30.5.08

A esquerda unida? (2)


















Pedem-me que explicite a minha posição depois do anúncio um tanto ambíguo que fiz da festa-comício, anunciada por vários movimentos de esquerda para o próximo dia 3 de Junho.

Não me move qualquer esperança salvífica quanto à eficácia de frentismos deste tipo. «Todos ao molho e fé em Deus» não leva geralmente a nada de útil. Por outro lado, mesmo que os organizadores declarem cem vezes que não têm nenhuma outra intenção que não seja festejar Abril e Maio, não dá para acreditar que assim seja. Tudo leva a crer que se trata de um ensaio para 2009 (e não vem daí nenhum mal ao mundo), mas de um ensaio inexplicavelmente medroso: não o fosse e teria sido reservada uma sala com capacidade bem maior do que a do Trindade.

Dito isto, vejo algumas virtualidades no momento e na fórmula que foram escolhidos para uma afirmação pública de protesto e, sobretudo, julgo que ela cola bem ao ADN de uma certa vivência de esquerda – que em tempos foi apelidada de «festiva» –, que todas estas forças têm como denominador comum. Digo-o sem qualquer carga negativa, até porque, apesar de todas as minhas reticências, é com algumas delas que tenho actualmente as únicas afinidades e solidariedades possíveis, em termos públicos e colectivos.

Resumindo: nunca subscreveria o documento associado à iniciativa, mas estou a pensar ir ao Trindade.

Com outros compagnons de route, mais próximos, tão utópicos como eu, e portanto também tão permanentemente insatisfeitos, terei sempre uma cumplicidade maior – mesmo que reduzida a encontros de amigos e, também e cada vez mais, a certas paragens na blogosfera. O que já é excelente.

5 comments:

Fresquinha disse...

Envio-lhe um "link" do site recentemente criado sobre os crimes do comunismo. Este site foi criado pelo antigo Primeiro Ministro da Estonia.

http://www.communistcrimes.org/

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Cara Joana

Escrever depois de alguém que me remete para um site criado pelo antigo primeiro-ministro da Estónia sobre os crimes do comunismo, é um bocado ingrato. Porque essa “Fresquinha” esquece que os mais velhos, como eu, passámos os melhores anos da nossa vida a levar diariamente com a descrição que os jornais do regime salazarista, para não lhe chamar fascista, faziam do que era o comunismo. E para os muito velhos, os que viveram a Guerra Civil de Espanha, há muito que estavam informados pelos fascistas de Franco, por exemplo, pelo general Queipo de Llano, na “Unión Radio Sevilla” o que eram os crimes do comunismo. Portanto não será agora um Ministro da Estónia que nos irá elucidar sobre os crimes do comunismo. Mas se esta Fresquinha quiser discutir a sério os crimes do comunismo, neste caso do estalinismo, basta começar por ler o relatório de Nikita Khrushchov, ao XX Congresso do PCUS, de 1956, ou então o que disse Trotsky, nos anos trinta, sobre o mesmo tema.
Eu sei que isto vem a despropósito, mas como estes comentários não são nada inocentes, penso que é indispensável esclarecer os intervenientes que não nos apanham por papalvos.
Mas voltando ao seu texto eu diria, um pouco mais convictamente, que esta iniciativa estando longe de representar ainda qualquer coisa de palpável, é um passo para um diálogo à esquerda. E, correndo o risco de me repetir, pois já escrevi isto para http://dotecome.blogspot.com, acho que a esquerda em Portugal – não incluo o PS de Sócrates, evidentemente – precisa de um projecto aglutinador, que tente reunir as diversas sensibilidades, que ultrapasse estes bloqueamentos em que se tem vindo progressivamente a enredar. Sei que com o PCP é difícil estabelecer pontes, mas perante a força dos factos – Jerónimo de Sousa, em algumas declarações, já deixou antever uma réstia de esperança – é possível que se consiga também a sua participação.
Hoje, na Europa, só com novas organizações de esquerda, unitárias e com projectos agregadores, é possível deter e superar a ofensiva neo-liberal e vencer a crise que se abate sobre as conquistas sociais dos trabalhadores. Penso que é nesse caminho que vai o Partido da Esquerda Europeia. Sei no entanto que a experiência italiana foi traumática, mas temos na Alemanha um novo partido – Die Linke: Partido da Esquerda – que resultou da união entre os sociais-democratas de esquerda e dos comunistas, que está de boa saúde.
Ou seja, recorrendo ao optimismo histórico que sempre caracterizou o movimento operário e socialista, acredito que tendo por base uma plataforma comum é possível tentar criar caminhos da unidade, que favoreçam um projecto ganhador. Pelo menos essa é a minha esperança.

Joana Lopes disse...

À «fresquinh», agradeço a informação e prometo explorar o site.

Ao Jorge,e referindo-me à segunda parte do comentário, apetece-me dizer «Good luck».
Admira-me a esperança de que seja possível o PC alinhar no que quer que seja deste tipo. Ler o Avante, mesmo em diagonal, é um exercício tenebroso!

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Olhe que eu leio-o todas as semanas e de facto reconheço que é um bocado difícil de deglutir. Mas são ossos de quem quer estar bem informado.
Quanto ao PCP estou-me a reportar e a um discurso do Jerónimo, penso que feito nos Açores, em que essa possibilidade era referida. Há uma coisa que o PCP não quer que lhe aconteça, é de repente ter um partido, à esquerda, mais forte do que ele. Por enquanto pode-se entrincheirar e dizer que é o único que defende os trabalhadores em Portugal, mas se a situação se inverter e começar a sentir o isolamento da sua trincheira pode muito bem inverter as posições. Por isso o reforço de uma esquerda plural e alternativa à situação vigente pode também contribuir para que alguma coisa mude no PCP.
Quanto à minha resposta à Fresquinha, sei que foi dada num blog de que eu não sou o gestor. No entanto, nestas zonas de comentários, é relativamente normal os comentaristas atacarem-se uns aos outros, por isso não resisti a dar a minha facadazinha.

Joana Lopes disse...

Deus o oiça...
Aquilo que continua a acontecer, sistematicamente, é que o PC só entra ou só permanece naquilo que consegue dominar. Custa-me muito a crer que esta situação se altere, pelo menos a curto prazo, mesmo que, por razões tácticas, venha a querer fazê-lo. A ver...

Quanto ao comentário sobre o «link», pois com certeza: se a discussão não é livre aqui, onde é que poderá sê-lo?

Abraço (já gaora, outro para a Ana).