6.2.08

Os nossos justiceiros

















Parece não restar pedra sobre pedra na Justiça em Portugal. Estamos a ser espectadores, mais ou menos atónitos, de um teatro burlesco. Só que o que está em causa é demasiado grave para ter alguma graça.

Depois de revindicações de magistrados, de querelas entre bastonários, de demissões e de substituições, eis que, do alto da independência dos seus poderes, os responsáveis máximos da advocacia e da polícia judiciária vêm a público fazer afirmações gravíssimas. Um diz que o rei vai nu, mas com o peso que a nova função lhe confere e a truculência do seu ADN, o outro sussurra uma enormidade com uma inenarrável pose melíflua.

Os jornalistas esfregam as mãos de contentes, os comentadores também. Na SIC N, José Miguel Júdice acaba de ajudar à festa, comparando Marinho Pinto a Chávez e a Mussolini (se não me engano) e anunciando-o como candidato populista da esquerda nas próximas presidenciais.

O que falta ainda? Há muito que não temos notícias do PGR – deve estar para breve uma qualquer declaração sua, tão bombástica como as dos seus pares.

Entretanto, parece que o mais importante é saber se os actores fizeram bem em falar ou se deveriam ter ficado calados, se um diz ou não nomes, se o outro mancha o bom-nome de Portugal além fronteiras – é o mais se discute. Passa para segundo plano a evidência de que um sector, que já teve fama de credibilidade e de solidez, se encontra agora profundamente degradado, mesmo ao mais alto nível.

Não se percebe qual é o papel do ministro da Justiça no meio disto tudo, se é que tem algum. Lá está, ao abrigo das tempestades, tristonho e calado. À espera de ser substituído por José António Pinto Ribeiro, a acreditar nos boatos que correm nas hostes socialistas. Sem manifestações nas ruas, porque nesta guerra não entram ambulâncias, aulas de substituição ou diminuição do poder de compra.

Enfim, espero não precisar tão cedo de advogados, não tenciono apresentar qualquer queixa à Procuradoria e não estou a ver por que razão a PJ se ocuparia de mim. Oxalá assim seja – porque este mundo está perigoso.

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