18.8.08

Triste Segredo

The Secret foi publicado em 2006, já deu filme e DVD e parece que Oprah contribuiu muito para o seu sucesso (confesso que pouco conheço do programa da dita senhora porque a sua imagem deve provocar um zapping automático no comando da minha TV).

Vi o livro durante meses em tudo o que é escaparate aquém e além fronteiras, de Cacilhas ao Alasca. Dizem-me que já terão sido vendidos doze milhões de exemplares (até acho pouco), 400.000 só em Portugal.

Fiquei mais intrigada ao saber que dois amigos (vá lá, concedo que foram amigas), com lastro cultural e intelectual suficientes para terem juízo, o ofereceram a filhas trintonas em males de amores e de empregos precários. Uma delas manifestou recentemente uma forte indignação acusando-me de pretensiosismo e pseudo-intectualismo pedante por estar a atacar o que desconhecia – o que era totalmente verdade.

Assim sendo, depois de olhar em volta ainda com alguns resquícios de clandestinidades, entalei-o entre duas lombadas dignas e paguei-o, meia envergonhada, numa caixa da FNAC. Nesta casa onde nunca entrou nenhum livro de Margarida Rebelo Pinto, O Segredo tem agora o seu lugar.

Li a introdução, as primeiras trinta páginas, saltei outras tantas, li mais dez e assim por diante, mais ou menos aleatoriamente. Perfeito: nenhuma dificuldade, nenhum malentendido, nenhuma incoerência na prosa explicada por vinte e quatro «professores».

Quem manda é a Lei da Atracção, «que é absoluta e onde não existem erros», e segunda a qual os pensamentos se tornam realidade: os positivos atraem os positivos, as dúvidas multiplicam dúvidas, etc.

Logo a abrir, é-me dito que posso ser, ter ou fazer tudo aquilo que desejo. A única razão pela qual posso não obter o que quero é pensar mais naquilo que não quero.

Aconselham-me para terminar: «Seja feliz agora. Sinta-se bem agora. É a única coisa que precisa de fazer». Prometo que vou tentar.

Não vale a pena citar mais nada. Penso que se trata apenas de mais um dos chamados livros de auto-ajuda. Não dá para rir nem para fazer humor, não só porque causa um aborrecimento mortal, como porque transpira fatalismo e tristeza quando pretende exactamente o contrário.

Mas porquê tanto sucesso quando é tão, mas mesmo tão mau? Só por causa de Oprah? Por falta de ideologias? Sucedâneo das mesmas? Substituto de fés e de esperanças religiosas? De tudo um pouco? Que mundo é este em que vivemos?

Volto a pensar nas minhas amigas que esperam que O Segredo lhes mude as filhas. Algo na história das nossas vidas, que até podem parecer semelhantes, nos separou radicalmente. Não sei quando e nunca saberei porquê.

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