11.2.12

My Panton-Valentine


Mais uma excelente crónica de Luís Januário no «i» de hoje:

«De facto, a maior parte dos participantes são mulheres. Mulheres jovens, sem idade e de meia-idade. Há um ano, frequentando as aulas do sexto ano médico, algumas destas mulheres eram completamente desinteressantes. Cabelos mal lavados, farda de estudantes, pele cansada de noites sem causa – nem boémia nem estudo intensivo. Agora têm óculos geek chic, ombros decotados, saias curtas com leggings pretos, sapatos de tacão altíssimo. Em poucos meses transitaram do modo colegial deslavado para o de mulheres fatais ou peso pluma.

Às nove da manhã, hora em que supostamente só há ciência e fome de torradas, vi uma franja que faria a inveja das preciosas e pestanas postiças de tamanho XL. Há meia dúzia de homens na sala. Não têm nada de particular. Para a investigação sociológica a que neste instante me dedico não ocupam nenhum lugar de relevo. Estão dispostos pela sala e distinguem-se pelo brilho das fontes luzidias. Não merecem menção. Agora uma mulher entra na sala e desce as escadas centrais. Como os degraus são longos, ela tem de dar um passo intermédio mais curto e isso quebra-lhe o corpo e fá-la avançar com a marcha quebrada dos modelos nas passerelles, exagerando muito a proeminência das ancas. Noutra circunstância, uma entrada assim numa reunião dedicada às malfeitorias da toxina Panton-Valentine leucocidina do S. aureus teria feito história. Nesta cidade das mulheres, neste gineceu enlouquecido, nada será notado. Num mundo sem McGarrigle não há espaço para Angelica Pabst nem para Helen Reed. A dominância de género é tão esmagadora que os raros homens se habituaram a lavabos cor-de-rosa e a folhear a edição espanhola da “Vanity Fair”. A mulher continua a descer a escada enquanto eu penso que aquele deve ser o trend peso pluma da Primavera-Verão 2012 e que Panton-Valentine é um nome lindo para uma tinta de parede.»

Na íntegra aqui.
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