1.5.10

Kalimpong?



Templos, rezas e mais rezas





A canalização da água para as casas é assim



Mas também há jacarandás em Kalimpong



P.S. – Entretanto, passei a fronteira da Índia para o Butão. É como sair de Nápoles e aterrar em Zurique. Mais tarde explicarei.

29.4.10

Por entre budismos


Ainda em Sikkim, hoje foi dia de templos, de chuva, de sol, sempre de ruas e estradas sem qualquer espécie de recta, de vistas espectaculares para vales, para montes e para bambus gigantes.

O mais interessante? Sem dúvida a visita ao magnífico Mosteiro de Rumtek, construído no século 18 e restaurado na década de 1960, réplica de um outro existente no Tibete e único no seu género fora daquele território.

Destinado a ser residência do chefe de um dos ramos do budismo – neste caso o Karmapa – está actualmente desocupado por razões de segurança e aquele que representa a 17ª reencarnação dos seus lamas, Ogen Trinley, mora, tal como o Dalai Lama (chefe de um outro ramo do budismo), em Dharamshala, sede do governo tibetano no exílio. Há pressões dos seus fiéis junto do governo indiano para que regresse a Rumtek, vi mesmo cartazes com esse objectivo, mas a convicção quanto ao sucesso é fraca, porque a enorme China impõe respeito mesmo à grande Índia.

De resto, todo o reino de Sikkim é altamente policiado por estar muito perto do Tibete (e também do Nepal). Nunca me tinha acontecido, como aqui em Gangtok, passar por um detector de metais à entrada e à saída… do hotel!

Regressando à visita ao Mosteiro. Para além da beleza do mesmo, tipicamente tibetana, vi e ouvi um conjunto de monges que começaram por rezar uma espécie de lengalenga e que, de repente, passaram para um concerto com campainhas e os mais estranhos instrumentos musicais, absolutamente original e relativamente arrepiante.

Não, não vou converter-me ao budismo, embora haja aspectos bem interessantes em tudo o que já fui tentando perceber nas diversas versões que vejo e oiço nos países por onde passo. Uma religião sem deuses, mas que não é propriamente uma terra sem amos…

No dia a dia, há que contar com uma certa lentidão na resolução de problemas triviais, com risco permanente de pequenos ou grandes acidentes nas estradas, com muitos turistas indianos (ocidentais, contam-se pelos dedos) e, obviamente, com a comida melhor do mundo - por vezes acompanhada, como foi o caso hoje ao jantar, por um inesperado fundo musical bem familiar.


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28.4.10

No reino de Sikkim


Já bem a Norte, cada vez mais perto do Butão, e também não muito longe do Tibete, esta terra deixou de ter rei quando nós deixámos de ter PREC, por decisão da população em referendo, e está agora integrada na grande Índia.

Especialmente protegida por razões óbvias de vizinhança, requer uma menção especial no visto do passaporte, que tem de ser exibido à entrada e à saída, e guarda alguns privilégios do passado independente: por exemplo, só os locais podem comprar terrenos e os impostos são mais baixos.

Por estas ou por outras razões, respira-se outro ar quando se atravessa a fronteira: se o trânsito continua caótico, as casas parecem-se mais com casas e menos com barracas e até as pessoas são diferentes - cada vez mais aparentados com os tibetanos. O budismo é quem mais ordena por aqui, não o hinduísmo, já se vê monges vestidos de vermelho (alguns ainda crianças…) e regressei às visitas a stupas, evidentemente. Os templos mais importantes ficaram para amanhã, hoje foi também tarde para flores, sobretudo túlipas, de todos os tamanhos, cores e feitios – é terra delas.

Para cá chegar, a partir de Darjeeling, foram 98 kms, numa «estrada» péssima e sem uma única recta. Teriam parecido 300, os ditos quilómetros, não fosse a extraordinária paisagem, absolutamente luxuriante, com as célebres plantações de chá, em encostas tão incrivelmente íngremes que nem dá para imaginar como a colheita é possível. E montes, montes e mais montes, entre os quais o Kanchenjunga, com 8.598 metros, o terceiro mais alto do mundo. Garantiram-me não só que ele estava à minha frente como que eu estava a entrevê-lo, acima de um mar de nuvens. Não me custou nada dizer que sim, que talvez…
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27.4.10

Darjeeling ainda - mas sem prosas

O dia foi longo, ficam só umas pinceladas. Amanhã, sigo para outras paragens, com passagem pelas grandes plantações de chá. Sem saber se tenho ou não acesso à net.
Darjeeling é uma cidade bonita por fora e absolutamente caótica por dentro. Tudo o que possa ser dito fica aquém da realidade.

O Toy Train é o que resta de uma longa linha férrea a carvão. Ainda funciona, mas apenas para turistas.

Pandas vermelhos. E também leopardos, tigres, carneiros azuis e mais bicharada num zoo interssante.

Chá das cinco com a nora de Tenzing Norgay, na casa dele (um daqueles primeiros senhores a porem os pés no cimo do Everest em Maio de 1953).

E o despertar do orgulho pátrio.

26.4.10

Darjeeling não é só nome de chá


Estou agora na parte indiana dos Himalaias Orientais, uma faixa estreita, a Sul do Tibete e entalada entre o Nepal e o Butão.

Duas horas de voo e 90 kms depois, chegámos a Darjeeeling, uma das paragens aguardada com mais expectativas.

Mas vale a pena explicar porque não esqueceremos tão cedo as quase cinco horas que levámos a percorrer os ditos 90 kms, embora tudo o que possa ser dito fique aquém da realidade. Na primeira metade da viagem, numa estrada estreita, a quantidade de toda a espécie de meios de transporte e de pessoas, nas bermas e não só, as filas intermináveis de tendas com ar pobre mas em que se vendia tudo e mais alguma coisa (pelo número de cartazes da Vodafone, estou certa de que até as vacas têm telemóvel), tornava impossível avançar-se a mais de 20 ou 25 kms / hora.

Mais tarde, e já em região menos povoada, a estrada passou a uma espécie de rua cheia de buracos e o trânsito transformou-se em gincana automóvel imprópria para cardíacos.

Amanhã, veremos os campos de chá, mosteiros budistas e uma paisagem magnífica - se o tempo, que não está famoso, fizer o favor de nos ajudar.

Voltando à experiência desta tarde: só se vê gente, gente e mais gente, neste país com uma taxa de natalidade altíssima, que ultrapassará em breve a China em número de habitantes. Alguém ainda duvida que o futuro próximo do mundo estará na mão dos asiáticos?
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25.4.10

From Delhi


O dia inteiro a rever Delhi, com uns agradáveis 40º de temperatura e no mais completo caos quanto a trânsito e a urbanismo.

Para trás, uma viagem que nem foi tão longa assim, com a Portela e Frankfurt muito mais calmos do que em tempos considerados normais – os europeus já arrumados nos seus países e aparentemente com medo de outras nuvens e de mais possíveis cinzas.

Nenhuma noite ainda normalmente dormida, apenas algumas sestas em luta com o jet lag. Mas, amanhã, tudo estará normalizado.

E um 25 de Abril, com flores mas sem cravos, no Memorial a Gandhi, antes de seguir amanhã para os Himalais.

Tentando (em vão, eu sei) entender um pouco melhor este enormíssimo país, com 2.610 partidos políticos registados e uma companhia ferroviária que tem 16 milhões de empregados.

Retendo desta primeira etapa da viagem uma frase ouvida a um indiano recentemente chegado de Xangai, num misto de orgulho e de lamúria: «Nós nunca apanharemos a China porque somos uma democracia»
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