26.3.11

Da indignação à acção


Depois do pequeno livro de Stéphane Hessel Indignez-vous!, já traduzido em português, chegou a vez de ser anunciada, em Espanha, uma obra colectiva – Reacciona – que chegará às livrarias dentro de poucas semanas (com prefácio de Hessel).

Reunindo um leque de autores de diversas gerações e actividades profissionais, entre os quais Baltasar Garzón, Ignacio Escolar e José Luis Sampedro, o livro pretende «dirigir-se à sociedade em geral, e aos jovens em particular, tentando consciencializar e provocar uma reacção face às medidas neoliberais impostas como única saída possível para a crise».

«É uma falácia falar unicamente de crise financeira. A crise é política. É a crise do sistema de vida ocidental», «gravemente enfermo» e com resultados demolidores.

Não é verdade que a actual crise fosse imprevisível, muitos economistas alnunciaram a sua chegada, mas as autoridades «cruzaram os braços» e «procuraram servir, não os interesses públicos, mas sim os das grandes empresas».

Etc, etc, etc.: mais informações aqui.
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... demandez l'impossible

«Austeridade? Impressão sua»


Miguel Portas divulgou este texto ontem, no Facebook. Merece ser lido porque ajuda a perceber, uma vez mais, como funciona a defesa de interesses próprios dos que representam os europeus no seu Parlamento. Assim, não vamos lá . só vão eles…

Quinta-feira, 24, a comissão de orçamentos do Parlamento Europeu aprovou a proposta de Orçamento que a Mesa desta instituição lhe apresentou (para 2012). Ela prevê um aumento de 2,3 por cento na despesa, em linha com a inflação prevista. Eu propus, perdendo, que o valor fixado fosse "significativamente inferior à taxa de inflação prevista para 2012" . Era possível desde que "as poupanças contemplassem as rubricas orçamentais relativas aos deputados". Fui classificado, com justiça de "o mau da fita" pelo presidente da comissão e a maioria PPE/PSE rejeitou as emendas que apresentei. Mas desta não estive só... sete eurodeputados em 30 votaram contra o relatório de José Manuel Fernandes (PSD).

As minhas propostas foram mais do que moderadas. No passado, tinha sido contra os aumentos para a contratação de assistentes (1500 euros em 2010 e outros tantos em 2011) e essa factura estava agora fora de discussão porque ninguém se lembrou de pedir mais ainda. Fora também contra as viagens em business e prossegui essa batalha, agora de forma refinada, retirando argumentos a quem invocava a idade e a saúde para viajar com maior conforto. Em troca, introduzi um novo capítulo - o "congelamento" de salários e mordomias. Quis ver até onde podia ir o cinismo entre quem não hesita em aplicar reduções no seu país, mas nem congelamentos aceita para si. Desta vez, tive o cuidado de avisar, antes do voto, todos os meus colegas sobre o significado de decidirem em interesse próprio. Não fosse terem-se esquecido... (ver vídeo).


25.3.11

Despertar Portugal?


Andamos nós preocupados com problemas comezinhos como a queda do governo, a perspectiva de eleições e os bombardeamentos na Líbia e há entre nós quem se apresente como «um movimento invisível que permeia as estruturas e a sociedade portuguesa com um vento de mudança» e queira «oferecer à sociedade civil uma proposta integral, coerente e completamente nova em relação aos movimentos do passado. Uma proposta de vida alternativa. Para Portugal e para todo o Planeta».

Está tudo num mail, recebido hoje à tarde, e vale a pena visitar o site do dito Movimento. E eu que falhei isto: MULHERES DA TERRA, MULHERES NA TERRA... Um Encontro Feminino banhado pela Lua cheia!

Subject: Vamos celebrar!

Querido/a Amigo/a

se estás a receber este e-mail é porque, de alguma forma, estás já desperto/a para celebrar a Nova Terra e desempenhar a parte que te cabe no Todo.

independentemente de acções e intenções que cada um de nós já manifesta e leva a cabo na sua vida de todos os dias, hoje venho fazer-te um convite para estares presente no próximo dia 27 de Março, Domingo, pelas 15h00, numa celebração onde te será dado a conhecer o Movimento Despertar Portugal.

http://movimentodespertarportugal.blogspot.com/

como diz João Teixeira da Motta, criador do Movimento e seu porta-voz neste momento ‘o que propomos é que o nosso movimento, que é pelo espírito e pela revolução da consciência, faça um esforço de unificação. Para que possamos oferecer à sociedade civil uma proposta integral, coerente e completamente nova em relação aos movimentos do passado. Uma proposta de vida alternativa. Para Portugal e para todo o Planeta.’

a intenção vai para além da troca de teorias avulso e pretende-se que nasça daqui a organização de uma celebração de maiores dimensões, entre outras ideias concretas que possam surgir em cada um.

sendo já este, tenho a certeza, o teu movimento, o convite é para que venhas celebrá-lo, então, em conjunto. o encontro terá lugar em minha casa, na Cruz-Quebrada, na Rua Sacadura Cabral, 44 – 2º esq.

uma vez que será no jardim, ao ar livre, sugiro que tragas uma cadeira portátil, um banco ou uma almofada, em prol de maior conforto, ou então nada: que há relva que chegue para se instalarem todos.

o João Teixeira da Motta estará obviamente presente e a ele caberá a apresentação – em termos mais formais – do Movimento.

sugiro também que tragas qualquer coisa que possamos depois partilhar, à laia de lanche. e que venhas vestido/a de branco, porque no branco podemos desenhar tudo de novo. e, claro, podes trazer quem quiseres.

abraços
,,,

A Demissão - desta vez ainda não foi assim (mas quase...)

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Ainda sobre austeritarismo


Mais um texto, neste caso de Paul Krugman e publicado ontem em The New York Times - The Austerity Delusion -, que põe o dedo nas feridas provocadas pelo austeritarismo reinante. É pouca toda a insistência que possa ser feita sobre este tema…

«Portugal’s government has just fallen in a dispute over austerity proposals. Irish bond yields have topped 10 percent for the first time. And the British government has just marked its economic forecast down and its deficit forecast up.

What do these events have in common? They’re all evidence that slashing spending in the face of high unemployment is a mistake. Austerity advocates predicted that spending cuts would bring quick dividends in the form of rising confidence, and that there would be few, if any, adverse effects on growth and jobs; but they were wrong.(…)

It was not always thus. Two years ago, faced with soaring unemployment and large budget deficits — both the consequences of a severe financial crisis — most advanced-country leaders seemingly understood that the problems had to be tackled in sequence, with an immediate focus on creating jobs combined with a long-run strategy of deficit reduction. (…)

So jobs now, deficits later was and is the right strategy. Unfortunately, it’s a strategy that has been abandoned in the face of phantom risks and delusional hopes. (…)

In short, we have a political climate in which self-styled deficit hawks want to punish the unemployed even as they oppose any action that would address our long-run budget problems. And here’s what we know from experience abroad: The confidence fairy won’t save us from the consequences of our folly.»

Na íntegra aqui.
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Uma vergonha para a pátria

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Este é o videoclip oficial que será difundido, internacionalmente, durante o festival da Eurovisão, que terá lugar no reino da senhora Merkel. E, horror dos horrores, com as imagens da manifestação da Geração à Rasca, do passado dia 12 de Março!
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24.3.11

Ide e lede


Menos de 24h depois do tsunami que arrasou S. Bento, são já muitos os textos publicados na blogosfera, com excelente matéria para reflexão a vários níveis.

Destaque para um post de José M. Castro Caldas: A “esquerda” que se sujeita e a direita que mente.

«Parece-me que ganhamos alguma coisa se olharmos para a nossa crise política como resultado e início de uma nova fase, directamente política, da (Des)união Europeia em construção. (…)

O austeritarismo é na realidade todo um programa de destruição dos serviços públicos, dos direitos laborais, do Estado Social e a crise a oportunidade para o executar. É um programa incompatível com os valores mais básicos da esquerda, de que nenhuma força política de esquerda, ou vagamente de esquerda, pode ser executante sem que com isso se suicide. É também um programa que violenta algumas das aspirações mais sentidas da maioria dos europeus que nenhuma força política de direita pode assumir sem que com isso perca a menor das hipóteses de vir a governar em democracia.

Em resumo, o austeritarismo – o programa político que “os mercados globais” determinam – condena à morte qualquer “esquerda” que a ele se queira submeter e obriga a direita a ocultar as suas intenções sob uma retórica justicialista ou nacionalista. Forçados a “escolher” entre uma “esquerda” que se sujeita “aos mercados” (e não os sujeita) e uma direita hipócrita, só podemos desesperar da política. A “esquerda” que se sujeita afunda-se para ser substituída pela direita que mente enquanto a mentira não se torna patente para voltar a “esquerda” que se sujeita com promessas que não pode, ou nem mesmo quer, cumprir. O tempo político comprime-se. Os ciclos políticos tornam-se cada vez mais curtos. Isto é aquilo a que deveremos talvez chamar ingovernabilidade.

Os chamados países periféricos da zona euro (e com eles toda a União Europeia) estão a ser empurrados para um trilema: ou se deixam transformar em protectorados com “governos” de turno efémeros, de direita ou de “esquerda”, a executar o programa austeritário até que a recessão, a divergência e a bancarrota os separe do continente; ou partem eles próprios à aventura; ou não se sujeitam e, coordenadamente entre eles e com outras esquerdas europeias que não se sujeitam, conseguem inflectir o rumo suicidário que foi imposto à Europa.

Por mim prefiro a reconstrução europeia e uma esquerda que não se sujeite em Portugal e que dê prioridade à construção de uma esquerda europeia que não se sujeita, representando-a em Portugal. Uma esquerda que tenha a sabedoria necessária para evitar as recriminações contra os que têm tido a coragem e a energia de dar o melhor de si e seja capaz de nos oferecer um lugar político abrangente e suficientemente poderoso para além da “esquerda” que se sujeita e da direita que mente.»
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Hoje

… como em 24 de Março de 1962.

E o habitual jantar, na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa.

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Próximo governo: mais do mesmo?


Nada improvável. O PS, com Sócrates, pode vir a ganhar as próximas eleições, com a mesmíssima maioria relativa que hoje detém, pelas razões que Ana Sá Lopes explica hoje em O animal não moribundo.

Boas esperanças? Claro que não. São necessárias melhores alternativas: a procissão ainda nem saiu do adro!

Alguns excertos do texto de ASL:

«Se a ordem natural das coisas será o PSD ganhar as eleições, subestimar a anormal força anímica de Sócrates será um erro político.

Esta crise política iniciou-se no dia 27 de Setembro de 2009, quando o PS não conseguiu a maioria absoluta. O resultado eleitoral, muito razoável para o PS depois de quatro anos difíceis para o primeiro-ministro, nunca serviu o "verdadeiro" Sócrates - a negociação contínua que uma maioria parlamentar relativa exige não é a sua praia. Ele não foi feito para isto. (…)

A somar ao impulso de Sócrates para a abertura de uma crise política na primeira melhor oportunidade, a reeleição de Cavaco Silva e os desejos de uma parte substancial do PSD de se apresentar a votos antes que seja tarde, completam o ramalhete. Restam o PCP e o Bloco de Esquerda, e para estes qualquer solução, incluindo eleições, será sempre melhor que ficar associados ao apoio a um governo que cumpre as ordens do directório Merkel/Sarkozy, dois expoentes da direita europeia. Não havia mesmo nada a fazer. (…)

A narrativa eleitoral que ontem o secretário-geral do PS desencadeou pode vir a ter um sucesso inesperado: o homem que defendeu Portugal até ao limite da intervenção do FMI, cuja intervenção na Grécia e na Irlanda é de provocar o terror generalizado e que ao passar por Portugal em 1983-85 foi de muito má memória. (…)

Se a ordem natural das coisas é o PSD ganhar as próximas eleições, subestimar a anormal força anímica de Sócrates será sempre um erro político.»
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23.3.11

Boys à rasca


Não é que tenha muita graça, mas varreu hoje a net e vem mais do que a propósito...
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AR, Primavera 2011

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Cfr. José Milhazes no Facebook:

«Caros, estou a assistir ao debate no nosso Parlamento. Veio-me à memória uma obra de Alexandre Pushkin, poeta russo: "Banquete em tempo de peste". Faz-me lembrar uma anedota da era soviética, quando o partido comunista apelou a dar um passo em frente quando o país se encontrava no limiar do abismo!»
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Primeiras impressões


Três horas de escala em Madrid deram para ler El País e o Público.es, de ponta a ponta, com detalhes sobre «El riesgo de crisis política [que] amenaza con llevar a Portugal al rescate».

Quanto à Líbia, as notícias não são más: são péssimas.

Vinte e cinco horas depois de ter saído do hotel em Colombo, aterrei na Portela. Havia vento em Lisboa, mas não lhe perguntei notícias do meu país: é sabido que o vento cala a desgraça…

Fazer rewind e regressar a Ceilão?
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22.3.11

A que horas?


Em estágio de espera para regressar a Portugal, dou com este título:


Passos Coelho promete «uma coligação alargada» (não percebo exactamente com quem), o CDS diz que não quer entrar na «contradição ruidosa» entre PS e PSD, Sócrates reafirma «ou eu ou o FMI», Jerónimo de Sousa diz que chumbo do PEC não implica a demissão do governo e Louçã defende que há caminho para «uma esquerda alternativa».

Ou seja???
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21.3.11

Colombo, Líbia, etc. e tal


De novo em Colombo, e já em estágio para o regresso que começa amanhã e durará quase vinte e quatro horas, continuo a ver nomes portugueses por tudo quanto é sítio, o que até é intrigante porque não há vestígios equivalentes dos holandeses que nos substituíram na nobre missão de colonizadores por estas trapobanas.

Trata-se de uma capital com um milhão e meio de habitantes, um pouco confusa mas quase «suíça», se comparada com cidades indianas como Bombaim ou Calcutá, ou mesmo com outras de menor dimensão. Templos budistas um tanto compósitos, com estátuas, salas de estar e elefantes vivos que coexistem numa (tórrida) harmonia, tuc tucs e outros que tais que cruzam riscos contínuos duplos com uma calma olímpica e eficaz.

Enfim, em breve mergulharei de novo em PECs e re-PECs e, também, num mundo de certezas sem dúvidas, que, por aí, parece ter tomado conta da blogosfera e do Facebook. Estou a pensar concretamente na Líbia e na intervenção em curso, sobre a qual não consigo deixar de ter dúvidas e um mar de hesitações que parecem não inquietar os meus compatriotas, freneticamente por ou contra, num mundo nitidamente pintado a preto e branco. O problema é certamente meu, mas, com tudo o que tenho visto e ouvido nas televisões, vejo sobretudo vários tons de cinzento. Deve ser deste clima – ou da distância.

P.S. – Não posso estar mis de acordo com o que Ricardo Noronha escreveu no Vias de Facto:
«Não tenho ainda muito claras as ideias acerca do que se está a passar na Líbia, mas assim de repente já tenho uma opinião formada sobre o que se está a passar numa série de blogs em Portugal. (…) Nenhuma vida se perde ou se ganha devido ao que nós aqui escrevemos. Sei que custa a aceitar este facto, mas talvez seja útil relembrá-lo, uma vez que, nos últimos dias, quase se poderia julgar que a linha da frente do conflito na Líbia passou pelo meio dos nossos teclados. Para o bem e para o mal, não é esse o caso.»
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20.3.11

Um dia, isto acabará


O Sri Lanka é um país maioritariamente budista e o islamismo é seguido apenas por 8% da população, embora se sinta bem a sua presença nalgumas pequenas localidades por onde passei. Mas vêem-se muitos turistas estrangeiros, sobretudo nas praias, imediatamente identificáveis pelo dress code feminino.

E em verdade vos digo: por mais tolerante que se procure ser, é mesmo revoltante ver o marido em tronco nu, como qualquer banhista normal, divertido e refrescado, a brincar com os filhos pequenos no magnífico Índico, e a mulher vestida dos pés à cabeça, isolada a distância, à torreira de um Sol que nem vale classificar como abrasador porque nem há palavras para imaginar como é insuportável!

Não vi uma nem duas, mas várias. Convictas? Resignadas? Não sei. Impenetráveis e com o ar mais triste deste mundo.
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