24.1.12

Quando a necessidade aguça o engenho


O Jornal de Negócios anunciou ontem que, num só ano, desapareceram do IRS 111 mil crianças dependentes para efeitos fiscais, o que leva a crer que um elevadíssimo número de famílias incluía filhos inexistentes nas declarações (o que é agora dificultado por ser exigido o número de contribuinte).

Ferreira Fernandes avança hoje uma interpretação mais antropofágica: «uma criança saudável na idade de um ano é um alimento delicioso, nutritivo e são».

Por outro lado, soube-se há algum tempo que os gregos não davam baixa dos seus mortos para continuarem a receber as respectivas pensões de reforma, o que cá não é fácil porque a cadeia de informações está bem oleada.

Mas há uma alternativa possível, a concretizar numa espécie de declaração anti-eutanásica. Como é sabido, muitos avós têm pensões boas ou razoáveis, muito acima das que os filhos algumas vez terão e que os netos nem vão saber que existiram. Que dêem o seu acordo para que os descendentes os congelem quando o fim parecer iminente – «vivos» continuarão e a contribuírem para o bem-estar dos seus. Na maior das legalidades.

Macabro? Olhem que não... A realidade não ultrapassa já o que alguma vez pensámos ficcionar?
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3 comments:

Jonas disse...

Um casal separado tem um filho. Divide as depesas pela metade. Ambos declaram as respectivas despesas. A criança é a mesma, mas há 2 adultos a assumir despesas.

Com a mudança da lei, o que aconteceu foi que apenas um dos progenitores pode declarar a criança como dependente. O que não declarar a criança como dependente, deixa de poder descontar todas as despesas.

Tudo quanto são casais com custódia partilhada, passou a ser altamente penalizado. Só um deles pode declarar as despesas que são assumidas pelos dois.

Joana Lopes disse...

Não sabia, Jonas. Mas, então, poderá ser essa a razão (uma das razões) para terem desaparecido tantas crianças?

Jonas disse...

Presumo que haja alguma fraude que deixou de poder ser feita (e ainda bem), mas muitos casos legítimos passaram a ser penalizados. A lei ignora a guarda comum. No meu círculo mais próximo há alguns casos desses, pessoas que confrontaram as finanças e receberam respostas do tipo: um ano declara um, no outro ano declara outro, ou fazem encontro de contas, em privado, e outras propostas "criativas"

http://jonasnuts.com/401179.html
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