3.7.10

Depois do fim


No Babelia de hoje, Antonio Muñoz Molina (cito-o, uma vez mais…) descreve o que sentiu ao ver e ao ler o que rodeou a morte de Saramago. Certeiro como sempre, terrível na expressão. É todo o peso quase insuportável de uma tradição civilizacional, que fica retratado neste longo e único parágrafo:

«Siguiendo en los periódicos, en la radio y la televisión, las diversas pompas fúnebres suscitadas por la muerte de José Saramago, he tenido una vez más la sensación de alarma y de lejanía que me provocan estas ceremonias. Se muere un escritor y se desmesura todo. Se desata la maquinaria mediática y política de las pompas fúnebres y la riada de los elogios incondicionales, en los que el difunto adquiere dimensiones mesiánicas. El hecho doloroso y privado de la muerte pasa a convertirse en un duelo público exagerado por la intromisión de cargos políticos que se apresuran a hacer acto de presencia con sus coches oficiales y sus aparatosos protocolos, y que en los últimos tiempos hasta han adquirido la costumbre de firmar artículos obviamente improvisados por sus redactores de discursos. La evaluación sobria del trabajo y la vida de quien acaba de morir desaparecen bajo un fragor de superlativos gaseosos. El escritor deja de ser una persona para agigantarse como la encarnación de todo aquello que a los periodistas o a los políticos que contribuyen a su pompa póstuma les parece oportuno: la patria, el continente, el idioma entero, la condición humana, la emancipación de los pueblos. El ataúd del escritor se cubre con una bandera y se ve rodeado de uniformes y de celebridades y de mástiles con más banderas, agasajado por desfiles militares y bandas de música, por grupos de bailes regionales.»
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Don’t cry


Porque 4-0 é quase nada quando se tem Buenos Aires!

Esta noite já se dançará o tango na Calle Florida, os restaurantes de Puerto Madero estarão magníficos como sempre e as vinte e duas faixas de rodagem da 9 de Julio não se esvaziarão. Até os mortos em La Recoleta encolherão os ombros e, amanhã, já se cantará em La Boca.

E a senhora Merkel que se lixe.

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«Esquerda na Europa? Qual esquerda?»


Num blogue do Público (Espanha), é divulgada hoje, na íntegra, uma importante entrevista a Étienne Balibar, filósofo francês, co-autor de Lire le Capital, com Louis Althusser, entre outros, e de Race, Nation, Classe, com Immanuel Wallerstein.

A entrevista em questão - «Frente a los nacionalismos reactivos, nos hace falta un populismo europeo» – teve como ponto de partida a recente publicação de um texto de Balibar: «Europe: crise et fin?»

Duas leituras vivamente aconselhadas. Um excerto da segunda:

E a Vivo lá tão longe


Desde ontem que não me sai da cabeça o que o João Tunes escreve agora, preto no branco:

«O que esta brincadeira negocieira de neo-colonialismos peninsulares a representarem paródias de Tordesilhas está a pedir é que Lula se chateie e em nome dos “interesses e da economia nacional” (do Brasil), decida nacionalizar a Vivo. Com os adeptos das nacionalizações em todo o mundo a baterem-lhe palmas.»
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2.7.10

Coisas que abomino: ministras em versão Avô Cantigas




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Não funcionou...



Venceu a laica Holanda.
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O silêncio dos (não) inocentes


Com algumas interrupções para ainda dar voz aos heróis regressados do tal Cabo das Tormentas, e também para os acordos e desacordos sobre as malfadadas SCUT’s, o dia de ontem foi naturalmente dominado pela questão da PT e não houve comentador ou responsável político que recusasse arriscar uma opinião e dez previsões.

Falso: um manteve-se ruidosamente calado ou, mais exactamente, disse não ser dia para falar do assunto, mas sim para sublinhar a importância do peixe ao serviço da economia, «o trunfo do sabor» e o papel histórico de Maria de Lurdes Modesto. Sem deixar de fazer publicidade gratuita a algumas empresas e aos pastéis de Belém, em discurso solene, no cenário que nos habituámos a considerar como ícone de declarações decisivas dos protagonistas da vida política do país.

Fica o vídeo – não é uma montagem, nem trabalho das Produções Fictícias.


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1.7.10

Marrabenta



Dança de Moçambique, em especial, de Maputo. Origem na palavra rebentar («arrebentar»), numa referência provável às guitarras baratas cujas cordas rebentavam com facilidade.

Mais informação
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Afinal...



(Imagem daqui.)
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PT: mal me quer, bem me quer?

Declaração prévia: percebo muito pouco do assunto de que vou falar, mas também tenho o direito de acordar o taxista mais ou menos bem informado, que existe sempre adormecido em cada um de nós.

Entendo ainda muito menos de Golden Shares do que de futebol, mas faço um esforço. E, por mais que tente, não consigo entender as palmas de ontem, da esquerda à esquerda com passagem pelo dr. Paulo Portas, pela decisão tomada pelo governo. A não ser por estéreis posições de princípio ou de puro oportunismo político, claro.

Porque alguém acredita que esta história, ainda tão longe do fim, tenha um belo epílogo? Ou o que foi feito ontem recua, por impugnações ou por bruxelices, ou como vai ser o day after? PT e Telefónica de braço dado na Vivo? OPA? Ricardo Espírito Santo a bater com a porta?

Como é que se pode pensar que Sócrates e o seu fragilíssimo governo têm o mínimo de força necessária nesta guerra contra a maioria dos accionistas, a própria administração da PT, a Ongoing, o BES, Espanha, Bruxelas, etc., etc.? Argumenta-se que outros países tomaram atitudes semelhantes, mas citam-se quais? França, Espanha, Itália, Alemanha… É, no mínimo, confundir David com vários Golias.

E, como se não bastasse e para cúmulo da minha perplexidade, estou de acordo com o dr. Vital Moreira.

O dia não me está a correr nada bem!

P.S. - A ler: este post, muito ácido, do Tomás Vasques.
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30.6.10

O espelho de um país?


É indispensável ver estas fotos dos passeios de Lisboa (e não só). Nem comento para não me irritar.

(Isto já passou pelo Twitter e pelo Facebook, mas fica também aqui.)
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Apicultor – uma sugestão para as «Novas Oportunidades»


O problema não é novo: as abelhas são mesmo indispensáveis. Há literatura e até blogues sobre o tema e, sobretudo, um filme Le silence des abeilles, de Doug Shultz (2007), exibido em 2008 pelo canal «National Géographic».

O excerto que o vídeo mostra é impressionante. Numa região da China onde a utilização intensiva de pesticidas resultou no desaparecimento das abelhas, centenas de trabalhadores (podiam ser milhões…) fecundam manualmente as flores das pereiras.

«Só na China!», é a primeira reacção – para já, enquanto a mão-de-obra é barata, apesar de não poder competir com a das abelhas que trabalham em regime de voluntariado.

Além disso, talvez seja bom realizarmos que não seriam só as pêras a desaparecerem das nossas mesas, mas toda a fruta, o mel (obviamente…) e também o café e até o chocolate. Restaria o chá, para felicidade dos britânicos e dos agricultores de Darjeeling, mas é um pouco restritivo para os nossos hábitos.

E convém não esquecer que Einstein terá dito que «se as abelhas desaparecessem da face da terra, a espécie humana teria somente mais quatro anos de vida». Também é verdade que não contava com a ajuda dos chineses…



(A partir de um post de Virgílio Vargas, no Facebook)
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Curiosidades


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Preços da História


«En Portugal, desde niños nos enseñan los hechos heroicos y la astucia que permitieran que no nos convirtiéramos en españoles, como si eso de ser españoles fuera una enfermedad muy mala. Los gallegos, los vascos y los catalanes no lo pudieron evitar, los pobres, pero nosotros hemos resistido a todas las investidas del gran y poderoso vecino, al menos hasta que llegó Zara para conquistarnos con sus dulzuras mercantiles. (…)

¿Y Ronaldo? ¡De Ronaldo nada! Ha sido como si Portugal jugara con nueve. Ronaldo hizo un pase de tacón, apuntó una falta y se ha extinguido como una estrella fugaz sin haber cumplido la promesa de explotar en el Mundial.
Pero si ustedes en Madrid están dispuestos a continuar a pagándole…»

Manuel Jorge Marmelo, em Papeles Perdidos.

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China em contraponto


Ser branco - louro ou moreno - pode ser uma boa oportunidade para ganhar algum ou mesmo muito dinheiro em terras de Hu Jintao. Há empresas chinesas que alugam estrangeiros como falsos empregados, consultores ou parceiros de negócio – por um dia, por uma semana ou por alguns meses. Porquê? Porque, alegadamente, os países ocidentais ainda pensam que instituições que contratam pessoas no exterior devem ser ricas e poderosas e ter ligações internacionais importantes.

O que é fundamental? Não falar chinês e parecer que se desembarcou na véspera de um avião vindo um qualquer país mais a Oeste.

Dois relatos, neste vídeo da CNN.

Um mundo de fantasia muito elaborado, onde tudo se compra, nada se perde e tudo se vai transformando.

(Chegará o dia em que começaremos a alugar chineses?)



(Fonte)
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29.6.10

Optimus Live, uma pátria sem amos?

Nem sei exactamente o que penso deste vídeo, porque não sacralizo hinos. Mas não estariam a cair por aí raios e coriscos se a música do anúncio fosse a de «A Portuguesa» ou a do «Avé de Fátima»? É que não dou mais importância à pátria ou à fé de alguns do que a sonhos de outros e não gostaria de ouvir a «Grândola, Vila Morena» a fazer propaganda de sabonetes. Serei a única? Fica a pergunta.



(A história começou num post da Jonasnuts.)
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Cooperação estratégica é isto!


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Dia de iberistas



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Os gregos, nós e o dr. Barroso


Escrita em Atenas, a crónica de Rui Tavares, no Público de ontem, caracteriza especialmente bem o conceito e o sentimento «da crise» e é leitura mais do que aconselhável, se não mesmo obrigatória.

«A palavra é grega; a sensação também. Para os gregos antigos, crise era um termo médico. Significado: crise era o momento na evolução de uma doença em que o doente poderia ficar muito pior, ou muito melhor.
Para os médicos modernos da crise, que são os tecnocratas em Bruxelas, os governos de Sócrates a Papandreou, e os comentadores um pouco por todo o lado, a palavra crise perdeu metade do seu sentido. Agora quer apenas dizer o momento em que as coisas estão mal e vão ficar consistentemente pior. Crise deixou de ser um momento; passou a ser um estado.
Visto de Portugal e da minha geração, crise passou a ser o nome da normalidade. (…)

É até um pouco perturbador; não consigo lembrar-me de quando foi que nos convencemos de que o máximo a que podemos ambicionar é que as coisas sejam um bocadinho menos más. Desistimos de tentar fazê-las muito melhores. Estamos a falhar.(…)

Entretanto, Durão Barroso decidiu fazer comentários sobre os riscos futuros da democracia grega. Esses comentários caíram aqui muito mal e, francamente, a dois passos da Ágora não parecem menos do que ridículos. Se Barroso quer reflectir na democracia em risco, poderia começar para a instituição que dirige. Ainda não me parece que os membros da Comissão possam dar lições de democracia a atenienses.»
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28.6.10

Vaticália ou a nobreza negra do Vaticano


Em El País de ontem, um longo e detalhado artigo sobre a «Vaticália» (Vaticano + Itália) - um complicado imbróglio de influências e acusações de corrupção, pela conjugação de acções com muitos protagonistas e uma intrincada rede de interesses laicos e religiosos.

Nem tento resumir o texto, mas tudo parece girar em torno de um grupo de 147 poderosos notáveis – os «Gentil-homens de Sua Santidade» – que, «com competência e autoridade», «ajudam a engordar as arcas do estado pontifício, o paraíso fiscal mais rico, melhor decorado e mais visitado do mundo». Dos 147, 114 são italianos, sete americanos, cinco espanhóis e cinco austríacos.

Vieram agora para a boca de cena por causa de um deles, Angelo Balducci, (que, entretanto já fora demitido por Bento XVI por envolvimento em escândalos sexuais com seminaristas e com «sem papeis»). A história é longa mas transcrevo três elucidativos parágrafos:
«Balducci es un ingeniero que durante 25 años se encargó de ejecutar las obras públicas en la región del Lazio, donde se hallan Roma y el Vaticano. De ahí pasó al Gobierno central como responsable del Consejo Superior de Obras Públicas. Tras una vida dedicada a mejorar las infraestructuras italianas y vaticanas, Balducci, de 62 años, vive ahora en la cárcel romana de Regina Coeli.
Desde febrero, Balducci es el principal imputado en el escándalo de corrupción de la todopoderosa Protección Civil italiana, que de momento tiene a más de 50 personas imputadas o bajo investigación. Desde 2001 hasta ahora, el superministerio que depende de la Presidencia del Gobierno ha gastado fondos públicos por valor de 13.000 millones de euros, según el último informe de la Autoridad para la Vigilancia de los Contratos Públicos.
El dinero era gestionado por el jefe de la Protección Civil, el secretario de Estado Guido Bertolaso, también acusado de corrupción, y por el ejecutor de las obras, Balducci, gracias a una argucia autorizada por el primer ministro, Silvio Berlusconi, para superar la maldita burocracia y afrontar las emergencias con más rapidez: la licitación de contratas públicas se hacía sin concurso, a dedo, derogando los procedimientos ordinarios.»

Hérnias


Quando a notícia caiu ontem à noite, o serão animou-se no Facebook. Já muitos nomes tinham sido dados a este desgraçado país, mas «hérnia estrangulada»???

Habituados a advogados, a economistas e a poetas, a alertas para perigos de corrupção, de bancarrota ou de iliteracias, estamos todos e vamos vivendo. Mas estrangulamentos e risco de peritonite? Isso acorda a hipocondria adormecida no coração de cada lusitano e pode acabar em coisa má. (E se aparece um candidato cangalheiro, pergunta alguém e com razão, no Facebook?)

Mais vale que Fernando Nobre se deixe de comparações tão complicadas e atente em realidades mais comezinhas (*):



(*) Recomendação musical de Virgílio Vargas para o tema «Hérnias Estranguladas».
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Isto anda com muito mau aspecto


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À espera nem se sabe de quê


As recentes picardias entre Cavaco e Sócrates começam a ser insuportáveis e não auguram nada de previsivelmente bom para a tal cooperação estratégica, ainda cinicamente apregoada pelo primeiro, nem para a gestão da crise sem fim à vista.

Nem é concebível que o presidente ande por aí a apregoar, por montes e vales, que o país está numa situação insustentável que ele tão bem ajudou a criar, nem tem graça a alusão de Sócrates à falta de cultura de Cavaco (olha quem fala…), dizendo e repetindo que aprecia presidentes que gostem de Camões, numa subliminar alusão aos «onze» cantos dos Lusíadas, uma vez referidos pelo inquilino de Belém.

Num braço de ferro entre optimismos e pessimismos, valha-nos o humor de Manuel António Pina e de Woody Wallen:

«Talvez um pessimista como Cavaco seja um optimista bem informado, sobretudo se sabe do que fala pois, não tão "há bastante tempo" como isso, contribuiu activamente para a "situação insustentável". E um optimista como Sócrates? Será só um pessimista mal informado? Ou alguém como aquele personagem de Woody Allen que, mesmo quando tudo se desmorona à sua volta, e até os Giants perderam o "Super Bowl", ainda encontra por que alegrar-se: "Ao menos não tem chovido..."?»
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27.6.10

Europa, «extremo ocidental da Ásia»?


 
Mas optimista afinal continua. Porque mesmo que se aceite o princípio de que o federalismo poderia ser a grande solução para os males europeus, não se vislumbra que ele esteja no horizonte em tempo próximo - e portanto útil.

Bem a propósito, leia-se o comentário de Teresa de Sousa no Público de hoje, Desordem transatlântica, sobre o comportamento da Europa na reunião do G20.
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Mundial - Teoria da conspiração?


Circula por aí um mail com previsões:
  • O Brasil ganhou o campeonato do mundo em 1994. Antes disso, a sua última conquista do título foi em 1970. 1970 + 1994 = 3964.
  • A Argentina ganhou em 1986, antes em 1978. 1978 + 1986 = 3964.
  • A Alemanha ganhou em 1990, antes em 1974. 1990 + 1974 = 3964.
  • O Brasil ganhou em 2002, antes em 1962. 1962 + 2002 = 3964.
Seguindo esta lógica, o vencedor do Campeonato em 2010 será o mesmo que em 1954. 
1954 + 2010 = 3964.
Quem ganhou em 1954? A Alemanha… (que acaba de eliminar hoje a Inglaterra)


P-S- - O mais preocupante é que Portugal só poderá vencer em… 3964.
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Quem diz isto, quem é?



Temos homem!
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