23.4.09

Fiquem a brincar com os mortos
















Alguns santacombadenses vão festejar um conterrâneo no próximo Sábado. Um deles pede que o país «aprenda a viver com o passado, como nós fizemos com a ajuda da democracia».
É todo um tratado sobre memória histórica – ou sobre a sua negação – que esta frase contém. Aprender a viver com o passado é levá-lo a sério e colocá-lo no seu devido lugar, não é disfarçá-lo com festas popularuchas. Estivesse prevista para Sábado a inauguração de um «Museu Salazar», em Santa Comba Dão, sério, pedagógico, que servisse precisamente para se conhecer o passado «com a ajuda da democracia» e isso, sim, colocaria a terra no mapa e seria uma excelente maneira de festejar os trinta e cinco anos de liberdade. Com fanfarras e porco no espeto, até se arriscam a que o fantasma do velho por lá apareça a fustigá-los.

7 comments:

F. Penim Redondo disse...

visto com ironia pode até dizer-se que é uma violência obrigar o Botas a festejar o 25 de Abril.

Joana Lopes disse...

Exacto, acho mesmo uma falta de respeito!

Luís Bonifácio disse...

Acho que foi para estas coisas que se fez o 25 de Abril.

No regime do dito é que era proibido inaugurar um largo Dias Coelho, ou Bento Gonçalves. Se o tentassem fazer, escusavam de organizar um Porco no Espeto, a PIDE e a GNR encarregavam-se de distribuir "Bolachas" pelos presentes e ainda por cima realizaria um "sorteio" de férias "all included" em Cabo Verde, que saíria a todos.

Jorge Conceição disse...

Também acho que já se deu excessiva publicidade a este acto, sobretudo pelo Twitter. Muito mais que o realce dado à promoção a general do cow-boy jaiminho por mãos do governo pê-esse, também a dias do 25 de Abril.

(Com o apoio das minúsculas, imitando o cavaco e o fim dos Cravos...)

José de Sousa disse...

Eu tenho uma vizinha que, quando petiz, morou perto de Salazar, e isso ou na própria rua Bernardo Lima ou muito ali ao pé. Foi colega de escola da Micas e conhecida e reconhecida por Salazar. Enfim, era quase uma visita da sua casa.
Um dia, suponho que pelo Natal, foi dito à miúda para ir lá a casa. Salazar aparece- lhe, fala em prenda e estende-lhe um embrulho. Aberto o embrulho, a criança viu estar ali um pedaço de flanela, coisa pouca para o que ela esperava, e, sem querer, teve um trejeito de rejeição.
Salazar apercebeu-se, claro, e disse-lhe então qualquer coisa como isto: querias fazenda, pois tens de estudar muito, de trabalhar e de te esforçares para, mais tarde, comprares tu o teu corte de fazenda e fazeres então um casaco.
Pois Santa Comba Dão já tem a sua fazenda! E Salazar não deixaria de tentar saber como foi isso. Estudou, trabalhou, esforçou-se. Vamos lá a ver e a continhas. E o quê! Vão dar
“um lanche aberto a toda a população e em que serão servidos vários porcos no espeto, assados no largo”
sem pagarem coisa nenhuma!
Não, não, com o que têm, não poderão ir além dum corte de flanela! E mesmo esse...

Anónimo disse...

Em Lisboa, no Bairro dos Olivais, continua a existir a Praça Cidade de Salazar. Ao longo destes 35 anos, os moradores têm feito pedidos à autarquia para alterar tal toponímia, mas nunca receberam resposta. Ou seja: a Câmara Municipal de Lisboa, com executivos de Esquerda ou de Direita, tem permitido que permaneça uma "homenagem" semelhante à que agora é tão criticada.
Só para aumentar o ridículo, a Cidade de Salazar, nome dado a uma vila de Angola, só teve, obviamente, esse nome por poucos anos, até 1974. E nunca foi nome que se tivesse vulgarizado junto da população.
Mas o que importa aqui é que o executivo socialista de Lisboa permite uma situação que é igual à que o de Santa Comba, PSD/CDS, está a criar. Eu chamo-lhe hipocrisia.

septuagenário disse...

Dizia uma jovem nnuma entrevista:

Um homem que fez uma ponte tão bonita e tão boa, com um nome tão bonito, tem que ser um bom homem!