1.1.10

A mulher e a costela



















Não estava nos meus planos iniciar 2010 a falar de Bento16, mas terá de ser. Há dois dias, na última audiência geral do ano, o papa decidiu analisar o pensamento de Pedro Lombardo, um filósofo italiano do século XII.

Entre muitas outras considerações, diz o papa: «E Pedro pergunta por que motivo a criação da mulher se deu a partir da costela de Adão e não da cabeça ou dos pés. E explica: “Vinha formada não como dominadora ou escrava do homem mas como companheira”». E continua a citar Lombardo quando este afirma que «assim como a mulher foi formada a partir da costela de Adão enquanto este dormia, assim a Igreja nasceu dos sacramentos que começaram a escorrer do flanco de Cristo que dormia na cruz ou seja do sangue e da água que nos libertam do sofrimento e nos purificam da culpa».

Que Bento16 tenha querido recordar esta espécie de história da carocinha numa versão de há nove séculos, em termos em que parece tomá-la à letra, já é no mínimo obscurantista da parte de um «intelectual» que sabe, como toda a gente, que isso não faz sentido. Mas quando conclui que o que acabou de citar «são reflexões profundas e válidas ainda hoje quando a teologia e a espiritualidade de matrimónio cristão aprofundaram muito a analogia com a relação conjugal entre Cristo e a sua Igreja» pretende dizer exactamente o quê? «Reflexões profundas e válidas»? Ou andará ele obcecado com relações conjugais (homens com mulheres, homens com homens e aí por diante)? Mas talvez não venha esclarecer grande coisa ao falar agora de costeletas e de cruzes.

P.S. - Já antevejo que alguns guardiões do templo venham dizer-me que o papa falava para os católicos e que os incréus não são para aqui chamados. Certo, mas as agências noticiosas do mundo inteiro difundiram a notícia e aguçaram-me o apetite. Em todo o caso, desta vez resolvi ir à fonte – ler para crer. E deixo aqui não só o link para o documento no Osservatore Romano, porque ele é longo, mas o parágrafo que interessa:

«Per avere un’idea dell’interesse che ancor oggi può suscitare la lettura delle Sentenze di Pietro Lombardo, propongo due esempi. Ispirandosi al commento di sant’Agostino al libro della Genesi, Pietro si domanda il motivo per cui la creazione della donna avvenne dalla costola di Adamo e non dalla sua testa o dai suoi piedi. E spiega: “Veniva formata non una dominatrice e neppure una schiava dell’uomo, ma una sua compagna” (Sentenze 3, 18, 3). Poi, sempre sulla base dell’insegnamento patristico, aggiunge: “In questa azione è rappresentato il mistero di Cristo e della Chiesa. Come infatti la donna è stata formata dalla costola di Adamo mentre questi dormiva, così la Chiesa è nata dai sacramenti che iniziarono a scorrere dal costato di Cristo che dormiva sulla Croce, cioè dal sangue e dall’acqua, con cui siamo redenti dalla pena e purificati dalla colpa” (Sentenze 3, 18, 4). Sono riflessioni profonde e valide ancora oggi quando la teologia e la spiritualità del matrimonio cristiano hanno approfondito molto l’analogia con la relazione sponsale tra Cristo e la sua Chiesa.»

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