18.1.08

E se fosse gás sarin?

Manuel Almeida/Lusa

Quando vi o modo como tudo se processou por se ter espalhado, em Lisboa, um forte e estranho cheiro que levou à evacuação de centenas ou milhares de pessoas, pensei imediatamente no extraordinário livro Underground, de Haruki Murakami. Estou certa de que não fui a única.

Em Underground, é descrito o ataque terrorista por meio de gás sarin, no metro de Tóquio, em 1995, através de relatos das vítimas em dezenas de entrevistas conduzidas pelo autor.

Na 4ª feira, em Lisboa, quando ainda ninguém sabia do que se tratava realmente nem dos possíveis efeitos, de onde vinha o cheiro, se tinha havido um acidente ou um acto provocado (chamaram-lhe «possível brincadeira de mau gosto»), reinava uma total irresponsabilidade, com jornalistas e muitas outras pessoas nos locais e com declarações múltiplas de autoridades sobre o carácter inofensivo de algo totalmente desconhecido.

Soube-se, muitas horas depois, que uma empregada deitara para a rua o conteúdo de um frasco partido, porque incomodava dentro da Faculdade (!...). No dia seguinte, o director da dita Faculdade parecia não atribuir grande gravidade ao acto.

Mas que terra é esta, onde não se pode fumar um cigarrito num restaurante e se é atacado desta maneira na rua? Não há nenhuma ASAE para inspeccionar os armazenamentos universitários e a idoneidade dos seus funcionários? A culpa vai, uma vez mais, morrer solteira?

Não era gás sarin, felizmente - é verdade que estas coisas só acontecem aos outros. E não há muita gente que tenha lido Underground.

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