31.12.11

Ano Novo (3) - Agora é que é

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Um 2012 tão bom quanto possível para todos os que passarem por aqui.
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Prudente e visionário

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Ano Novo (2) - Calendário 2012

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Os nossos «heróis»


«Apareceram por aqui uns funcionários, que não conhecem Portugal e não falam português. Mas que por inspiração doutrinária já traziam a receita para nos reformar. Que o país não seja exactamente o que eles pensam, nem reaja exactamente como eles querem, nunca certamente lhes passou pela cabeça. Livros são livros e o que vem nos livros vale muito mais do que a realidade. Se as coisas se estragarem, paciência. Eles não se importam. Há no mundo outras freguesias para irem pregar. Esta é a "Europa" onde nos meteram.»

Vasco Pulido Valente, no Público de hoje, sem link.
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Ano Novo (1) – 过年2012

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Long time ago


Repito-me mas há sempre alguém que não sabe que a «Cantata da Paz», tão divulgada por Francisco Fanhais depois do 25 de Abril, foi por ele «estreada» numa Vigília contra a guerra colonial, na passagem do ano de 1968 para 1969, com letra propositadamente escrita para o efeito por Sophia de Mello Breyner (também ela presente na igreja de S. Domingos, em Lisboa). 

Há 43 anos. Mas parece-me que foi ontem que lá estive – e a PIDE também, evidentemente…



Aqui, um resumo do que se passou na vigília em questão.
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30.12.11

Uma questão de gravatas

gravat.

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Dito por aí (9)

@João Abel Manta

«A constatação de que 2011 foi para os portugueses um ano horribilis só é contrabalançada pela certeza de que 2012 será ainda pior. (…)
Neste contexto, os costumeiros votos de “próspero ano novo” constituem em Portugal uma manifestação de maldoso sarcasmo. O ano de 2012, em primeiro lugar, não é novo: é a continuação, extremada, das desastrosas políticas dos últimos governos, agora vigiadas pelos prestamistas que tomaram conta do País. Em segundo lugar, 2012 vai ser o primeiro ano de uma nova contagem do tempo planeada para Portugal: um tempo de miséria, exploração, desigualdade, eliminação de direitos e repressão. Para salazarismo, só falta um Salazar. Ou será que já o encontraram?»
João Paulo Guerra, Horribilis

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«Mas, claro, podemos não precisar mais de partidos. Se o golpe de Estado europeu que está a substituir a democracia representativa por um império "dos mercados" vingar, seremos governados por "especialistas". E, quinta lição, parece que é mesmo possível fazer isso sem enfrentar grandes indignações e resistências. Se calhar, andamos a levar o desígnio de Passos tão a sério que nos cremos - e queremos - pobres até no espírito.»
Fernanda Câncio, Lições de 2011

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«Indesejados no seu próprio país, resta hoje aos portugueses, como ao judeu errante, construir o Portugal futuro com que sonhou Ruy Belo "sobre o leito negro do asfalto da estrada".»
Manuel António Pina, O português errante
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O avanço da China: a opinião de um sinófilo que vive no Japão


Luís F. Afonso vive no Japão e é um velho leitor deste blogue. Deixou hoje um comentário a este meu post e, com a sua autorização, reproduzo-o aqui.

«Folgo em saber que o tema do avanço da RPC sobre a Europa começa a merecer maior destaque aqui e bem assim noutros espaços.

Da minha parte mantenho: tudo isto não passa, a longo, médio prazo, de um imenso presente envenenado. Não tardará, uma vez seguras as posições-chave dentro dos sectores estratégicos mais vulneráveis, começaremos a assistir ao mesmo que já vimos suceder noutras paragens (leia-se África, e a título de exemplo): o impor de quadros de liderança oriundos de lá, depois os quadros médios técnicos e executivos (em detrimento dos locais, isto é, dos nossos) dentro das empresas, e assim por diante, depois a pressão no sentido de impor alterações legislativas em diversos domínios, adequados aos seus interesses, planos e necessidades, depois o servilismo político que, se por enquanto ainda é discreto, tarde ou cedo andará a toque de clarim... Enfim... uma vez mais, nada que não pudéssemos ter previsto antes e tentado evitar...

Quanto à 'prospecção de petróleo', receio bem que venha a ser antes e prioritariamente a prospecção de outras matérias-primas hoje quase tão preciosas quanto o velho "ouro negro" — algo cuja produção mundial já é controlada em quase 98% por eles e da qual não abrirão mão por nada deste mundo (sobre o mesmo já escrevi há algo tempo no meu espaço), e a que aliás quase ninguém parece ter prestado atenção.

Em qualquer recurso, gostaria de deixar aqui uma ressalva, se me permite: nada tenho contra a prosperidade chinesa — já o escrevi antes e torno a dizê-lo: como amante do Oriente, este seu leitor não é, nem pouco mais ou menos um vulgar e primário sinófobo, bem pelo contrário, é, isso sim, um inveterado sinófilo, e ainda que dê a impressão oposta. É que o mal não está nessa China abstracta, idílica, distante e poética, que contemplamos em livros de viagens e em bonitos bilhetes postais. Está sim ness'outra, secretiva, oligárquica, predatória, implacável, sinistra, que tem hoje, e a Ocidente, a sua "finest hour". 'L'opportunité fut saisi'.

Só digo oxalá não seja tarde demais, oxalá eu esteja tremendamente enganado. Assim espero.»
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A Europa raptada


Da crónica de José Manuel Pureza, hoje, no DN:

«O declínio americano, a turbulência russa e a afirmação de poder chinês não são factos, são tendências de fundo que 2011 apenas confirmou. (…)

A Europa raptada em 2011 é a da construção de uma democracia que para ser política tem de ser social e económica. Essa Europa, que lucidamente deu corpo à noção de que os direitos sociais e os serviços públicos não são um luxo de ricos mas sim uma condição de liberdade de todos, foi raptada pelos mentores de outras visões do mundo para os quais o contrato social que tem prevalecido na Europa constitui uma ameaça aos seus desígnios. (…)

Pelas mãos da obsessão da austeridade, a Europa está a perder a democracia e a substituí-la por novas oligarquias. A asiatização do capitalismo europeu é um processo em aceleração rápida. E desenganem-se os que acham que isso se confinará à propriedade de empresas (EDP, BCP, ...): muito mais que isso, será (está a ser) uma mudança profunda de modos de vida.»

Na íntegra aqui.
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29.12.11

Less


Our phones - Cordless

Our cooking - Fireless

Our food - Fatless

Our Sweets - Sugarless

Our labor - Effortless

Our relations - Fruitless

Our attitude - Careless

Our feelings - Heartless

Our politics - Shameless

Our education - Worthless

Our Mistakes - Countless

Our arguments - Baseless

Our youth - Jobless

Our Ladies - Topless

Our Boss - Brainless

Our Jobs - Thankless

Our Needs - Endless

Our situation - Hopeless

Our Salaries - Less & less
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Olhemos bem para a cara deste senhor


… Cao Guangjing, porque as nossas vidas vão depender muito dele nos próximos (?...) tempos.

Já aterrou em Lisboa, amanhã compra uma fatia da EDP no Ministério das Finanças, e explica-nos depois porquê em conferência de imprensa, já admitiu que os bancos chineses poderão investir em Portugal e as acções da banca dispararam logo em bolsa. Paralelmente, confirma-se o interesse de uma grande empresa chinesa na prospecção de petróleo no nosso país.

Veneradores e obrigados, daqui a dois dias ainda vamos celebrar o início de 2012 à ocidental, em 2013 não sabemos… Em 22 de Janeiro de 2012 termina o Ano do Coelho (não para nós, não para nós…) que dará lugar ao do Dragão. Por cá, continuaremos, para já, com doze passas e doze desejos – se conseguirmos contá-los.

«E pensar que tudo isto começou com as lojas dos trezentos... » (*)

(*) Frase roubada à Isabel Faria no Facebook.
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Sakineh Ashtiani


Uma vez mais, chegam do Irão notícias sobre planos para eliminar Sakineh – apedrejada ou enforcada. De novo também, o pouco que pode – mas que deve – ser feito: assinar esta PETIÇÃO.


Lisboa, 28 de Agosto de 2010:


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Sempre me pareceu que o nosso destino estava ligado a rolhas


«Rolhas de cortiça portuguesa invadem passagem de ano.» E se convencêssemos uma pequena percentagem dos chineses a não usar outra coisa, nem Portugal inteiro cheio de sobreiros chegaria para as encomendas.

(Estivemos também sempre ligados à «Lei da Rolha», tão bem glosada por Bordalo Pinheiro.)
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28.12.11

Querida tecnologia


1956: este disco da IBM pesava mais de uma tonelada e tinha um capacidade de 5 MB (megabytes).

Há cerca de 20 anos, um disco de 5 GB (gigabytes) custava 10.000 contos. Hoje, comprei um de 500 GB por 50 euros.

Daqui, via Virgílio Vargas no Facebook.
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E se a próxima troika já for chinesa?


Desde que foi anunciado que a empresa que gere a barragem das Três Gargantas vai participar no capital da EDP que não me sai da cabeça uma pequena história, que não terá mais do que um valor puramente simbólico, mas que guardo dos três dias em que naveguei pelo rio Yangtze, antes de chegar à barragem em questão.

Como se sabe, a subida as águas do rio fez desaparecer do mapa muitas aldeias e mais de um milhão de pessoas teve de ser deslocado para outras paragens. Quando lá estive, o processo ainda estava em curso e, através do guia que me acompanhava, «conversei» com uma rapariga que vendia bugigangas a turistas, junto de um pequeno pagode, numa escarpa onde um bote nos deixou. Explicou que ia sair dali e que a família já deixara aquele local que, pouco tempo depois, ficaria inundado. Estavam agora longe? Não, nem por isso: só a dois dias de viagem, de comboio…

Atenção, pois: para qualquer gestor chinês, Portugal não tem mais de um centímetro, Bragança fica no mesmo quarteirão que a Rua Augusta de Lisboa e um jardineiro de Aveiro pode levantar-se cedinho e ir tratar dos campos de golfe no Alvor. Oxalá não venhamos a ter saudades da troika de 2011! Oxalá…
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Quando já nem os mortos cooperam!...

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Salvar o euro?


Assino por baixo:

«Mas a Europa vive um dilema: salvar o euro sem mudar a sua arquitectura e sem democratizar a União terá o mesmíssimo efeito que deixá-lo. Se alimentarmos a ilusão que podemos salvar a moeda destruindo a economia e as democracias nacionais o fim será o mesmo, mas ainda mais destrutivo. Quem julga que pode sacrificar tudo em nome do euro não percebe o que tem de salvar ao salvar o euro. Só uma reconstrução das instituições europeias e da política económica e monetária da União poderá salvar a Europa do buraco em que se enfiou.»

Daniel Oliveira, hoje, no Expresso online.
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27.12.11

And the winners will be…


Quem tenha lido apenas o título de uma notícia divulgada hoje pelo Público poderá não ter realizado o alcance das previsões para as maiores economias a nível mundial, feitas pelo CEBR (Centre for Economics and Business Research): BRIC ultrapassam potências da UE até ao fim da década.

Vale a pena ler a notícia na íntegra e, talvez sobretudo, olhar para um quadro que não está disponível online e onde são bem visíveis as mudanças de posições no «pódio», com especial destaque para as subidas da Rússia e da Índia e descidas da Alemanha e do Reino Unido, da França e da Itália.


2011
2020
1
EUA
EUA
2
China
China
3
Japão
Japão
4
Alemanha
Rússia
5
França
Índia
6
Brasil
Brasil
7
R Unido
Almanha
8
Itália
R. Unido
9
Rússia
França
10
Índia
Itália


«A Europa deverá passar por uma "década perdida", de baixo crescimento, e outros países irão ocupar o seu lugar entre as principais economias mundiais. Em 2020, os EUA, a China e o Japão vão manter-se à frente do ranking, mas os lugares seguintes passarão a ser ocupados por países emergentes.»

Em vez de ignorar a realidade, mais vale assumi-la e interiorizá-la.
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Dito por aí (8)

@João Abel Manta

«A questão é que a democracia é, antes de tudo o mais, igualdade e liberdade. E as "reformas" cavam mais fundo o fosso das desigualdades, sendo que para vingarem exigem mão de ferro e pouco barulho. (…)
As alegadas "reformas" em curso são apenas uma dose cavalar da política de todos os governos das últimas décadas. O resultado, segundo a OCDE, é que o fosso entre ricos e pobres atingiu agora em Portugal o nível mais elevado dos últimos 30 anos. E daqui para a frente será sempre a piorar.
Políticas deste tipo são inevitavelmente fontes de confronto social em que os governos intervêm pela força da repressão. E as ameaças do poder não deixam dúvidas quanto a intenções repressivas. Depois dos socialistas terem metido o socialismo na gaveta, chegou a vez de os social-democratas meterem a democracia no baú.»
João Paulo Guerra, Democracia

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«Esqueça o "Trivial Porsuit". O jogo das noites de 2012 será tentar descobrir uma ideia, uma "representação que se forma no espírito", uma "percepção intelectual" ou um "pensamento" nas 812 palavras da mensagem de Natal do primeiro-ministro. (…)
“Um Bom Natal e um Feliz Ano Novo", como disse Passos Coelho (foi impressão minha ou ouviu-se mesmo, em fundo, o sinistro riso de Muttley?)
Manuel António Pina, Jogue e instrua-se

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«Não é preciso ser economista para ver que o que temos pela frente é um panorama para 2012 e 2013 de aprofundamento de uma recessão que deixará o país perante problemas não resolvidos, que a austeridade promete resolver.
A austeridade deixará Portugal em piores condições para enfrentar os problemas da dívida e do défice, para não falar nos problemas novos que cria.
Há ainda a possibilidade de um país da UE, como a Itália, entrar em incumprimento, desencadeando uma série de incumprimentos sucessivos, e isso é, paulatinamente, o euro a desagregar-se, o projecto europeu a desagregar-se, ou pelo menos a transformar-se, ficando apenas um pequeno núcleo de países no euro e um número maior de países a regressar a moeda nacionais.»
José Castro Caldas, Temos pela frente um panorama assustador
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Novo blogue

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Chama-se Elísio Estanque e o próprio anuncia-o como é «um espaço de divulgação de textos académicos e de opinião crítica sobre a realidade social e política». A seguir com atenção.
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«Para sair da crise…»


No Público de ontem, uma longa entrevista a Eric Toussant, concedida durante a sua última estadia em Lisboa para participar na Convenção da «Iniciativa por uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública».

Alguns excertos e conselho e leitura na íntegra:

«Esta é uma crise que vai durar 10 ou 15 anos, porque o problema fundamental não é a dívida pública, mas sim os bancos europeus. E não estou a falar dos pequenos bancos portugueses ou gregos. O problema é que os grandes bancos (…) estão à beira do precipício. Isso é muito pouco visível no discurso oficial. Só se fala da crise soberana, quando o problema é a crise privada dos bancos. (…)

Esses planos vão piorar a situação desses países [Grécia, Portugal e Irlanda], isso é absolutamente claro. A redução maciça das despesas públicas e do poder de compra da maioria da população vai diminuir a procura e as receitas fiscais e provocar ainda mais necessidade de o país se endividar para pagar a dívida. (…)

A auditoria é um processo promovido sobretudo por cidadãos para romper o tabu da dívida soberana, que nunca se discute nem se analisa. Até pode ser má, mas há que pagá-la, porque uma dívida paga-se sempre, quando, na realidade, tanto ao nível de um particular, de uma empresa ou de um Estado, uma dívida ilegítima, ilegal ou imoral é uma dívida nula. (…)

Há uma chantagem da troika, que dá crédito para pagar aos credores, que são eles próprios e os bancos dos países do Centro europeu, e, em contrapartida, exige austeridade. Não há dúvida: é uma dívida ilegítima.»

P.S. – Para uma melhor compreensão do pensamento de Eric Toussaint, ouvir uma longa intervenção em seis pequenos vídeos, gravada durante uma outra visita a Lisboa.
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26.12.11

Lá que os alemães fazem bem coisas destas…

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(Ver em modo «tela cheia».)
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Se o país todo se desengravatasse é que era


E se não aumentassem os dias de trabalho, que obrigam a gastar mais em ar quente ou ar frio, e se fossem sendo progressivamente dispensadas mais peças do vestuário, e se…, e se…, até se diminuíam umas décimas do malfadado deficit, contribuíamos para a felicidade dos nossos queridos governantes e recebíamos mais elogios da benemérita troika.

A propósito desta notícia e da crónica de Manuel António Pina no JN de hoje.
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Hoje até há melhores detergentes

«O governo não há-de cair porque não é um edifício. Tem que sair com benzina porque é uma nódoa.»

Eça de Queirós, 1879
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Não é preciso mandarem-nos embora

25.12.11

Natal 2011 (12) - Para terminar o dia

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Natal 2011 (11) - «Dia de Natal»


Hoje é o dia de era bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros- coitadinhos- nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua
miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus
nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso
antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de
cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra- louvado seja o Senhor!- o que nunca tinha pensado
comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão, «Dia de Natal»
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Natal 2011 (10) - Merry Capitalism

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Natal 2011 (9) - Recordar é reviver

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