30.12.09

Com um grão de nostalgia




















Não sou grande admiradora das prosas de Baptista Bastos, mas a crónica que hoje publica no DN, em jeito de balanço, tocou-me fundo.

«Fecho o ano, remato a frase e concluo: esta gente não gosta da gente. No entanto, construímos as casas deles, montamos-lhes as electricidades, as águas correntes, limpamos as suas sujidades, areamos os seus metais, brunimos as suas roupas, ensinamos os seus filhos, escrevemos os jornais e os livros que deviam ler. Esta gente dirige os nossos destinos, orienta os nossos dias, determina os nossos ordenados, impõe o nosso comportamento, comanda o nosso presente, molda o nosso futuro. (…)

Nenhum de nós é inocente. Pertencemos ao bragal de uma civilização que cumpriu a vocação do conquistador: matou, estropiou, escravizou, mas fez do mato a cama onde dormiu com as mulheres que alimentavam as fantasias dos nossos sonhos. Uma combinação perfeita de poesia e maldade. (…)

Tudo parece perdido porque tudo parece inamovível. Contudo, ante esta empresa de demolição moral e de domínio absoluto, é preciso resistir. É preciso compreender que nós somos imprescindíveis. Examinamo-los: são sombrios e tristes, desamparados de gramática e arrogantes na sua obstinada maneira de manter um socialismo ou uma social-democracia degenerados e de má-fé. Sumiu-se, nesta aflitiva e aflita mediocridade, a qualidade áurea de um projecto que nos inspirou.»

1 comments:

septuagenário disse...

BB, faz parte dos portugueses, lisboetas, que nos retratos ficam sempre com a mesma imagem: de mãos nos bolsos e cigarro no canto boca.

E mesmo sem voz canta o fado.

E, como é sempre o mesmo, o que hoje escreveu, já o pensava há 40 anos, só não publicaria por causa da censura.

Por isso tudo, não me toca.

Mas leio-o, porque sou saudosista!