31.7.10

Transiberiano para todos


Eu espero embarcar num comboio russo bem real, em Moscovo, dentro de duas semanas. Mas não há nada que o Google não proporcione a quem sonha com viagens, tem inveja de quem as faz, mas não se decide a sair do sofá. Vem tudo explicado aqui e o site a explorar é este.

Um pouco confuso à primeira vista, nem todas as opções funcionam, mas já explorei visitas a algumas cidades e diversas etapas do percurso.

Neste vídeo, 38 minutos do Lago Baikal, como o verei da minha janela.


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Não é ficção


Não fui eu que tirei esta fotografia que encontrei hoje por acaso na net, mas podia ter sido. A Oriente, é assim.

Para ser totalmente honesta, o máximo que vi foi sete pessoas em cima de uma motoreta – no Cambodja, depois de um pôr-do-sol em frente do Angkor Wat. Quatro ou cinco? Vulgar de Lineu em qualquer grande cidade do Vietname, do Laos ou do Cambodja. Por vezes, vai também uma gaiola com pássaros ou mesmo uma porta ou o vidro para uma janela. Ou porcos, ou galinhas.

Nas grandes famílias (grandes porque há sempre muitos filhos…), a moto é o sinal exterior de riqueza mais generalizado.
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Sarkozy xenófobo – agora sem disfarce

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Ontem, em Grenoble:



«A nacionalidade francesa merece-se e é preciso mostrar-se digno dela. Quando alguém dispara sobre um agente da autoridade perde a dignidade de ser francês. Desejo também que a aquisição da nacionalidade francesa por um menor delinquente no momento em que atinge a maioridade deixe de ser automática.»

A ler:
* Sarkozy, ce fils d’immigré qui n’aime pas les étrangers
* Sarkozy dégaine les clichés et cible les immigrés
* Vives réactions après les propos de Nicolas Sarkozy sur la sécurité

Atenção: Paris é mesmo aqui à esquina, apenas a 2.000 kms da Amadora.
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30.7.10

A origem do mundo




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Antes mouro que bimbo


Os 47,48% de eleitores do Porto, que votaram em Rui Rio para presidente da Câmara, têm a tacanhez e a saloiice que merecem. Não os outros que devem corar de vergonha.

Claro que isto vem, ainda, a propósito da recusa em dar o nome de José Saramago a uma rua do Porto. Que Rui Rio não o faça por motivos ideológicos, apenas o coloca ao nível de intolerância de uma Coreia do Norte – há vírus que atravessam continentes.

Mas há mais: baseada numa decisão da Comissão de Toponímia (que, antes dos seus mandatos, era constituída por vereadores e, por proposta do presidente, tem actualmente apenas «personalidades de relevo na vida da cidade»), a maioria PSD/CDS rejeitou a proposta da CDU, por Saramago não ter «ligação ao Porto». A dita Comissão terá decidido, em 2002, «apenas aceitar propor nomes de cidadãos com ligação directa ao Porto para ruas da cidade». Lê-se e pasma-se. Quem discrimina o quê? Depois queixem-se!

Entre vários exemplos, justifica-se assim que o nome de Amália Rodrigues não figure em nenhuma placa portuense. Recorde-se: em Junho deste ano, foi inaugurado, em Paris, um pequeno jardim com o seu nome. «Cela fait toute la différence.»

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29.7.10

Ontem


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Manuel Alegre e o «direito» à resistência


O jornal «i» publicou ontem mais um texto sobre o passado militar de Manuel Alegre. Não me interessa a «acusação», mil vezes repetida, comentada e desmentida, quanto a uma hipotética condição de desertor que não foi (e se tivesse sido?!...), mas sim afirmações absolutamente extraordinárias, que ainda não vi comentadas, de um almirante, de seu nome Vieira Matias, que foi chefe do Estado-Maior da Armada, de 1997 a 2002.

Vieira Matias diz saber que Manuel Alegre não foi desertor, por ter sido mobilizado para Angola e ali ter permanecido até passar à disponibilidade (em Dezembro de 1963, com ordem de regresso, depois de preso pela PIDE e com residência fixa em Coimbra), mas que «isso é o que menos importa». Porque grave foi a sua acção na Rádio Voz da Liberdade, em Argel, que «criava danos psicológicos nas nossas tropas e incentivava o inimigo a combater mais violentamente». A guerra colonial era injusta para Manuel Alegre? «Poderia ser a opinião dele, mas não lhe dava o direito de criar condições para causar mais baixas nos seus compatriotas.»

Ou seja: em 2010, alguém, que exerceu um cargo da maior responsabilidade nas Forças Armadas, diz impunemente alarvidades destas e ninguém reage. Trinta e seis anos depois do 25 de Abril, põe-se em causa um candidato à presidência da República porque ele foi um resistente activo, não só mas também contra a guerra colonial, num exílio em Argel (que, garanto-vos eu, esteve longe de ser de luxo quando não foi mesmo de perigo), naquele que foi um instrumento da oposição portuguesa, absolutamente único: a Rádio Voz da Liberdade. Quantas notícias sobre o que se passava nas várias frentes de guerra não nos chegavam apenas através desse som que tentávamos, tantas vezes em vão, captar pela calada da noite, em rádios sempre mais ou menos roufenhos? Vem agora pôr-se em causa o «direito» à denúncia do que se passava em África? O «direito» à luta contra a ditadura?

O currículo do Vieira Matias não diz «onde é que ele estava no 25 de Abril». Não sei quem o nomeou para chefe do Estado-Maior da Armada. Mas, entre 1997 e 2002, o presidente desta República era Jorge Sampaio e o primeiro-ministro chamava-se António Guterres. A brandura dos nossos costumes e as cedências nalgumas nomeações têm um sabor amargo, mesmo alguns anos mais tarde. E, por vezes, pagam-se caras.

P.S. 1 – Dizem-me entretanto que Vieira Matias pertence actualmente ao Conselho das Antigas Ordens Militares, «nomeado por alvará do Presidente da República».

P.S. 2 - Justiça seja feita: acabo de saber que Vieira Matias «foi corrido» por Jorge Sampaio. (30/7, 10:52)

Olé!?


Há dois dias que ando a dizer que sou solicitada para tantas «Causas» humanas que ninguém me apanha a empenhar-me nas que tratam de bichos.

Mas a proibição de touradas na Catalunha fez-me regressar ao Butão. Sendo o budismo religião de estado, é por lá proibido matar todas as espécies de animais, o que não impede que se coma regularmente carne e peixe - alegadamente porque a altitude o exige, sob pena de envelhecimento precoce… Quem mata então os ditos animais? Os vizinhos indianos de Bengala: sendo hindus, podem fazê-lo sem qualquer tipo de problema.

Também os catalães continuarão a assistir, bem perto, às suas «corridas» porque, ao Sul da França, que as cultiva desde meados do século XIX, não chegou ainda a proibição. Quando a União Europeia as impedir nos 27, os chineses importá-las-ão para Pequim ou para Xangai – estarão apenas uns quarteirões mais longe.

Quero com isto dizer que adoro touradas? Não: só assisti a uma, a pedido de uma amiga americana de passagem por Lisboa. Mas detesto «humanismo» por decreto proibitivo. Como para o fumo.

E «Tourada» será, sempre e também, esta canção de Ary dos Santos, que, ao vencer o Festival da Canção em 1973, foi uma grande farpa espetada no velho regime:



P.S. - Veja-se aqui quem votou a favor e contra, na Catalunha, e muitas coisas ficam explicadas: o separatismo é quem mais ordena, por aquelas bandas, o resto é mais ou menos uma certa dose de hipocrisia.
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28.7.10

Discutimos, sim (2)


Um post que publiquei ontem, sem nenhuma reflexão prévia profunda, bateu asas, foi ter a alguns blogues e esteve sobretudo na origem de uma longa discussão no Facebook, no meu mural e não só.

De tudo o que foi dito, destaco apenas um tema, sem prejuízo de vir a focar mais tarde um outro.

Tudo começou com este parágrafo do primeiro comentário: «O texto (sem cortes) reflecte uma época, uma ideologia, uma política QUE FORAM VIVIDAS por este país, quer se queira quer não! Desvirtuar o texto seria desvirtuar a história, ainda que possa ser curiosa a sua leitura aos olhos de hoje.»

Ora, ao manipular o discurso de Salazar, eu não o apaguei nem sequer pretendi «desvirtuá-lo»: mostrei-o para evidenciar que a realidade mudou.

Mas, daqui, passou-se inevitavelmente para a discussão sobre a legitimidade de mudança de nomes, veio a eterna questão «Ponte Salazar ou Ponte 25 de Abril» e alguém afirmou que «quando há uma revolução, uma das primeiras coisas a fazer é a destruição dos ícones - umas vezes para o bem, outras nem por isso…». Não o diria talvez com tanta veemência mas, globalmente, concordo e recordo: a Espanha, porque não teve uma revolução, mas sim uma complexa e, para meu gosto, muito estranha «transição», anda ainda às voltas para fazer desaparecer alguns imponentes símbolos do franquismo.

Talvez seja mais evidente se se olhar de fora. É absolutamente natural que o nome de Pinheiro Chagas não diga grande coisa aos Moçambicanos e que a sua Avenida, no Maputo, se chame agora Eduardo Chivambo Mondlane. E por mais que se estranhe, acaba por se entranhar que o Massano de Amorim seja hoje a Av. Mao Tse Tung. E alguém esperaria que existisse ainda o Liceu Salazar???

Nada a ver com a alteração de nomes, em Portugal, por causa do 25 de Abril? Tudo a ver: foi a data da nossa «independência» em relação à ditadura e de símbolos vive também o homem. Mudaram-se alguns nomes, muito poucos, tal como depois do 5 de Outubro de 1910: alguém reclama hoje que a actual Av. da República de Lisboa volte a chamar-se Ressano Garcia?

Será uma questão de sensibilidade, distorcida para alguns, mas eu não gostaria de continuar a atravessar a «Ponte Salazar». E, já agora, nem de ser mais papista do que o próprio papa. Antes da inauguração da ponte, em 1966, quando Salazar viu o seu nome num dos pilares, perguntou: «As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.»
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Morreremos cheios de saúde


Se ainda fosse vivo, Vinicius de Morais dificilmente viria agora a Portugal em voo da TAP, porque nem lhe seria permitido trazer uma garrafa de Johnnie Walker na bagagem de mão por razões de segurança, nem lhe dariam a bordo uma daquelas míticas miniaturas que enchiam tabuleiros depois das refeições.

Acabo de ler no ma-shamba que, desde há três meses, a TAP deixou de servir a bordo (mesmo pagando-se alguns euros) «bebidas destiladas». Ou alguém descobriu que um dos terroristas que deitou abaixo as torres gémeas tinha emborcado três garrafinhas de Famous Grouse ou, depois dos cigarros, vem aí uma proibição generalizada do álcool, sem se passar sequer pela fase das etiquetas: «Beber mata». Claro que mata (e também engorda…), mas proibir não resolve e cada um vai morrendo como pode, com eutanásia ou sem ela.

Tenho amigos, com tanto pavor de voar, que só conseguem (ou conseguiam…) fazê-lo um pouco «tocados». Resta-lhes agora xanaxes - que também vão matando, mas muito mais civilizadamente.
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Alguém disse que não há racismo em Portugal?


No Algarve, comunicado de um grupo anónimo de agricultores, a propósito de alegado roubo frequente de alfarroba:

«Tolerância zero para quem der trabalho ou permitir acampamento a ciganos. Tolerância zero aos compradores que negoceiam com ciganos e produto roubado.» «Se necessário for daremos fogo às viaturas e armazéns dos infractores.»

Na longa notícia do Expresso, um dirigente da associação dos produtores de alfarroba demarca-se mas compreende, a GNR assobia para o lado: «Não temos conhecimento de quaisquer milícias, mas teremos que ver os dados para verificar se têm existido queixas-crime quanto a furtos de alfarrobas».

Mas NINGUÉM se declara interessado em identificar os autores do comunicado. Assim vamos.
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27.7.10

No pasa nada


A notícia importante sobre as comemorações do 57º aniversário do Assalto à Moncada, ontem, em Santa Clara, foi que não aconteceu rigorosamente nada.

Depois de ter sido anunciada a participação de Hugo Chávez como convidado de honra, de se ter posto a hipótese da presença do próprio Fidel, reaparecido várias vezes nos últimos dias, e de serem criadas as maiores expectativas quanto ao conteúdo do discurso de Raúl Castro, num momento tão crucial da vida do país em que era esperado o anúncio de uma série de reformas socioeconómicas desesperadamente necessárias, o presidente venezuelano cancelou a viagem, Fidel ficou em Havana a conversar com cantores e outros artistas e Raúl não discursou.

Foi a primeira vez, desde 1959, que os cubanos não ouviram, nesta data, ou Fidel ou Raúl. Este deu apertos de mão mas fez-se substituir, no discurso oficial, pelo vice-presidente José Ramón Machado Ventura, de 79 anos, considerado por muitos como o símbolo da ortodoxia e do imobilismo do regime. E que disse ele? Em resumo: «Actuaremos sin soluciones populistas, demagógicas o engañosas. No nos conduciremos por campañas de la prensa extranjera», «Progresaremos con sentido de la responsabilidad, paso a paso, al ritmo que determinemos nosotros, sin improvisaciones ni precipitaciones, para no errar.» De concreto, zero.

Yoani Sánchez exprimiu no seu blogue o que vários outros também sublinharam com outras palavras: «El general no habló porque no tenía nada que decir, no lanzó un paquete de reformas pues sabe que con ellas se juega el poder, el control que su familia ha ejercido durante cinco décadas. (…) Pero, más que discreción política, lo de hoy es puro secretismo de estado. No hacer compromisos públicos con los cambios, no implicarse visiblemente en una secuencia de transformaciones puede ser la manera de advertirnos de que éstas no obedecen a su voluntad política, sino a un desespero momentáneo que – piensa él - terminará por pasar. Al no pronunciarse, nos ha enviado su mensaje más completo: “no les debo explicaciones, ni promesas, ni resultados”.»

Mais conspirativos, outros analistas avançam que Fidel não gosta que determinadas reformas apareçam como um preço a pagar à Igreja, a Espanha e à União Europeia e terá por isso impedido Raúl de as anunciar em Santa Clara, o que seria visto como uma cedência ao «inimigo capitalista» e um golpe na «soberania nacional».

A História aguarda pelos próximos capítulos.

Fonte, entre outras
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Discutimos, sim


«Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; o discutimos a glória do trabalho e o seu dever.»

R.I.P., há 40 anos.

P.S. – Como vem sendo habitual, é no Facebook que se passa o debate e não no blogue. Neste caso, já vai longo e está aqui.

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Do calor para o calor?


Esta imagem de Moscovo tem algo a ver com o Estádio da Luz hoje de manhã. Deve cheirar a queimado, tal como aqui, e pairar no ar uma neblina de fumo.

Registou-se ontem a temperatura mais elevada desde 1920 (37,2º…) e mais de 1500 pessoas terão morrido afogadas em tanques e lagos, nos últimos dois meses, pela simples razão de quererem refrescar-se. Pelo que leio, muitas com um copito a mais de vodka…

Who cares? Eu que devo lá chegar daqui a uns quinze dias e que, talvez ao contrário de muitos, não gostaria de derreter gloriosamente a olhar para o Kremlin. Refresquem isso, пожалуйста
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Enfeitemos então as russas


Já não querem sapatos? Vendemos bugigangas. Nem Lenine nem Michael Porter devem ter previsto, mas não resta pedra sobre pedra e faz-se o que se pode.

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26.7.10

A condenação de Douch


Foi conhecida hoje a sentença do julgamento de Kaing Guek Eav, mais conhecido por «Douch», director de um dos principais killing fields dos Khmers Vermelhos no Cambodja - Tuol Sleng, nos arredores de Phnom Pehn. Numa antiga escola transformada em prisão e nos terrenos que a rodeiam, terão sido torturadas e assassinadas mais de 10.000 pessoas – homens, mulheres e muitas crianças. Hoje essa antiga prisão é um Museu do Genocídio, onde estive há pouco mais de um ano - muito simples, impressionantemente pobre, mas terrível. Um murro no estômago.

Foram necessários doze anos de negociações e de procedimentos judiciários, desde a morte de Pol Pot, em 1988, para se chegar ao fim do primeiro julgamento (outros se seguirão) de um dos principais responsáveis pelo genocídio que tirou do mapa um quarto da população do país – cerca de dois milhões de pessoas – em apenas quatro anos, de 1975 a 1979. O Cambodja é hoje um país quase sem velhos, já que a grande maioria dos que teriam actualmente cerca de 60 anos, ou mais, desapareceu, pura e simplesmente. Douch foi condenado a 35 anos de prisão mas, porque já passou onze legalmente preso e mais alguns que o tribunal considerou que terão sido cumpridos indevidamente, restam-lhe 19 para cumprir – pelos 86, poderá voltar a gozar em liberdade os que lhe sobrarem. Pouco provável num país em que a esperança de vida ronda os 60 anos, mas nunca se sabe: pode ser que o remorso seja bom agente de longevidade.

Desde esta manhã que não me sai da cabeça uma fantasia perfeitamente irrealizável: os 19 anos de pena que Douch tem a cumprir deviam ser passados em Tuol Sleng, numa das celas como a que se vê na foto. Com todas as condições de dignidade e, obviamente, sem exposição ao público. Mas os filhos, os netos e os irmãos das suas vítimas deveriam ter o «direito» de saber que era ali que ele estava e que acabaria, muito provavelmente, os últimos anos da sua vida. Porque é também com símbolos que se faz a história e se vinga a memória.




Fonte, entre outras
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Irão, esse exemplo de democracia


Manouchechr Mottaki, chefe da diplomacia iraniana, em entrevista ao «i» depois da sua recente estadia em Lisboa.

Talvez tivesse valido a pena recordar a este senhor que elevada participação em eleições não é, necessariamente, sintoma de democracia. Bem pelo contrário: na Coreia do Norte, 99,98% da população foi às urnas nas eleições parlamentares de 2009 e, em Cuba, os actos eleitorais para deputados contaram sempre, desde 1976, com mais de 96% de presenças.


(Junho de 2010)


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Stress é mais uma viagem do papa


Vai a Espanha em Novembro. (Ou à Galiza e à Catalunha, se se preferir.)
36 horas para as quais está prevista «uma despesa pública milionária» - quatro milhões de euros para a passagem por Santiago de Compostela, quantia certamente maior e ainda não revelada por umas horas em Barcelona.

«Bem-aventurados os pobres (mesmo que "em espírito"), porque é deles o reino dos céus.»
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Com stress ou sem ele



Ajudado ou não pelos negócios «lá fora», não era mau que os efeitos se fizessem sentir «cá dentro».
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25.7.10

De volta à África


No «Passa Palavra», Manolo e João Bernardo publicam hoje o último de cinco capítulos de um longo estudo sobre África. A não perder. Para abrir o apetite:

«Nesta série, tentaremos traçar em linhas gerais as idas e vindas do retorno à África. Via de regra, estes que retornaram transformaram-se num grupo separado dos africanos “nativos”, quando não numa verdadeira classe dominante. Trata-se de tendência antiga, com raízes nas lutas antiescravistas iniciadas com a própria escravização.»

«Muitos dentre os libertos “retornados” envolveram-se com o tráfico negreiro como forma de sobrevivência e sua estadia forçada nas Américas impôs-lhes o aprendizado de outros ofícios com os quais se sobrepuseram às populações africanas. Graças aos libertos retornados, formava-se na costa ocidental da África uma elite profissional e política.»

«Quando um dos mais importantes políticos negros dos Estados Unidos afirmou ter inspirado Mussolini, não foi apenas jactância de uma inegável megalomania, mas algo muito mais sério.»

«É sob a dupla influência da religiosidade popular e dos escritos e do mito em torno de Marcus Garvey que se forma o movimento rastafari, responsável pela última onda do retorno à África e pela “canonização” do imperador etíope Haile Selassie.»

«O pan-africanismo, expressão ideológica do difícil processo de integração da África ao capitalismo internacional (privado ou de Estado), funda nações onde so há Estados e legitima o estabelecimento de novas relações de dominação.»

«Não cremos que no desenvolvimento do capitalismo uma região possa considerar-se mais avançada do que outra apenas porque tem um PIB per capita superior ou porque aí ocorrem num dado momento as mais recentes formas de industrialização. Esses são resultados de sistemas sociais já existentes de há mais ou menos tempo. Por isso, numa perspectiva dinâmica do desenvolvimento do modo de produção é para as transformações sofridas desde já pelas relações sociais que devemos estar atentos, e serão essas que produzirão no futuro resultados econômicos materiais contabilizáveis em termos de progresso estatístico. A fase mais avançada é aquela cujas formas de organização social incluem as restantes e vão além delas. É essa que serve de paradigma à evolução do sistema; e é o que vem se desenrolando na África há mais de meio século. Se pretendemos entender os rumos do capitalismo mundial, não é somente para os países ditos “desenvolvidos” que devemos atentar; é também, e fundamentalmente, para a África que devemos nos voltar.»
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Impróprio para cardíacos


Existe e é um dos aeroportos mais perigosos do mundo: Courchevel, em França.


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Fidel, de novo fardado - Prova de vida?


Fidel Castro fez ontem mais uma aparição em público, num acto comemorativo do 57º aniversário do assalto ao quartel de Moncada, que marcou o início da revolução cubana, em 26 de Julho de 1953. Facto que não passou despercebido: pela primeira vez, desde há quatro anos, tirou do armário a sua velha camisa verde.

Entretanto, especula-se sobre a hipótese de Fidel se deslocar amanhã a Santiago de Cuba, quando os cubanos esperam com grande expectativa, nesta fase conturbada da vida do país, o discurso do seu irmão Raúl. Quem não faltará garantidamente, como orador de honra, será… Hugo Chávez.

El País de hoje publica um polémico artigo de Mario Vargas Llosa sobre a «libertação» dos presos cubanos e o papel que Espanha tem representado:

«Es ingenuo pensar que la excarcelación de unas decenas de presos políticos constituye una reforma sustantiva de la política del régimen contra la oposición. Uno de los rasgos más repugnantes de la dictadura caribeña ha sido su vieja costumbre de regalar presos a los políticos occidentales que iban a hacer el besamanos al dictador, para que ganaran bonos en sus países como salvadores y dieran testimonio de lo flexible que podía ser el régimen cuando era tratado con comprensión. Este innoble tráfico de carne humana en las relaciones públicas puede permitírselo sin riesgo alguno una satrapía cuya reserva de prisioneros políticos es un barril sin fondo, y reemplaza a discreción los presos que ofrece a sus huéspedes importantes. (…)
Me pregunto si la incomprensible e inmoral política del Gobierno socialista español de colaboración con el castrismo no es una manera para sus dirigentes de demostrarse a sí mismos que no es verdad que hayan dejado de ser socialistas, que ahí está la prueba, lo que hacen para salvarle la vida a la acorralada revolución cubana, que, aunque haya cometido muchos errores, es todavía el emblema de aquel socialismo que fue el suyo, cuando eran jóvenes y utópicos y creían que la peor de las lacras de la humanidad fue la aparición del capitalismo egoísta y vil.»
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