10.6.11

Vem de longe, o 10 de Junho


Assinala-se hoje o dia em que Camões foi transladado para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1880. Feriado nacional desde os anos vinte do século passado, a data ganhou um novo significado em 1944, quando Salazar a rebaptizou como «Festa de Camões e da Raça».

Fê-lo por ocasião da inauguração do Estádio Nacional, que ocorreu com grande pompa, em cerimónias a que terão assistido mais de 60.000 pessoas e que foram filmadas por António Lopes Ribeiro (vídeos aqui e aqui).

A linguagem é inequívoca: «Às cinco horas, chegou o chefe: Salazar. Salazar, campeão da pátria, era o atleta número um, naquela festa de campeões!». E ouvem-se comentários como este: «Já não vivemos, graças a Deus, naquela época em que parecia mal às mulheres portuguesas cuidarem da higiene e da saúde do corpo, não se preparando convenientemente para a sua altíssima função.»

Mais graves, e bem mais trágicos, passaram a ser os 10 de Junho a partir de 1963. Transformados em homenagem às Forças Armadas envolvidas na guerra colonial, eram a data escolhida para distribuição de condecorações, muitas vezes na pessoa de familiares de soldados mortos em combate (fotos reais no topo deste post).

Desde 1978, que não é Dia da Raça (excepto para alguns, excepto para alguns …). Além de Portugal e de Camões, passou a festejar-se também as Comunidades Portuguesas, mas ainda são atribuídas condecorações – outras, evidentemente, por motivos totalmente diferentes. Mas talvez fosse no entanto possível ter escolhido outra data para esta cerimónia e seus salamaleques. Foi a irmã de alguém que morreu na Guiné que me chamou a atenção para o facto: é inevitável associar qualquer distribuição de medalhas, neste dia, às trágicas imagens do Terreiro do Paço em tempo de guerra – pelo menos para quem já era vivo e ainda tenha memória.



(Republicação modificada)
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1 comments:

Fenix disse...

E com um pouco de "boa vontade" ainda se pode repetir a façanha, pois ainda temos os nossos soldados mercenários, que não deixam também de ser "heróis"...

Se os seres humanos evoluíssem nas qualidades morais e ontológicas, como nas tecnologias, o mundo seria certamente um lugar muito melhor!