19.2.11

Taprobana


Custou mas está decidido: irei em breve não para além, mas à Taprobana propriamente dita – ou Ceilão ou Sri Lanka, como se preferir. Ficaram para trás outras hipóteses de viagens, sendo que Líbia e Egipto não me pareceram, neste momento, destinos turísticos muito aconselháveis…

Assim sendo, (juro que não fiz de propósito, a não ser que o meu subconsciente tenha agido por mim), na véspera de uma tomada de posse ali para as bandas de Belém, ponho-me a milhas, no sentido estrito do termo. Também falharei a discussão de uma moção de censura que assustou meio mundo e nem sei quantas manifestações com dezenas, milhares ou mesmo um milhão de pessoas que calcorrearão as ruas de Lisboa. Não sei se encontrarei pedra sobre pedra no regresso, mas julgo que sim: não verei nas televisões, do outro lado do mundo, o Terreiro do Paço transformado numa pequena Praça Tahrir.

E espero que, entretanto, não haja vulcões que se lembrem de vulcanizar, contágios de revoluções que se revolucionem muito para Oriente ou justas greves que parem aeroportos. Um tsunami também não me dava muito jeito…
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A revolução e os lixos


No Babelia de hoje, um belo texto de Antonio Muñoz Molina, onde se fala muito de Portugal 74 e não só.

«Algunas de las revoluciones mejores de la mía [vida] les han sucedido a otros. La primera alegría política desbordada de la que tengo recuerdo me sucedió una tarde de finales de abril en Madrid, en 1974, cuando compré el diario Informaciones, que era el que leíamos los antifranquistas, y vi el titular que anunciaba la Revolución de los Claveles en Lisboa. La dictadura acababa de caer, pero había caído al otro lado de la frontera. (…)

La libertad era posible, aunque fuera en otra parte. Nosotros imaginábamos que una dictadura era como una fortaleza de muros de hormigón y troneras blindadas que sólo sería posible tomar por asalto o derribar a cañonazos: pero en Portugal el edificio entero de la dictadura se había desmoronado sin que los militares alzados contra ella dispararan sus fusiles, y sin que los carros de combate tuvieran otra misión que la de servir para que la gente feliz escalara sus torretas. (…)

Ahora me acuerdo de aquellas revoluciones siempre ajenas, triunfales o fracasadas, viendo imágenes de las multitudes en esa plaza que de pronto se ha agregado a la geografía de la libertad, la plaza Tahrir, escuchando voces de egipcios en la radio pública americana y en la BBC, leyendo los reportajes admirables de The New York Times, donde el periodismo se sigue ejerciendo como un oficio responsable de adultos. Las decepciones de tantos años, el cinismo instintivo español, no llegan a malograrme la alegría, la antigua alegría delegada por la libertad súbita de otros. Lo que vaya a pasar mañana o el mes que viene no se sabe. Lo que pasa hoy nadie lo vaticinaba hace sólo un mes. La economía, la politología, la sociología han demostrado tener el mismo rigor predictivo que la ufología. Pero esta mañana me ha alegrado el día ver en la portada de The New York Times a la gente joven de la plaza Tahrir recogiendo hacendosamente la basura acumulada en los últimos días. En mi país las grandes alegrías colectivas suelen tener un origen alcohólico o futbolístico, y dejan tras de sí un rastro de toneladas de basura que siempre recogen otros.» (O realce é meu.)
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O Expresso da Parva Noite


Quem viu ontem ao habitual programa da SIC N, às 23h de 6ª feira, não perdeu a oportunidade de assistir a um triste espectáculo. O tema era os Deolinda (ainda!…) e um painel totalmente desequilibrado (ó Pluralismo no debate…), de três senhores encartados – Vicente Jorge Silva, Pedro Lomba e António  Dornelas – tentou, em vão, «abater» um Tiago Gillot, extraordinariamente calmo e bem estruturado, que nunca deixou de colocar as questões no plano em que elas devem ser postas, sem demagogias nem temores.

Ficarão para o anedotário da noite duas intervenções de Vicente Jorge Silva: a reivindicação da condição de precário, apesar de receber uma reforma e de continuar a fazer muitos biscates, e uma frase que disse e repetiu, com convicção lapidar, referindo-se ao pós-25 de Abril: «A liberdade paga-se com precariedade». Nem mais.

(O programa pode ser visto aqui.)
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18.2.11

O tempo é outro, não as cerejas

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(Via Mariana Avelãs no Facebook)
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Medo ou optimismo?


Tendo como referência o valor do PIB, foi declarado que a China ultrapassou o Japão, é já a segunda potência mundial e poderá tirar o primeiro lugar aos Estados Unidos em 2025.

Percurso complicadíssimo e cheio de escolhos, num país em que cerca de cem milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia, a inflação derrapa, o perigo de a bolha imobiliária rebentar é uma realidade, há falta de mão-de-obra qualificada em muitos sectores e onde as exportações representam 40% do PIB, quando os seus principais mercados externos estão em recessão ou perto dela.

Last but not the least, o governo chinês sabe que não poderá dominar e contrariar eternamente as reivindicações de direitos políticos dos seus cidadãos e tem de encarar uma vez por todas essa situação.

Externamente, a China enfrenta a desconfiança da Europa e dos Estados Unidos que temem a sua hegemonia no plano económico e desconfiam da concorrência no palco geopolítico mundial.

E, no entanto, há também razões para optimismo: «Devíamos regozijarmo-nos porque centenas de milhões de chineses estão a conseguir, pouco a pouco, sair da miséria. Mas há mais do que isso. Uma economia chinesa próspera é uma oportunidade para o conjunto do planeta. Grande consumidora de matérias-primas, ela dá um novo impulso aos países produtores, nomeadamente de África e da América Latina. Com uma população de 1.300 milhões de habitantes, oferece um gigantesco mercado às grandes e às pequenas multinacionais que lhe fornecem produtos e serviços.»

(A partir daqui.)

Claro que tem de ser possível tirar partido das grandes potencialidades de tudo isto e de muito mais. Mas não sei se estamos no bom caminho, sobretudo se temos no horizonte os enquadramentos ideológicos mínimos, indispensáveis para gerir correctamente o que aí está e o que está para chegar, necessariamente a velocidades vertiginosas. O modelo de gestão da actual «crise» não augura nada de bom. Optimismo muito mitigado, portanto…
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Não será assim tão simples...


... mas continuo a seguir o que se passa no Butão e os sucessos e insucessos do «Gross «National Happiness». Neste vídeo, o conceito apresentado de um modo muito elementar.


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Adiantando leituras


É já para amanhã que está convocada mais uma manifestação na Argélia, depois de uma outra, relativamente frágil e fortemente reprimida. No turbilhão de acontecimentos simultâneos em tantos países, tendemos a considerá-los todos mais ou menos iguais, ou pelo menos todos «árabes», o que está longe de corresponder à realidade.

No caso argelino, há uma composição étnica complexa que introduz variantes específicas: não existem apenas árabes, mas também berberes com uma longa tradição de lutas ela afirmação da identidade, o que está longe de facilitar lutas e unidades.

Talvez porque é o único de todos estes países que conheci minimamente, durante uma estadia razoável, e porque não estive só em Argel mas também na Cabília e vi as diferenças, sou especialmente sensível a este caso e aconselho a leitura de um texto publicado ontem no Buala.

«Os falantes da língua berbere ou tamazight representam um quarto a um terço da população argelina. Desde a independência do país, o árabe sucedeu ao francês como língua oficial. A política linguística argelina traduz-se por uma arabização massiva da administração e do ensino. É então em Cabília, região nordeste da Argélia, que se encontra o maior movimento de luta contra este fenómeno político-religioso. Sobretudo desde 1977, altura da criação da Universidade de Tizi-Ouzou, que esta região tem sido palco de troca ideológica, etnográfica e cultural mas também de repressão e controle por parte das autoridades oficiais do estado.

Um dos movimentos mais marcantes da afirmação da identidade amazigh na Argélia foi a “Primavera berbere” que marca o primeiro movimento popular espontâneo e abre caminho a outros movimentos que pretendem pôr em causa o regime argelino, até então nunca contestado, desde a independência do país em 1962. A Primavera berbere ocorre a partir de Março em Cabília e seguidamente, em Argel.

Para além do plano político, esta luta tinha objectivos sociais no sentido de encorajar uma geração de intelectuais a comprometerem-se num combate democrático e no plano cultural. O objectivo era quebrar o tabu linguístico e cultural, o que claramente traduz a vontade de pôr em causa a arabização intensa de toda a máquina administrativa em detrimento do berbere. Esta tomada de consciência identitária chegou a Marrocos onde estes eventos são comemorados. A Primavera Berbere é celebrada anualmente.»

(Continua aqui.)


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17.2.11

De disparate em disparate…


Se a crise durar, em vez disto, ainda chegaremos aos vouchers para uns SPA em «A Vida é Bela»!
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Talvez, talvez


(Via Ana Leão no Facebook)
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José Mário Branco - uma entrevista

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Sobre os Deolinda, a canção de intervenção, o fado e muito mais.
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O jovem Kadhafi e a nova Líbia


Depois dos graves confrontos de ontem, e quando os líbios convocam mais manifestações para hoje, «o dia da raiva», vale a pena recuar até 1969, quando um grupo de oficias islâmicos derrubou a monarquia e criou a República Árabe Popular e Socialista da Líbia, com um Conselho da Revolução presidido por Kadhafi.

Na entrevista deste vídeo, o ditador explicou então que o povo líbio estava pronto para uma mudança de regime e defendeu a passagem para um socialismo árabe de Estado. Falou também da posição da Líbia sobre Israel e sobre os conflitos no Médio Oriente. Há quase 42 anos...


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16.2.11

Os desejos de Suzanne Mubarak


É casada com Hosni Mubarak e criou há sete anos, em Genebra, uma ONG: «The Suzanne Mubarak Women’s International Peace Movement».

Em Dezembro de 2010, recebeu em Luxor um seminário, no qual foram debatidos os problemas de escravatura no mundo moderno, trabalhos forçados, venda de crianças, etc., etc. Fez então um discurso de abertura, estranhamento premonitório (?):

«Nós acreditamos no poder da juventude para criar a sua própria visão do mundo, na sua própria linguagem, com base na sua própria experiência. Contribuímos para criar plataformas onde os jovens possam fazer-se ouvir, promover iniciativas originais e reforçar as raízes da democracia nas nossas comunidades. O nosso movimento lançou, em Setembro de 2007, a «Cyber Peace Initiative» com o objectivo de ajudar os jovens líderes a tirarem partido do reservatório infinito das tecnologias de informação e comunicação para promoverem a paz e a tolerância, para reforçarem os seus próprios movimentos sociais e transformarem as ideias em acção, para maximizarem os aspectos positivos da internet, enfrentando os seus desafios.»

Objectivos atingidos!...

(Fonte)
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Para as agendas


Casa da Achada
Sábado, 19 de Fevereiro, 15:00 (entrada livre)

Organização UNIPOP e revista imprópria

Com a participação de:
Miguel Cardoso
Pedro Rita
José Soeiro
Manuel Loff
Paulo Granjo
Ricardo Noronha

«A partir dos mais diversos pontos, de Roma a Tunes, do Cairo a Oakland, de Londres a Beirute, de Buenos Aires a Atenas, de Maputo a Sana, um conjunto muito significativo de lutas, manifestações, greves, ocupações tem vindo a ter lugar. Um elemento comum, além da assinalável capacidade de mobilização, parece ser o facto de muitas destas acções assumirem, formal e substancialmente, o questionamento não só da ordem estabelecida, mas também do padrão normalizado da luta política legal e confinada aos limites do poder de Estado. Num contexto de crise do capitalismo global, a ordem pública é confrontada com uma desordem comum que toma as ruas como o seu espaço, resgatando palavras como «revolução», «revolta», «motim». O debate que propõe a UNIPOP passa por procurar identificar que outros pontos de contacto têm estes diversos focos de luta, bem como quais são os seus limites, e perceber em que medida é que um certo efeito de arrastamento pode ou não ter como consequência a constituição de uma resposta emancipadora à crise do capitalismo global, ou seja, que articulação têm estes movimentos com o paradigma da «revolução» e de que modo o reconfiguram.»
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Dramas tunisinos


É natural que os países europeus se inquietem com o fluxo de norte-africanos clandestinos que começaram a invadi-los. Para já, mais de 5.000 tunisinos que aproveitaram o caos inevitável da nova situação política e que aportaram, muitas vezes depois de correrem os maiores riscos de vida, à pequena ilha de Lampedusa, a Sul da Sicília. Se a Europa não está bem, é ainda o paraíso dourado para muitos destes povos, durante décadas espoliados por ditadores sem escrúpulos.

Mas olhe-se para o mapa, mesmo apenas para a parte mais ocidental deste Mediterrâneo por onde passaram sempre fases decisivas da nossa história, e preveja-se o que está para vir, não só da Tunísia mas também de Marrocos, da Argélia e da Líbia. Não é possível construir um «muro», marítimo ou aéreo, que vá de Gibraltar a Atenas e isole o velho continente do resto do mundo, neste caso dos seus ex-colonizados e vizinhos mais próximos. Eles já vêm para cá há muito tempo e continuarão a vir, se não em massa como agora, num fluxo mais ou menos contínuo e provavelmente mais intenso.

Numa fase crítica como a actual, o mínimo que se pode exigir é que estes migrantes sejam acolhidos dignamente, ouvidos e informados sobre os seus direitos pelas autoridades dos países a que chegam., o que parece não estar necessariamente  a acontecer. E que, nestas situações tantas vezes dramáticas, a União Europeia não reduza o apoio a medidas securitárias, como este vídeo faz temer.


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15.2.11

Obviamente, demitam-se...


,,, os computadores, é claro.


Há 40 anos que ando a ouvir coisas destas!
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O dia vai querer raiar

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Nunca nos calarão


Ontem e hoje:

We Will Never Be Silenced

Once again we proved, when we commit to something, no dictator can stand against us. Today once again, we turn on the switch to war with Dictatorship. We must not allow this switched to be turned off…. We must be united. People in Egypt, fought for 18 days nonstop, and they broke the back of dictatorship in their country. Their key to success was unity.

Our promise to each other:
Tomorrow (February 15th) @ 3:00PM
Immam Housain Sq. To Azadi Sq.
Also, please bring tents with you, so that we can spend the night together at Azadi Sq.

(Daqui)

Ontem, em Teerão: Protestos com hino nacional:




Contra esta policia:




Dozens of Iranian opposition supporters were arrested in Tehran after protesting in support of the recent uprisings in Egypt and Tunisia.
Thousands of people marched to the city’s Azadi Square where they clashed with security forces.
Officers fired tear gas to try and disperse the crowds.
One person was killed and several were wounded, according to the official Fars news agency.
Iranian state television only ran footage of a pro-government demonstration.
It accused opponents of working for the West.
Demonstrators from the two camps clashed later on Monday as tensions ran high.
The march is the first time the Iranian opposition has taken to the streets since December 2009.
Khamenei described the revolts in Egypt and Tunisia as an “Islamic awakening” but his regime has always cracked down on such dissent at home.
British Foreign Secretary William Hague urged Iran to allow people the right to demonstrate.
US Secretary of State Hillary Clinton hailed the “courage” and “aspirations” of the protesters.

(Daqui)
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14.2.11

O amanhã de Cuba


Vale a pena ler um longo texto publicado ontem, no Passa Palavra: Cuba: um olhar socialista para as reformas.

Sem certezas quanto à viabilidade das soluções preconizadas pelos autores do estudo, reconheço que dão pistas importantes para reflexão.

«Está se delineando na Ilha um modelo econômico híbrido com uma tensão cada vez maior em relação à ideologia da Revolução. Frente a este descompasso, entre as decisões econômicas e o projeto de sociedade, nossa proposta é a construção consciente de um modelo misto de economia, onde a participação democrática, a partir das unidades produtivas, sirva não só de modelo de gestão econômica, mas também como contrapeso político aos setores que poderiam desenvolver interesses materiais destinados a uma agenda de restauração do capitalismo. (…)

A atual conjuntura constata a ausência de um plano coerente de reformas que supere a discricionariedade e coordene eficazmente os diferentes atores econômicos, por via da maior autonomia empresarial e territorial, um mercado controlado e um plano indicador com maior participação de trabalhadores e consumidores nas deliberações das agendas de transformação. A persistência de dirigentes (e enfoques) políticos incrustados no modelo estatal tradicional pode ser um lastro para o êxito das reformas anunciadas. Não obstante, se vislumbram esperanças com os debates frente ao próximo Congresso do Partido Comunista, força oficialmente dirigente da sociedade cubana.

Se existe congruência entre a retórica política, as ações em curso e o compromisso com um projeto emancipador da sociedade, a direção do país aproveitará a atual convocatória ao debate para lançar uma discussão ampla, a todos os setores da população, sobre os problemas, os erros, as urgências, os recursos disponíveis e as soluções possíveis no marco de um socialismo participativo e democrático. Estes proporiam pautas para combater as tendências restauradoras do capitalismo e cuja propaganda contribui para o fim do modelo atual.»
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Porque rugem as ondas do mar: Desvio do Santa Maria. Ataque à prisão de S. Paulo. Descontentamento militar. Lutas civis.

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Conferência por Fernando Rosas (historiador)

CES-Lisboa
19 de Fevereiro de 2011, 15.00
Picoas Plaza, R.Tomás Ribeiro, 65


Ciclo 1961: o ano de todos os perigos

O ano de 1961 foi, para o regime salazarista, o ano de todos os perigos, vindo a revelar-se como o annus horribilis do ditador. Em distintos contextos, múltiplos acontecimentos marcariam esse ano, prenúncio do final do regime colonial-fascista português. Porque uma das linhas de orientação temática do CES aposta no aprofundar do conhecimento sobre o espaço de expressão portuguesa – e sobre as suas ligações históricas – este conjunto de sessões procura reflectir sobre um espaço unido por várias histórias e lutas.

Em 2011 passam 50 anos sobre esse ano de todos os perigos. Boa ocasião para recordar factos muitas vezes esquecidos, ouvindo os seus protagonistas, enquadrando-os na história comum que une Portugal e os países em que se transformaram – ou se integraram – as suas possessões coloniais.

Logo no início de Janeiro de 1961 tem lugar em Angola um levantamento de trabalhadores da Cotonang, protestando contra as condições de trabalho impostas pela companhia algodoeira. Os protestos são rapidamente reprimidos pelo exército português, mas anunciam o início da luta armada de libertação de Angola, marcada pelo ataque à cadeia de S. Paulo, em Luanda, a 4 de Fevereiro e pelo levantamento armado – que Mário Pinto de Andrade classificava como “jacquerie” – conduzido pela UPA em 15 de Março.

Entretanto, a 22 de Janeiro, elementos do Directório Revolucionário Ibérico de Libertação – congregando militantes da União de Combatentes Espanhóis e do Movimento Nacional Independente, português – apoderam-se do paquete Santa Maria, da Companhia Nacional de Navegação, que rebaptizam de Santa Liberdade, conseguindo uma cobertura noticiosa internacional e abalando profundamente o regime de Salazar.

Em Abril, a crise vem, não da oposição, mas do interior do regime, através da tentativa de golpe liderada pelo Ministro da Defesa, Júlio Botelho Moniz.

Em Junho, cerca de cem estudantes oriundos das colónias portuguesas em África que se encontram em Portugal abandonam clandestinamente o país, muitos deles para se juntarem aos movimentos de libertação.

A abolição do Estatuto do Indigenato, associado a outras reformas, em Setembro, chega demasiado tarde para travar a acção dos movimentos de libertação das colónias, entretanto reunidos na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, CONCP.

A 10 de Novembro, Hermínio da Palma Inácio comanda o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque, a fim de lançar sobre Lisboa milhares de panfletos apelando à revolta contra a ditadura.

A 18 de Dezembro, tropas da União Indiana ocupam os territórios de Goa, Damão e Diu. Salazar ordena que as tropas portuguesas lutem até à última gota de sangue, mas o governador, general Vassalo e Silva, recusa-se a obedecer à ordem do Presidente do Conselho e opta pela rendição.

E, na noite de fim de ano, uma tentativa frustrada de assalto ao quartel de Infantaria 3, em Beja, leva à morte do então sub-secretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca.

Projecção do Filme: Santa Liberdade, de Margarita Ledo (2004).

Organização:Maria Paula Meneses e Diana Adringa.
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Inxalá...

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Pela boca...

Na minha primeira estadia nos Estados Unidos, «calhou-me» o Dia das Bruxas. Na segunda, o dos Namorados. Pensei duas vezes: «Ainda bem que na Europa não há destas fantochadas!»

(O desenho é da Gui Felga)
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13.2.11

Como morre uma ditadura?


Em El País de hoje, um artigo de Moisés Naím.

«Por qué Egipto y no Marruecos? ¿Por qué en China sigue mandando el Partido Comunista, pero se hundió la Unión Soviética? ¿Por qué Fidel Castro ha sobrevivido en el poder y Augusto Pinochet no? En fin, ¿qué determina que algunas dictaduras sean depuestas y otras se perpetúen? Las razones son tan variadas como la naturaleza misma de estos regímenes. Hay dictaduras que son totalitarias y brutalmente represivas. Otras son dictablandas que intentan hacerse pasar por democracias: organizan elecciones que nunca pierden, toleran una oposición anémica y permiten periódicos "libres" que pocos leen. (…)

Los militares son siempre el actor determinante. Todas las tiranías dependen de ellos.»

Factores importantes:
- a mudança;
- a velhice;
- a luta pelo poder;
- erros fatais;
- o contágio;
- a informação.

«Esta lista no es exhaustiva y además siempre hay más de uno de estos factores en juego. También es cierto que estos elementos a veces no bastan y hay dictaduras que, a pesar de todo lo anterior, sobreviven. Pero, siempre, el actor determinante - y poco predecible - son los militares. Todas las tiranías dependen de ellos. A veces los militares están exclusivamente al servicio del tirano. En otros casos, cambian de parecer y deciden defender a su patria, y no al régimen. Al final, lo único que cuenta es si los militares están dispuestos a disparar contra sus compatriotas. Cuando se niegan a hacerlo, nace la libertad.»

(Na íntegra aqui.)
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Evocações, homenagens


Frei Bento Domingues publicou, no Público de hoje, um texto sobre uma sessão de homenagem a Nuno Teotónio Pereira, na qual foram evocadas as actividades de duas cooperativas fundadas nos anos 60 – a Pragma e a Confronto –, sessão essa que já foi largamente noticiada neste blogue.
Antes de mais, refira-se que o Frei Bento não foi só um entre as centenas de participantes que encheram a sala, nem sequer um simples compagnon de route de grande parte deles, mas sim um protagonista, desde as primeiras horas, de tudo o que esteve em causa naquela tarde: a Pragma, a Confronto e muitas outras iniciativas, legais e clandestinas, que envolveram católicos progressistas, e não só, nas lutas contra a ditadura.
De louvar que tenha decidido recordar publicamente a pessoa da Natália Teotónio Pereira, através da publicação de parte de um texto escrito pelo Nuno e que foi publicado originariamente neste blogue.

1. No passado dia 5, numa grande sala, completamente cheia, da igreja do Sagrado Coração de Jesus, obra arquitectónica de Nuno Teotónio Pereira e de Nuno Portas, declarada, em 2010, monumento nacional, foi prestada homenagem a Nuno Teotónio Pereira, lembrando duas cooperativas – a Pragma (Cooperativa de Difusão Cultural e Acção Comunitária, 1964-1967, Lisboa) e a Confronto (Cooperativa Cultural, 1966-1972, Porto) – às quais esteve intimamente ligado, desde a fundação até serem encerradas pela ditadura.

Nuno Teotónio já recebeu muitas homenagens, condecorações e prémios. Todos são insuficientes para celebrar esta personalidade rara. Na sua intervenção, Jorge Sampaio marcou, com ênfase, que esta figura não pode ser anexada por ninguém. Não cabe em nenhuma classificação, em nenhum grupo, em nenhuma das suas obras. Sempre empenhado no concreto, fica sempre acima das circunstâncias.

No final da sessão, Nuno Teotónio agradeceu: “Estou velho, estou a chegar aos 90 anos. Há órgãos que me estão a falhar. Um deles é a memória, que se está a desfazer como pó, o que me causa um certo sofrimento. Além da perda da visão. Mas estou muito contente, porque esta sessão, tendo sido anunciada como de homenagem à minha pessoa, e não deixando de o ser, fez também justiça a todos aqueles que conhecemos e lutaram naqueles anos difíceis”.

2. Esta homenagem, muito bem preparada, incluía uma apresentação do livro de Mário Brochado Coelho, Confronto – Memória de uma Cooperativa Cultural, Porto 1966-1972, das Edições Afrontamento. A Confronto foi um lugar de diálogo entre pessoas, ideias e grupos diferentes mas que se situavam dentro de um quadro mínimo de defesa dos direitos humanos e oposição política ao regime fascista de Salazar e Caetano.

Como o próprio autor sublinhou, contrariando a nossa habitual tendência de “fazer história” com base num ponto de vista único centrado exclusivamente em Lisboa, procurou recuperar e dar a conhecer os principais traços do nascimento, actividade, encerramento e significado desta instituição político-cultural do Porto. Ao longo dos anos, a Pragma, situada em Lisboa, foi sempre conhecida, referenciada e glorificada, e a Confronto, como era do Porto, era a ignorada. Era como se não existisse. Mário Brochado Coelho, ligado à Pragma desde o começo e um dos fundadores da Confronto, resolveu acabar com esta ignorância, traição à memória e à verdade, mediante uma rigorosa investigação. O resultado está, agora, num livro notável e absolutamente incontornável.

Júlio Pereira, das Edições Afrontamento, lembrou a história militante deste nome, recebido dos Cadernos Afrontamento dos anos 60, pois “quando a desordem se torna ordem, uma atitude se impõe: afrontamento”.

Humberto Delgado assassinado pela PIDE há 46 anos


«Assinala-se a 13 de Fevereiro a data da morte de Humberto Delgado, assassinado há 46 anos pela PIDE, nas cercanias de Olivença numa operação intitulada “Operação Outono” destinada ao “cerco e aniquilamento” do General sem Medo que se apresentou como candidato à Presidência da República em 1958 contra o regime de Salazar.

“Operação Outono” é também o título do filme de Bruno de Almeida que já está em fase de rodagem. Baseado no livro “Humberto Delgado, Biografia do General Sem Medo” de Frederico Delgado Rosa, neto do General, este filme retrata os detalhes da operação que levou a brigada da Pide, chefiada pelo agente Rosa Casaco, a cometer um dos assassínios mais brutais do Estado Novo.

O papel de Humberto Delgado é desempenhado pelo actor americano John Ventimiglia, conhecido da série “Os Sopranos”, e com o qual Bruno de Almeida já fez três filmes. “Operação Outono”, produzido por Paulo Branco, conta no elenco com os actores Nuno Lopes, Nicolau Breyner, Rogério Samora, Marcello Urgeghe, Ana Padrão, Carlos Santos, Fernando Lopes, Carla Chambel, Diogo Dória, Pedro Efe, Adriano Carvalho, Cleia Almeida, Carlos Paulo, Filipe Vargas, entre muitos outros. Conta também com uma participação especial de Camané.

As filmagens estão a decorrer entre Portugal e Espanha e o filme, que tem o apoio do ICA, da RTP e da Fundação Humberto Delgado, estreia nos cinemas no final de 2011.»

(Press Release da Fundação Humberto Delgado)
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