9.4.08

José Cardoso Pires

















Hoje foi dia de festa e de homenagem a José Cardoso Pires, a propósito da entrega do seu espólio à Biblioteca Nacional e do lançamento de Lavagante.

Tive a sorte (não me apetece dizer privilégio) de o conhecer. Poderia contar aqui como, pelo mais puro dos acasos, almoçámos juntos, perto do Largo do Carmo, no dia 25 de Abril de 1974; o susto que apanhávamos quando ele (que nunca se entendeu bem com automóveis) saía desta casa guiando o carro a 20 km à hora. E muitas outras histórias.

Mas deixo só um apontamento sobre um episódio passado há décadas. Na mais total das inconsciências, eu julgava então que, para um escritor como JCP, a prosa fluía espontaneamente, «ao correr da pena» no sentido estrito da expressão. Daí a minha perplexidade quando, no andar da Costa da Caparica onde se refugiava, ele ia escrevinhando coisas, aparentemente mais do que banais, que íamos dizendo numa conversa a três. Mostrou-me então longas tiras de papel onde punha palavras, pequenas frases e trocadilhos para mais tarde utilizar. Disse-me também que uma das maiores preocupações, nas sucessivas revisões que fazia dos seus textos, era tirar adjectivos. Mal eu sabia quanto esta conversa, que nunca esqueci, viria a ser-me útil muitos anos depois.

Não sei se estas vivências tiveram ou não uma influência decisiva para que JCP seja, desde há muito, o meu autor português preferido. Mas sei, sim, que me dava muito jeito que ele ainda estivesse por cá.

1 comments:

Anónimo disse...

José Cardoso Pires era grande!