7.2.09

«A pé ó vítimas da fome»?






















Recebo este panfleto por mail, oiço no Youtube, leio na página oficial que «O hino do PS é a “Internacional”, com letra em português e na versão aprovada pelo Partido.» (Estatutos, art. 2)

Ainda é verdade, portanto! Mas faz algum sentido? Não foi para a gaveta? Ainda se canta?

(Gosto sobretudo daquela parte: «Nunca mais no campo de batalha, Irmãos se voltem contra irmãos».)


Bispo negacionista não pede desculpa

***

P.S. - Aqui, excertos da entrevista que Richard Williamson deu a uma estação de televisão sueca e que esteve na origem da recente polémica.

6.2.09

Então isto não é fundamentalismo?

Bach to Africa

É de Hughes de Courson, o Paulo Pinto enviou-me o mp3 para ilustrar um post num outro blogue, mas fica também aqui.






Malhar com prazer

Cada governo tem o António Ferro que merece.

«Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique.» (A. Santos Silva)

A (des)propósito e directamente da fonte: Edmundo Pedro será entrevistado na SIC N, 4ª f, 11/2, às 22:30.

5.2.09

«Passa Palavra»












Novo site que tem um duplo objectivo:
«1) Divulgar as lutas sociais que ocorrem em todo o mundo, mas nomeadamente em Portugal e no Brasil, e tanto quanto possível mobilizar solidariedades para com os que lutam.
2) Servir de quadro a uma reflexão e a um debate teórico.»

Conhecido através de um dos colaboradores: João Bernardo.

Em terras de Chiang Kai-shek











Leio que os finalistas de uma universidade de Chongqing são agora obrigados a fazer um estágio de seis meses, como professores, em regiões montanhosas e com condições de vida complicadas. Impossível não pensar na «reeducação no campo» da velha Revolução Cultural e os estudantes atingidos referem-no e protestam: «Somos de uma época diferente. Não aceitamos ser manipulados como corpos sem alma.»

Um livro publicado pela Academia das ciências sociais, já não vermelho mas agora azul, dá conta de que, em 2009, haverá mais seis milhões de licenciados no desemprego. As razões para as decisões serão portanto outras, mas terá ficado a marca indelével das obrigatoriedades.

Um aparte: passei umas horas em Chongqing, capital da China em tempos de Chiang Kai-shek. Não me lembro de alguma vez ter guardado piores recordações de uma cidade: caótica, feiíssima, com uma poluição devastadora. Ser mandado para o campo talvez seja, neste caso, uma bênção dos céus...

(Fonte)

O triângulo

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então, que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser Moralidade
Como aliás, em qualquer Sociedade.


(Millôr Fernandes)

4.2.09

4 de Fevereiro de 1961 - O dia em que Angola começou a deixar de ser «nossa»







Início da luta armada em Angola – Revolta em Luanda, com ataque à Casa de Reclusão, ao quartel da PSP e à Emissora Nacional.

Previsto para hoje o lançamento oficial do novo site sobre a Guerra Colonial.

Há quem considere a VIP uma revista de referência?














Vi por aí alguns bloggers um tanto excitados com as «defesas» prometidas por Fernanda Câncio, na última capa da VIP.

Pena foi que não verificassem que, nas duas páginas que se ocupam do tema, não há qualquer declaração da visada (parece óbvio que nem com ela falaram), mas sim largos excertos de um texto seu, publicado no DN de 30 de Janeiro e republicado no Jugular, bem como cópias de comentários deixados nesse blogue.

Bastava terem folheado – a VIP está bem à vista, numa banca de jornais perto de «vozes»...

Sem IVA

(Clicar na imagem para ler)

3.2.09

Os «Autobuses» – ainda

O presidente da Conferência Episcopal espanhola não faz o caso por menos: pede às autoridades uma protecção especial para as convicções dos crentes porque considera que a campanha não só fere o sentimento religioso de quem apanha o autocarro e constitui um abuso do exercício da liberdade religiosa (o que será então um «uso»?...), como pretende «arrancar a fé do coração dos homens» (arrancar?...).

(Fonte)

Temos de ser bons em qualquer coisa...

2.2.09

Quando a crise se vive com muitos zeros











Apesar do desemprego, do encerramento de fábricas, de tudo o que vemos e lemos, ainda não realizamos, não acreditamos ou preferimos não acreditar no que, inevitavelmente, acabará por cá chegar. Arrumados a um canto, relativamente longe dos epicentros das grandes decisões, assistimos mais ou menos incredulamente aos grandes dramas, americanos ou islandeses, e refugiamo-nos em acontecimentos que consideramos épicos e que mais não são do que episódios de telenovelas caseiras.

Talvez valha a pena olharmos para a realidade de fora para dentro, vista dos grandes espaços e medida com grandes números.

Ao falar-se do impacto da desaceleração da economia na China, dizia-se há dez dias que cerca de seis milhões de chineses, migrantes dentro no seu próprio país, regressavam ao campo de onde tinham saído em busca de emprego, porque não tinham afinal conseguido encontrá-lo nas grandes cidades ou por terem sido despedidos dos locais onde até agora trabalhavam. Hoje, esse número subiu para vinte milhões – e vinte milhões são dois Portugais! Dizer-se que é um número irrisório quando comparado com a população total do país não diminui em nada o drama, porque cada chinês é uma pessoa que regressa ao campo onde não tem condições dignas de subsistência. (Só comparável ao velho argumento de achar normal que seja na China que há mais vítimas da pena de morte porque existem muitos chineses...)

Enquanto escrevo isto, à minha frente, numa televisão sem som, pessoas importantes discutem o que fez um tio, uns ingleses e uns procuradores. Relevante? Certamente. Mas quase me apetece dizer que se divirtam e que aproveitem enquanto é tempo, porque o recreio já não deve durar assim tanto.

Ter «falado» ou não na PIDE












Nos Caminhos da Memória, começou agora o verdadeiro debate.
Acaba também de ser anunciado que foi posto online um texto de Irene Pimentel: «A Tortura»

1.2.09

Plenitude?


ADENDA (*)

O Público traz hoje como bónus um exemplar da revista Plenitude. Ignorante me confesso até hoje da sua existência, mas vejo que não poupa nem na qualidade do papel nem na variedade dos temas que vão de Ganghi a Brad Pitt, passando por Obama, Sá Fernandes, Gaza e muitos outros – e pela crise, evidentemente. Na capa, um garbosíssimo Pedro Passos Coelho.

Não cheguei a ir buscar uma lupa para ler os nomes de editores, redactores e colaboradores, mas, com algum esforço, o que vi chegou para perceber que não os reconhecia. Por aqui me ficaria se não tivesse lido o Editorial. Intitulado «Certezas», deixou-me verdadeiramente curiosa e perplexa:

«A Plenitude começa o novo ano em viragem plena de propósitos. O frio de Janeiro não congela a vontade e a novidade de Fevereiro não espanta o aprumo. O nosso rumo, iluminado pelas estrelas que se cravaram no olhar, estende-se sedutor aos nossos pés em lençol branco de certezas e de confiança renovada.»

Quando for grande, também quero pensar e escrever assim.

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(*) Informação adicional importante (resultado de contributo de vários twitters): Site da revista que é anunciada aqui.
Distribuída agora gratuitamente, uma vez por mês, por um jornal de referência.

Ler também isto e isto.

Cinco razões para optimismo

Se Obama fosse papa










Hans Küng, teólogo suíço actualmente com 80 anos, consultor do Concílio Vaticano II que viveu com o maior dos entusiasmos, foi tendo cada vez mais conflitos com o Vaticano a partir do fim da década de 60. Por ter posto em causa a infalibilidade do papa, foi proibido de ensinar teologia.

Esteve em Portugal em 1967, onde fez duas conferências, uma em Lisboa e outra no Porto, organizadas por uma revista ligada à Editora Moraes. Não me lembro do que disse, mas sim do sucesso do acontecimento: segundo relato da PIDE, destacada para o evento, que vim a encontrar muito mais tarde na Torre do Tombo, teriam participado 1.200 pessoas em Lisboa e 600 no Porto - o que é um número absolutamente excepcional, para a época e para as circunstâncias.

Acontece que hoje reencontrei H. Kung, num artigo intitulado «Se Obama fosse papa», que merece ser lido (*). Nada «meigo», diria mesmo que muito violento nas críticas que faz a Bento XVI: compara-o insistentemente a Bush e critica-o severamente pela recente reabilitação de quatro bispos «arquireaccionários», entre os quais um que põe em causa o Holocausto. «Enquanto o Presidente Obama, com o apoio do mundo inteiro, olha para a frente e está aberto às pessoas e ao futuro, este Papa encaminha-se o mais para trás possível, inspirado por um ideal de igreja medieval, céptico sobre a Reforma, ambígua sobre os direitos modernos de liberdade.»

E, no entanto, diz Hans Küng: «O Papa teria um trabalho mais fácil do que o Presidente dos Estados Unidos ao adoptar uma mudança de rumo. Não tem ao seu lado nenhum Congresso como corpo legislativo, nem um Supremo Tribunal como magistratura. É chefe absoluto do Governo, legislador e juiz supremo na Igreja. Se quisesse, poderia autorizar imediatamente a contracepção, permitir o casamento dos padres, tornar possível a ordenação de mulheres e permitir a eucaristia partilhada com as Igrejas Protestantes.»

Mas porque não acredita que Ratzinger alguma vez venha a ser um Obama, termina com um apelo a bispos, teólogos, párocos e mulheres para que unam os esforços necessários e que digam, eles também: «Yes, we can!».

É um belo texto de um homem que se mantém, há décadas, na primeira linha de lutas, por vezes duríssimas, mas que são as suas e de que nunca quis desistir.

(*) Cheguei ao texto através da MC.