27.2.08

Amanhãs que cantam

... é o título da crónica de Paulo Varela Gomes, no Público (P2), de 27/2:

«A Europa é o sítio mais civil do mundo, mas já saiu fora do tempo e está completamente virada para o seu património histórico e o seu azedume quotidiano. Na Europa não acontece nada de verdadeiramente significativo para o futuro da humanidade. Na Ásia, pelo contrário, numa atmosfera agitada e sangrenta, sente-se em quase tudo o prenúncio daquilo que pode vir a acontecer. Na Ásia, quase não se ouvem as lamentações sobre o mal-estar presente. São abafadas pelo ensurdecedor barulho dos amanhãs que cantam, choram e gemem.»

E na América do Sul também. E até em África.

Basta pôr um pé fora da Europa para que isto se torne uma evidência - que primeiro se estranha, mas rapidamente se entranha.

Passo a vida a escrevê-lo e a dizê-lo, mas esbarro quase sempre com profissões de fé e de esperança europeístas. Como queiram - será sempre o que deus quiser...

5 comments:

Anónimo disse...

Eu penso que a nossa Civilização Ocidental, e o seu domínio no mundo, tem os dias contados. Hoje, o poderio do Ocidente baseia-se somente na tecnologia militar de ponta que domina. Economicamente, os centros de decisão estão de malas feitas para a Ásia. O crescimento exponencial, a todos os níveis, das grandes metrópoles do Oriente, como Xangai ou Singapura, mostram claramente essa deslocalização. Não tenho qualquer dúvida que uma nova Civilização nascerá na China nas próximas décadas, sepultando literalmente a Ocidental. A História é isso que nos ensina. No contexto da História, a actual Europa faz-me lembrar a antiga Cartago. Agora, oxalá que a própria História sobreviva ao futuro que se avizinha.

Ana Cristina Leonardo disse...

sobre previsões, pessimistas, optimistas ou assim assim, "consolo-me" sempre com Bergson: «O tempo é invenção ou não é nada»

João do Lodeiro disse...

Ah, cara Ana, tanta gente se "consola" com Bergson. Com o seu ataque ao materialismo mecanicista, via vitalismo, na boa tradição de Schopenahauer, permitiu-nos acalentar a esperança nas nossas iniciativas e nos nossos esforços na roda da vida humana. Ele diz-me que eu também posso escrever a minha parte no drama sem fim da criação, mesmo que o tempo não exista.

F. Penim Redondo disse...

Também neste ponto, para variar (ah, ah, ah), temos opiniões bastante parecidas.
Estava a terminar o meu texto do DOTeCOMe quando descobri que também tinhas citado o Paulo Varela Gomes.
Gosto especialmente da frase "virada para o seu património histórico e o seu azedume quotidiano".

Joana Lopes disse...

Exactamente. Tal como eu, Fernando, deves ter tido o tal choque pensando em Portugal... visto de Pequim.