31.10.09

A Net da sucata

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De vez quando, este blogue passará a publicar textos de «convidados», sem qualquer compromisso de regularidade. Este é o primeiro - outros virão.

A pós-modernidade não pára de nos surpreender! Há, porém uma pós-modernidade nossa, portuguesa, que adivinho escondida na sigla que em breve teremos retirada de um mandato judicial. Surgirá oficializada, embora já actuante no terreno. Trata-se da RTI, “rede tentacular integrada”. Não, não pense o leitor que é coisa italiana (de facto podia ser Rádio Televisão Italiana ou qualquer negócio berlusconiano!). Trata-se de uma rede de sucateiros. Não têm facebook. Preferem o occultface e afirmam-se defensores da democracia, do diálogo e implementaram um sistema cultural de novas oportunidades onde o mais importante é testar a honestidade dos outros. Usam linguagem própria que combina o moderno nas suas sofisticadas formulações, com a banalização de textos da nossa cultura, como a Arte de Furtar. A carga pejorativa que encerra, por exemplo, essa mais que vulgar expressão “Chico esperto”, suprime-se para recuperar linguagem usada quando Portugal era gente – nos Descobrimentos! – e passa-se a assumir o nik de Soldado Prático como password para entrar na rede. Carloading significa pagamento em carros, REN é apenas Rede de Empreendedorismo Nacional... Aboliram-se de vez noções como a de padrinho, omertà, etc, etc, de conotações historicamente tão localizadas; nada como a linguagem portuguesa, remetendo para a nossa cultura, para a nossa paisagem: “descarrega à vara larga” significa que se pode descarregar mais do que a Zon permite nos seus anúncios publicitários; a rede que pode receber bugs na circulação de informação, tem agora a fé que pode (como se sabe) remover montanhas ou penedos garantindo que a transversalidade das pressões é um legado de valores que estrutura as novas dinastias. Estamos, pois, na presença de uma nova linguagem que ultrapassa a leituras literalistas. Mesmo Godinho, não é um nome; é uma referência: deusinho (God+inho). Mas nada de pânico: o novo sistema já está a ser investigado. Prevêem-se dificuldades em chegar à sucata cultural, ética e moral dos parvenues cujo rosto se conhece mas que, também se sabe, estão fortemente armados e entrincheirados na área do poder.

José Oliveira Barata

2 comments:

Arménio disse...

O que voz faz falar é a inveja, como diria o José Gil ou o carago.

Teresa Silva disse...

Esta é o máximo: devia ser o título do post.

«Mesmo Godinho, não é um nome; é uma referência: deusinho (God+inho).»