10.7.11

A Moodys tem razão

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Um texto de José Manuel Pureza.

Toda a indignação é legítima. Não pela frivolidade e pela leviandade interessada irresponsável das agências de rating, mas contra as opções de política de empobrecimento que lhes serve de pasto.


E, de repente, ficaram todos indignados. E, de repente, todos viraram críticos de sempre das agências de rating. Foi como se o fervor de união nacional “a la Scolari” tivesse regressado, desta vez sob a forma de resposta unida contra a ofensa ao brio patriótico perpetrada pela Moodys.

Não nos tirem a memória. Lembramo-nos bem de que, há menos de uma semana, a quem pusesse em causa a autoridade sacrossanta destas agências hoje abutres estava destinada uma desqualificação absoluta. Lembramo-nos ainda melhor que foram as notações destas agências que foram assumidas como fundamento incontestável para legitimar a intervenção da troika e o seu alcance arrasador. Nessa altura, Passos Coelho não sentiu nenhum murro no estômago, antes achou que a economia nacional o requeria quanto antes.

E, no entanto, este consenso ofendido evita falar do essencial. E só por isso é consenso. O essencial é saber se é não verdade que Portugal não estará em condições de pagar esta dívida, com os juros fixados pela troika, tendo em conta a recessão profunda que o plano de austeridade impõe ao país. Por aí passa a linha divisória que conta. Ela não separa adeptos das agências e dos seus métodos de críticos destas nebulosas, ela separa adeptos da política de austeridade por elas legitimada de críticos dessa política. Porque quem brada contra a decisão da Moodys só porque ela desprezou o “grande e sério esforço do Governo está agora a fazer para pôr as contas públicas em ordem” através de políticas de orientação recessiva radical alimenta objectivamente as razões que a levaram a tomar aquela posição. Quanto mais recessão, mais inviabilidade de pagamento – não restam dúvidas sobre isso. Toda a indignação é, pois, legítima. Não pela frivolidade e pela leviandade interessada irresponsável das agências de rating, mas contra as opções de política de empobrecimento que lhes serve de pasto.

(Daqui.)
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