19.11.11

Berlim

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As convicções profundas de João Duque


Eu não quero perder o rasto desta «grande» entrevista a João Duque, publicada no DN, e fica por isso aqui localizada para memória futura. E como ele considera que os governos podem manipular informação, eu também «manipulo» a dita entrevista, dando especial realce a algumas passagens (mas pode ser lista na íntegra…).

Não adianta que alguns ministros tenham vindo entretanto dizer que não concordam com parte do Relatório que uma equipa dirigida por este senhor elaborou. Trata-se de uma pessoa da confiança do actual Executivo e não vi que este a tenha condenado publicamente, de forma expressa.

«Acho que este conceito de serviço público deve ser definido mesmo em momentos de abundância de meios e recursos financeiros. Deixe-me dar-lhe um exemplo: quantas padarias é que o Estado tem? E no entanto o pão nosso de cada dia é das coisas mais sagradas que temos. Vamos lá ver se nos entendemos. Podia perfeitamente surgir um movimento na sociedade portuguesa que defendesse que o Estado devia ter padarias e mais padarias e mais padarias. Ou não. As padarias não são um negócio que interesse ao Estado. (...)

Os privados são as entidades que mais facilmente encontram falhas para mais colmatarem com aquilo que têm. Repare no meu exemplo anterior. Eu ainda sou do tempo em que não havia pão ao sábado e ao domingo e que o pão que comíamos ao fim-de-semana era o de sexta-feira. Veja lá se hoje não temos pão ao sábado e domingo e com fornadas quentinhas em determinadas horas do dia? (…)

O Telejornal é habitualmente mais visto do que os jornais da SIC ou da TVI. E isso acontece há muitos anos.
Isso não é verdade. Os portugueses não preferem a informação da RTP, porque se juntar a audiência dos dois privados, verá que há mais gente a ver a informação dos privados do que a da RTP.

Se quiser ver dessa forma, pode ver, mas as audiências não se vêem assim.
Posso ver os números como eu quiser. (…)

Eu ouvi-o dizer que defende que a informação dessa antena internacional pode estar ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que passaria a ser a tutela desse canal. Explique-me uma coisa: mas isso seria informação ou propaganda?
Chame-lhe o que quiser. Os governos são sufragados e têm legitimidade para, no meu entendimento, usar o canal internacional para passarem a imagem de Portugal que eles entendem. (…)

Está portanto a deixar ao livre-arbítrio do Estado?
Não. O que estou a dizer-lhe é que o Governo foi sufragado e a comunicação aí faz parte da política de relacionamento externo.

Mas não há uma baliza? O mesmo governo foi sufragado e os senhores não querem que o Governo interfira na informação da RTP1...
Não há uma baliza. Há a baliza que o Governo eleito colocar no seu programa eleitoral. Essa é a baliza. Porque foi sufragado.

O Estado Novo também fazia isso...
... (de forma veemente) Oh, meu amigo, mas era aqui internamente que fazia isso.

Lá para fora também.
Claro, o que havia aqui ia lá para fora. O que defendo é que o Governo utilize o canal internacional como um instrumento da sua política diplomática. Agora, se quer dar liberdade aos jornalistas para mostrar as barracas, as praias poluídas, o território todo a arder, um massacre, as greves todas... e por aí adiante, que o faça. É fabuloso, depois os turistas não põem cá os pés. (…)

Está a ver os velhinhos e as velhinhas, que são maioritariamente o público da RTP Memória, de iPad na mão ou na Internet a ver os conteúdos do canal que o grupo de trabalho acha que deve ser descontinuado?
Oiça, os velhinhos e as velhinhas vão falecer, infelizmente. É a lei da vida. E a rapaziada que está aí hoje vê muitíssimo mais televisão no computador do que na televisão.»

P.S. - João Duque insiste e esmera-se, em artigo publicado hoje no Expresso (sem link): «A nova ZBD».
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É que já nem dá para apagar só um da fotografia

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Penicos


«No século XIX os conservadores argumentavam que o socialismo seria impossível porque não haveria ninguém para despejar os penicos. Blanqui, um revolucionário que passou em prisões variadas mais de metade da sua vida adulta, respondeu que no socialismo cada um limparia o seu próprio penico. Ele não previu que houvesse hoje quem defendesse que não é preciso ninguém limpar os penicos.»

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18.11.11

Perdas

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Nem só de política é feito este blogue, e muito menos a vida, e por isso aqui fica o belíssimo texto que a Fernanda Câncio publicou hoje no Jugular.

«cada vez mais acho que a amizade segue as mesmas, mesmíssimas leis do amor, até na paixão e no desencanto, na prova de fogo das traições e das grandes zangas. no fundo, talvez tudo se resuma sempre a algo que não podemos concretizar em razões e motivos claros, ou sequer compreensíveis. amamos os nossos amigos com volúpia e arrebatamento, com suavidade e desvelo, com a urgência que advém de sabermos que sem eles somos menos, menos felizes, menos completos, menos fortes, menos capazes. mas às vezes, como no amor, exactamente como no amor, alguma coisa se parte, se quebra, se estraga, e já não são o quase tudo que eram para nós. e recolheremos evidências desse novo estado com a mesma perseverança e naturalidade com que antes amealhávamos as da consanguinidade. e olhá-los-emos nos olhos com a distância directamente proporcional ao tanto que nos foram, experimentando como o gume de aço, até cortar, essa frieza imperial. e pensaremos: era de ti que eu gostava tanto? era a tua voz que queria ouvir todos os dias, era a ti que queria contar tudo, era a tua opinião que eu procurava sempre? eras tu o meu irmão?

poder assim perder família, caminhar assim nas ruínas de uma cidade de ex-amigos. como quem deixa para trás litros de sangue e sobrevive um pouco mais forte. sempre um pouco mais forte, sempre um pouco mais longe.»
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Porque devemos exigir uma auditoria cidadã?


Resumidamente,

Existem duas razões principais:

a) Uma auditoria cidadã é a única modalidade que oferece garantias em termos de transparência e prestação de contas à sociedade civil. Além disso, é a única que garante rigor e precisão na detecção de dívida legítima, ilegítima e insustentável.

b) A auditoria cidadã tem o objectivo de clarificar o processo de reestruturação da dívida e torná-lo político. Com uma auditoria cidadã, a reestruturação passará obrigatoriamente por considerações de justiça social e não apenas por obrigações contratuais ou pela satisfação das prioridades de credores (especialmente de credores que são co-responsáveis pela contracção de dívida ilegítima/ilegal/insustentável).

Ler mais aqui.
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Desculpem a insistência


... mas é irresistível: na continuação do que aqui publiquei ontem, Artur Neves deixou-me isto no Facebook.
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A caminho de um governo de salvação nacional?


Na sua crónica de hoje no DN, José Manuel Pureza chama a atenção para um facto que não tem sido suficientemente sublinhado: a especificidade da situação portuguesa, quando comparada com a de alguns outros países europeus recentemente intervencionados, que resulta do facto de as últimas eleições legislativas terem sido precedidas pela assinatura de um acordo que amarra três partidos, entre os quais um – o PS – que, não estando no governo, ficou entre a espada e várias paredes e não consegue resituar-se. Por escolhas várias e inabilidade também, é certo. 
Caminhamos para um governo de salvação nacional? Para já nem é necessário, mas é bem provável que o futuro próximo o imponha.

«Portugal não escapa a esta onda pós-democrática. As eleições de 5 de Junho foram já um desvio grave ao que deve ser um genuíno pronunciamento popular sobre as propostas dos diferentes partidos - a troika tinha assegurado a assinatura de sangue dos três principais partidos para que, qualquer que fosse o resultado, o programa a aplicar no dia seguinte fosse o acordado com ela. E nas próximas semanas acentuar-se-á a pressão para uma governação "de unidade nacional". PS e PSD, sob a batuta da troika e dos seus ideólogos internos, dão sinais inequívocos de ir nesse caminho. Só que esta não será uma unidade nacional para defender a democracia, mas para a minorar quer no campo político quer no terreno social. Uma "unidade nacional" para mais facilmente conseguir o completo desmantelamento do Estado social, do serviço Nacional de Saúde ao salário mínimo e às pensões.

Refém da irresponsabilidade da ganância, a Europa não hesita em acolher governos ilegítimos e em adoptar como seu o discurso de que o voto do povo é um empecilho para "o que tem de ser feito". Esta Europa tem medo da democracia. E só a democracia pode resgatar a Europa.»

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17.11.11

Benetton caseira

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Perdoai-nos as nossas ofensas…


Não sei se a campanha que a Benetton lançou «Contra o Ódio» alcançará o objectivo anunciado, mas uma coisa parece certa: com meia dúzia de cartazes, chamou a atenção do mundo, chocou talvez homofóbicos (Obama a beijar Hu Jintao e Chávez?!...) e, sobretudo, sobressaltou o Vaticano, nada preparado para ver o representante de Deus na terra a beijar na boca o Imã do Cairo.

De acordo com a Benetton, as imagens de reconciliação entre líderes mundiais, de opiniões habitualmente discordantes, são símbolos que estimulam a reflexão sobre o diálogo como modo de superar divergências.

Não consta que a Casa Branca ou outros tenham reagido, mas Roma ameaçou com tribunal, a empresa italiana retirou da campanha o cartaz e pediu desculpa.

Regressa a sensação do dejà vu, em todo o seu esplendor. Pode-se utilizar tudo e todos os senhores da terra, a brincar ou a sério, mas não é permitido tocar em religião ou nos seus dignitários, seja em Maomé com caricaturas, no nariz de João Paulo II com preservativos ou na boca de Bento XVI.

Sociedades laicas e empresas comerciais recuam, pedem desculpa e ajoelham-se. É assim.


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Como a desigualdade económica prejudica as sociedades

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Excelente apresentação de Richard G. Wilkinson, legendada em português. É longa (quase 17 minutos), Portugal não fica bem em muitas das fotografias, mas vale a pena ver e ouvir. Se não tem tempo agora, regresse mais tarde…


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E no fim ganhava a Alemanha

@Gui Castro Felga

«Imaginemos, agora, que os europeus são chamados a eleger um Presidente. Com os seus 62 milhões de eleitores (a França conta com "apenas" 44 milhões), mais os dos países com trajetos económicos e culturais comuns, ou politicamente dependentes de Berlim, quem poderia ganhar eleições senão um partido, ou um candidato alemão ou apoiado pelos alemães, ou ainda melhor, por franceses e alemães, de forma a termos as mesmas políticas que hoje aí estão, tendo, entretanto, perdido o resto de soberania que ainda detínhamos? Como evitar que tudo decorresse segundo a lógica do televoto do festival da Eurovisão - ou seja, como se fugiria ao voto étnico e como seria possível Portugal não ficar em último? (…)

Já tivemos uma amostra deste tipo de federalismo: a substituição dos "governadores provinciais" de Itália e da Grécia. E é sob essa pressão que o nosso primeiro-ministro vai mostrando serviço, corroborando, à risca, para não dizer "à rasca", todas as teses do eixo Berlim-Paris.»

Filipe Luís na Visão, O festival da Eurovisão
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16.11.11

Uma imagem que pode ficar para a História


Atenas, 3 de Outubro de 2011

(Daqui.)
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Nem Salazar ousou


«O governo dos Álvaros quer eliminar o feriado do 5 de Outubro, o que nem o salazarismo ousou em mais de 40 anos.» (José Medeiros Ferreira)

Para além de esta questão de eliminar feriados ser um puro disparate para troika ver, podiam ter escolhido, por exemplo, o 10 de Junho, certo? Mas não seria a mesma coisa… E ainda lhes falta um grãozinho de coragem para acabar com o 25 de Abril e o 1º de Maio – lá chegarão.
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Ontem

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Não discutimos a pátria


Ocupada ontem noutras arenas, só muito tarde li umas das mais badaladas notícias do dia: as declarações de João Duque, à margem de um relatório sobre o futuro da serviço público de televisão e rádio.


Mas foi ainda mais claro e preciso sobre o papel do governo:

«Se quiser manipular mais ou manipular menos, opinar, modificar, é da sua inteira responsabilidade. Porque estamos convencidos que o faz a Bem da Nação, porque foi sufragado e foi eleito para isso.»
(Transcrito do som publicado aqui.)

Com boa vontade, prefiro crer que o «A Bem da Nação» de João Duque está ao nível do «Dia da Raça» de Cavaco Silva – gafes de quem não tem memória nem sensibilidade. Mas repito: com (muito) boa vontade.

Pior, muito pior, é que o desgraçado governo que temos tenha escolhido alguém que conhece muito bem e que, descaradamente, aconselha a ressurreição da censura. Sim, porque é disso que se trata, explícita e claramente. Há outra etiqueta para «manipular, opinar e modificar» informação?

Já outros o pensaram e disseram, por outras palavras. Há 75 anos.


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15.11.11

Um blogue que eu não perco de vista


… porque me enche de todas as esperanças: um país que não desapareceu do mapa com este PM há-de vencer todas as crises!

(Que sintaxe, pai do céu…)
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Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública - Convenção de Lisboa


Teve hoje lugar, em Lisboa, uma Conferência de Imprensa em que foi oficialmente divulgado o seguinte texto e os nomes de 274 subscritores que promovem a Convenção anunciada.

Convocatória para a Convenção de Lisboa

Os cortes nas mais básicas funções sociais do Estado têm sido justificados com a necessidade de financiar o pagamento da dívida pública. As medidas de austeridade afectam a vida das pessoas, que sentem no seu dia-a-dia os efeitos do empobrecimento e da degradação das condições de acesso à saúde, à educação, à habitação, ao trabalho, à justiça, à cultura e a todos os outros pilares da democracia.

Conhecer a dívida pública é, não só um direito, como uma etapa essencial para delinear estratégias de futuro para o país. Porque nem sempre todas as parcelas de uma dívida correspondem efectivamente a compromissos do Estado e nem sempre estes são legítimos. Numa auditoria à dívida, verificam-se os compromissos assumidos por um devedor, tendo em conta a sua origem, legitimidade, legalidade e sustentabilidade. Uma auditoria à dívida pública faz essa análise relativamente aos compromissos do sector público perante credores dentro e fora do país, incluindo a dívida privada garantida pelo Estado.

No início da intervenção da troika, a dívida pública portuguesa tinha ultrapassado os 90% da riqueza anual produzida no país (PIB). Em 2013, quando é suposto esta intervenção terminar, a dívida estará acima de 106% do PIB desse ano. Entretanto a produção de riqueza terá regredido para valores de há quase uma década e o desemprego situar-se-á acima dos 13%. Estas são as previsões do próprio governo. A realidade poderá ser pior. Muito dependerá da evolução da situação na Europa e no resto do Mundo.

A incapacidade das lideranças europeias, demonstrada pelo deteriorar da situação na Grécia, poderá pôr em risco o Euro e o próprio projecto de integração europeia. A insistência na via da austeridade, sabemos hoje, está a precipitar uma nova recessão à escala global.

No final da intervenção da troika, Portugal terá uma dívida pública maior e estará mais pobre. Pelo caminho terá ficado um rasto de destruição e regressão social: serviços públicos desmantelados, sector público produtivo reduzido a nada, desemprego e compressão dos salários, famílias em bancarrota. Reconhecer-se-á então que a dívida pública é insuportável e que os sacrifícios foram inúteis, tendo servido apenas para agravar os problemas que prometiam resolver, levando o país a um declínio sem fim à vista.

Consideramos que é possível, urgente e essencial evitar este cenário. Para isso, a questão da dívida deve ser encarada de um ponto de vista realista, compatível com a salvaguarda de valores e direitos humanos fundamentais universalmente reconhecidos.

Critérios


Regresso ao tema das escolhas de capas por parte da revista TIME. Esta semana (com data de 21 de Novembro), pressupõe-se que Estados Unidos e Ásia se interessam por assuntos mais ou menos caseiros, enquanto a queda de Berlusconi é importante não só para a Europa mas também para o Pacífico Sul – porquê exactamente? 
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A libertação da Grécia


Todos os dias nos chegam notícias de Atenas, por razões óbvias e quase sempre desagradáveis. Depois de arrumada a questão do (não) referendo e de ser arquitectado um novo governo, e de se estar a viver, aparentemente, numa fase de intervalo nas grandes manifestações de rua, dão-nos agora relatos de um dia-a-dia cada vez mais duro, em entrevistas feitas por enviados das nossas televisões ou em desinteressantes relatos nos jornais.

Excepção feita para a excelente crónica de Paulo Moura, editada na revista Pública de ontem e entretanto publicada no seu blogue. E excelente não pelos factos relatados, mas pela atitude que transmite, concretizada aliás na própria escolha do título: «Como a Grécia se está a libertar».

Se pode ser inquietante perceber que uma sociedade está virada do avesso quando se deixa de pagar impostos, quando até os sindicatos apoiam ligações eléctricas clandestinas porque já não há dinheiro para pagar electricidade, quando «as pessoas têm prazer em não cumprir nada» e a desobediência alastra a todos os domínios, há que ver também o outro lado da questão e é nesse sentido que os parágrafos finais do texto de Paulo Moura são especialmente esclarecedores e estimulantes:

«Há um limite abaixo do qual ninguém aceita viver. A felicidade não se pode impor por decreto, mas a infelicidade também não. Se o contrato social deixa de servir a uma das partes, quebra-se, como qualquer contrato. A ideia de que uma geração pode ser sacrificada é absurda por definição. Sacrificada a quê?

Ninguém entende como podem os gregos viver submetidos a tanta pressão. Pois a explicação é esta: à margem das notícias, eles já estão a libertar-se.»
(O realce é meu.)

Também creio que sim. Os gregos estão a bater ou já bateram no fundo. Não só mas também por isso mesmo, estão certamente já perto de uma saída, mesmo que ainda não vejam claramente qual. Muito provavelmente, bem mais perto do que nós.
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14.11.11

É da Imprensa Falsa mas podia não ser

«Álvaro, o ministro da Economia, explicou hoje de manhã no Parlamento por que razão é melhor estar calado. “Viram, eu não disse?”, perguntava o ministro aos seus colegas de Governo, depois de afirmar que a crise vai passar no próximo ano, altura em que também acredita que a retoma se verificará. (…)

Entretanto, é também já público que Álvaro Santos Pereira vai receber o prémio Manuel Pinho 2011, atribuído pela prestigiada Academia de Economistas Optimistas.»

Mais aqui
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É oficial: César das Neves passou-se de vez


Mas, pelo menos, não fala de abortos.
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Golpes de Estado há muitos


«O problema é que enquanto Otelo discorre publicamente sobre golpes de Estado e não é levado a sério, outros dedicam-se a fazê-los, sob a apatia geral. Esta semana, a Europa foi palco de dois golpes de Estado comandados por Bruxelas – que hoje é uma palavra que funciona como um eufemismo para não ter de dizer “Alemanha”. A queda de Papandreou na Grécia e de Berlusconi na Itália foram dois efectivos golpes de Estado desencadeados a partir do centro europeu, ultrapassando as instâncias democráticas dos respectivos países.»

Ana Sá Lopes, no «i» de hoje: Otelo e Merkel, a mesma luta.
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Mario Monti, «a global leader»


«Batendo-se sem descanso para dar aos europeus um futuro melhor, colocando-se ao serviço da maioria os instrumentos da disciplina que tantas alegrias lhe deu [a economia], Mario Monti tomou lugar no grupo dos que conjugaram forças para unir os povos europeus na paz e na liberdade.» – Dominique Strauss-Kahn dixit.

Vale a pena dar uma vista de olhos ao curriculum detalhado...
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13.11.11

Frei Fernando Ventura

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Hoje, na RTP1


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O cerco a S. Bento – 1975


No dia 12 de Novembro de 1975, operários da construção civil iniciaram o «Cerco à Constituinte», que durou até ao fim da manhã do dia 13. Muitos já terão esquecido as causas e o desenrolar dos acontecimentos. Aqui fica um resumo.

«Perante a decisão governamental de encerrar as instalações do Ministério do Trabalho na Praça de Londres, os dirigentes sindicais conduziram os associados (…) num desfile que subiu do Terreiro do Paço até à Alexandre Herculano, inflectindo então para a sede do poder político, onde encheu a Praça de S. Bento e adjacentes.

Depois de um encontro, inconclusivo, com o ministro Vítor Crespo (…), os representantes dos trabalhadores foram recebidos, em audiência, pelo chefe do executivo, Pinheiro de Azevedo.

Ao fim de três horas de discussão (…), Pinheiro de Azevedo comprometeu-se a fazer sair o Contrato Colectivo de trabalho, vertical, com o sector, até ao próximo dia 27, e a abrir um inquérito ao Ministério do Trabalho [com algumas contrapartidas por parte dos sindicatos]. (…)

Terminada a reunião, o primeiro-ministro acede a falar aos manifestantes. Ao aparecer à varanda, porém, Pinheiro de Azevedo é “largamente vaiado” pelos manifestantes, que mal o deixam concluir as primeiras frases. (…)

Decididos a permanecer no local até que um acordo favorável seja alcançado, os manifestantes fecham o cerco a S. Bento, onde os deputados constituintes se vêem obrigados a permanecer durante 16 horas. (…)

A saída dos sequestrados, ao fim da manhã [do dia 13], por entre alas dos manifestantes, que apupam uns e vitoriam outros (à esquerda do PS), alguns dos quais correspondem erguendo o punho, ficará como uma das imagens mais fortes do processo revolucionário em curso.»

In: Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC.


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«A crise não vai ser resolvida»

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Concorde-se ou não com Gerald Celente, vale a pena ouvi-lo.


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Iniciativa por Uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública


«Um grupo de cidadãos de diversos sectores anuncia, terça-feira, a realização de uma Convenção de Lisboa, onde será apresentada a comissão que fará uma auditoria cidadã à dívida pública, sendo esta a primeira iniciativa do género em Portugal.

Em declarações à Agência Lusa, Raquel Freire - do Movimento 12 de Março - explicou que "pessoas de diversas sensibilidades, setores e movimentos sociais decidiram juntar-se porque estão conscientes que é urgente e fundamental que haja uma nova abordagem ao problema da dívida".

Para além da cineasta Raquel Freire, entre os participantes desta iniciativa estão o economista José Maria Castro Caldas, o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, a ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente, o ex-secretário de Estado das Finanças António Carlos Santos e o ex-deputado e economista José Guilherme Gusmão.

"Nós, cidadãos, evocando o direito da transparência democrática - direito fundamental à informação - queremos saber em nome de quê e porquê nos impõem estas políticas que destroem aquilo que é a base da democracia", disse.

Segundo Raquel Freire, "há uma vastíssima plataforma de cidadãos e cidadãs que se juntaram nesta tarefa de querer defender a democracia e a transparência democrática" em Portugal.

"Uma auditoria cidadã vai ver o que é que dívida pública, em que é que foi gasto o nosso dinheiro até agora, como é que foi gasto, se foi gasto em prol dos cidadãos, se foi em prol de interesses privados, ou se foi, por exemplo, em actividades corruptas. Há também essa hipótese", declarou à Agência Lusa.

A cineasta explicou que "para que se faça uma auditoria cidadã à dívida pública é preciso que haja uma comissão, que vai analisar tudo o que foi dívida pública até agora" no nosso país.

"Vamos anunciar terça-feira quem são os subscritores que vão lançar uma iniciativa de auditoria cidadã, a lançar num grande encontro com a população. Vamos fazer uma Convenção de Lisboa para a qual o povo português está convidado a participar", antecipou.

Segundo Raquel Freire, este processo já foi feito, com sucesso, no Equador e na Islândia e está a ser feito na Irlanda, na Grécia, na França, na Bélgica. 

"É um movimento internacional de cidadãos que se estão a juntar porque perceberam que os governos até agora andaram a gastar o dinheiro público de formas anti-democráticas. Nunca uma auditoria cidadã foi feita em Portugal", enfatizou. 

Para a participante nesta iniciativa "isto é uma questão de decisão política" porque, neste momento, "a democracia está em risco e os cidadãos têm que ser activos", sob pena de, se continuarem "a dormir", podem acordar numa ditadura. 

"Há dados que nós vamos pressionar o poder político para nos dar, e por isso vai haver uma petição; há dados que são públicos e há os que não são públicos e que teremos que apelar à cidadania das pessoas para que nos enviem informação", acrescentou.»

Daqui.

Mais notícias em breve.
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