6.2.11

Com Nuno Teotónio Pereira – ontem em Lisboa


Sobre o conteúdo da sessão de homenagem a Nuno Teotónio Pereira, leia-se o texto que José Pedro Castanheira acaba de publicar no Expresso online.

Mas acrescento algumas linhas.

Foram horas a olhar para uma imensa plateia de mais de trezentas pessoas, não só de católicos e ex-católicos activistas desde os anos 60, mas também de muitos outros compagnons de route que, ao longo de mais de cinco décadas, se habituaram a ver na pessoa do Nuno o grande impulsionador de um sem número de actividades, políticas e cívicas, e que aderiram a uma iniciativa anunciada através da internet, sem envolvimento de organizações (juntaram-se depois e estiveram ontem presentes) e organizada por um pequeníssimo grupo de amigos. Muitos cabelos brancos e rugas vincadas, mas também jovens, filhos e até netos que cresceram habituados a ver o Nuno sempre por perto. Um grande conjunto de pessoas que raramente se encontram porque a vida as foi dispersando, mas que retomam imediatamente a cumplicidade passada, porque, ao contrário de outras arenas, por aqui não passaram cisões geradoras de ódios que tornariam inviável este tipo de convivências. Pensei nisso várias vezes ontem, talvez por conhecer a maioria esmagadora de quem estava à minha frente.

Ao lançarmos a sessão, utilizámos a palavra «homenagem» na convocatória e o Nuno não gostou: telefonou-me três dias antes, desagradado por só então se ter apercebido de que seria o centro das atenções. Disse-lhe então o que ontem repeti: que estávamos ali para nos «homenagearmos» também, num reencontro para celebrarmos um passado de que nos orgulhamos e que, de uma maneira ou de outra, ele nos ajudou a construir. E que a nossa presença naquela sala era a prova daquilo que, certamente, ele mais gostaria de ouvir: que ainda não baixámos os braços.

O Nuno encerrou a sessão, com a limpidez e a frontalidade habituais, quase lendárias:

«Estou velho, estou a chegar aos 90 anos. Há órgãos que me estão a falhar. Um deles é a memória, que se está a desfazer como pó, o que me causa um certo sofrimento. Além da perda da visão. Mas estou muito contente, porque esta sessão, tendo sido anunciada como de homenagem à minha pessoa, e não deixando de o ser, fez também justiça a todos aqueles que conhecemos e lutaram naqueles anos difíceis.»

Mais palavras para quê.
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2 comments:

Anónimo disse...

Grande arquitecto da vida...

António P. disse...

Obrigado Joana