqui algumas brevíssimas considerações.

Começo pelo título. Traduzir delusion por desilusão parece-me, no mínimo, infeliz e enganador. Os espanhóis chamaram-lhe espejismo (talvez miragem em português), já vi franceses que optaram por délire. Até ilusão seria melhor – ou auto-ilusão como o próprio autor sugere (auto-illusion como alternativa a delusion).

Em dez capítulos, são abordados os argumentos a favor e contra o teísmo, as raízes da religião, as suas relações com a moral (no meu entender nos quatro capítulos mais interessantes), a persistência da religião e a promoção do ateísmo.

Confesso que tenho pouca empatia – para não dizer nenhuma – com obras deste cariz, de um ateísmo militante tão prosélito como o dos seus opositores crentes. Mas reconheço que se trata de um trabalho importante, embora pense que as quatrocentas e muitas páginas de darwinismo puro e duro darão sobretudo argumentos e muita informação a quem já está convencido.

Não creio que consigam converter ao evolucionismo os creacionistas convictos que Dawkins quer ajudar: «espíritos livres [que] não precisam senão de um pouco de incentivo para se libertarem completamente do vício da religião» (p. 19).

Tudo leva a crer que o autor pretende atingir sobretudo o público norte-americano. O que não será fácil, quando é o próprio Dawkins a recordar esta extraordinária declaração de George Bush (pai):
«Não, não acho que os ateus devam ser considerados cidadãos, nem que devam ser considerados patriotas. Esta é uma só nação, sob a protecção de Deus» (p. 70)

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(*) Richard Dawkins, A Desilusão de Deus, Casa das Letras, Lisboa, 2007, 468 p.

A Acção Católica em Portugal (3)

Conforme anunciado aqui, continuo hoje a publicação do texto de Sidónio Paes em Entre os textos da memória.