6.4.10

Presidenciais – sussurros ensurdecedores

Passam-se as semanas e os meses, o Orçamento já foi aprovado e nem Manuel Alegre anuncia formalmente a candidatura a Belém, nem o PS diz que o apoiará quando isso acontecer - uma corda esticada que romperá ou não, é o que se verá mais dia menos noite.

Só quem não ler nas linhas e entrelinhas do que alguns pesos pesados do PS vão dizendo é que não entende que há um rolo compressor dentro do PS para que Sócrates ceda e apoie Alegre, algum tempo passado sobre o discurso deste em Bragança, certamente muito difícil de digerir.

Mas, ainda ontem, Silva Pereira, certamente o clone mais perfeito do primeiro-ministro, disse à TVI24, no fim de uma entrevista sobre as casinhas da Guarda, que os portugueses não podem ter dúvidas sobre a prioridade do PS - que é a governação -, e que «não há calendário» para a decisão sobre as presidenciais.

Pelo meio, João Soares vai aconselhando Manuel Alegre a «não fazer muitas asneiras» e este responde que não tem de «fazer o discurso do governo nem o discurso da oposição».

Se o PS não tem calendário, tem-no Alegre e algo me diz que não esperará muito mais tempo.

Prognósticos só no fim da novela, ou pelo menos do folhetim em curso, mas temo que isto acabe bem para Sócrates, ou seja que Cavaco fique em Belém por mais cinco anos. Se levar o PS a apoiar Alegre, fá-lo-á frouxamente, diminuindo assim as já não muito grandes hipóteses de vitória. Caso contrário, é mais complicado: ou o maior partido português prima pela originalidade de não escolher nenhum dos candidatos, ou consegue inventar uma outra vítima para a primeira volta ou… escolhe o médico e tenta trazer Olivença de volta.

Quem «ganharia» em qualquer destas últimas três hipóteses? O Bloco, sem dúvida, a parte do PS que não seguiria o chefe (não esquecer que o voto é secreto...) e, para uma certa esquerda, certamente a campanha e talvez o futuro. Digo eu...
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3 comments:

Diogo disse...

O voto no médico. Preferiria até que ele fosse candidato a primeiro-ministro.

Miguel Serras Pereira disse...

Análise fundamentada e sábia, esta tua, camarada Joana. Maré alta.
O PS – a direcção – está numa camisa de onze varas: não lhe convém apoiar Alegre, nem lhe é fácil não o fazer. Qualquer destas opções, sobretudo, a curto prazo, a segunda, causará movimentações internas, que poderão ir bastante longe. A primeira opção, no entanto, é também de alto risco para Sócrates e a sua entourage: Alegre na Presidência ou, em todo o caso, com um resultado muito forte, poderá precipitar – sem ter de a encabeçar ou sequer dirigir – a queda da direcção actual ou a criação de uma nova força política.
No entanto, a coisa é complicada. A impotência e falta de convicção da oposição interna a Sócrates perdeu uma oportunidade decisiva ao não ser mais clara e mobilizadora , e aproveitando a ocasião para se organizar, na contestação do PEC. O que só confirma a sua falta de perspectivas, de confiança, de propósitos de organização ou de vontade de arriscar. Como se já não concebesse outra maneira de governar que passasse, por exemplo, por uma aposta na democratização do regime por via da mobilização dos cidadãos.

Abraço

miguel

Joana Lopes disse...

Mais do que onze varas, Miguel: pelo menos duas dúzias. Mas não sei bem o que é isso de «direcção do PS» - há Sócrates e o seu governo...
Mas se MA não vier a ser apoiado, aí sim haverá agitação interna, não só a nível central mas de muitas federações por esse país fora, que já se alinharam.