18.7.09

Strawberry fields forever












Estou desde há alguns dias numa casa que já foi minha e que é hoje morada habitual da geração que se segue. Da banda do Tejo onde o engº Lino via camelos e não queria aeroportos, tem a grande vantagem de estar no campo, muito perto da praia (é bom saber-se que ela existe, mesmo evitando-a) e não longe de Lisboa. Semi-férias, portanto, sossegadíssimas, apenas com um dos moradores permanentes – um silencioso cão.

Uma coisa é visitar regularmente uma casa de muitas dezenas de fins-de-semana e meses, ao longo de décadas, outra bem diferente é voltar a habitá-la. Não por qualquer assomo de nostalgia, mas porque se descobrem a toda a hora objectos que por cá foram ficando e que tinham deixado de existir. Abrir um armário e pegar na chávena de Sacavém (cavalinho azul…) por onde se beberam centenas de bicas, encontrar um prato trazido de Estocolmo há mais de trinta anos, o último de uma dúzia de copos comprada na feira anual da terra ou um pífaro do Mistério que recorda o velho Mercado da Primavera, são gestos agradáveis que deixam de ser puramente banais.

O problema é que há também o reverso da medalha: a enorme frustração de olhar para uma meia dúzia de discos vinil, rigorosamente alinhados onde sempre estiveram, mas hoje condenados à mudez, já que, no lugar anteriormente pelo objecto que lhes dava som, estão hoje - imagine-se!... - altifalantes de um iPod… Essas coisas não deviam acontecer. Queria mesmo ouvir agora «este» velhíssimo disco dos Beatles…

3 comments:

Prosas vadias disse...

Ainda os vendem, aos gira-discos, embora hoje transformados em objecto de culto se cultivem os preços exorbitantes para estas peças cada vez mais raras. Fi-lo e não me arrependi. Na garagem ainda mora o velho "Pionier", meu primeiro, e que me acompanhou anos. Já não trabalha devido aos "progressos do atraso" a que vulgarmente os entendidos se referem como "já não se fabricam peças" para o meu "mono". Bom Verão do

Anónimo disse...

A nostalgia é um planeta estranho, Joana. Às vezes aterramos nele com um misto de fascínio e de incompreensão.

Pedro Correia

Joana Lopes disse...

Exactamente, Pedro. Por vezes, toma um peso estranho.