7.7.10

De remendo em remendo


Não leio pela cartilha de Baptista Bastos, nem sou especial admiradora do que escreve, mas uma parte da sua crónica de hoje, no DN, serve-me de mote.
«O PS promoveu as suas Jornadas Parlamentares. Os seus notáveis, assim como os menos notáveis, identificaram as raízes dos nossos problemas contemporâneos com a maldade do sistema financeiro. Nenhum dos oradores que me foi dado ouvir analisou o fundo da questão. (…)
Nos discursos de mera circunstância, somente Ferro Rodrigues, pelo qual desejo manifestar consideração, se aproximou da génese da crise, denunciando, timidamente, o carácter predador do capitalismo e da fase de domínio sobre todas as formas sociais em que se encontra. Mas ficou-se pela superfície. É pena.»
Note-se que eu não esperava nada de significativo ou importante do que fui sabendo das ditas jornadas parlamentares do PS e nem vale a pena voltar a falar de socialismos e de gavetas.

Mas julgo, sim, que personalidades, com alguma distância e muitas obrigações, podiam – e deviam – situar-se num plano diferente. Estou a pensar no que Mário Soares tem escrito e tem dito nos últimos tempos e, sobretudo, na entrevista que Jorge Sampaio deu ontem à SIC N (pode ser vista aqui).

Remendos, mais remendos e… toda a esperança na convergência e em consensos entre o PS e tudo o que está à sua direita. Nenhuma análise das razões teóricas da crise, nenhuma referência, mesmo que passageira, a uma esperança, ainda que muito ténue (não consigo pesar mais as palavras…), de um sistema menos injusto, mais equitativo do que o capitalismo que nos trouxe à situação em que nos encontramos. Nada no «horizonte»!

Estamos em fase de imediatismo e não é tempo para grandes reflexões teóricas e ideológicas? É assim em toda a parte, dada a gravidade da situação e a urgência de encontrar soluções «para ontem»? Não é verdade. Basta percorrer a imprensa estrangeira, mesmo só a que é acessível em linha, para verificar o contrário. Por cá, ficamos ao nível dos analgésicos. Também aprecio não ter dores de cabeça nas quatro horas que se seguem, mas espero que o meu médico procure a raiz do problema e me explique minimamente o diagnóstico.

Opinadores? Temos às centenas. Pensadores?
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