31.3.12

Esperança, na Birmânia, para as eleições de amanhã



Há dois ou três anos, e mesmo antes, blogues e murais de Facebook estavam cheios de fotografias de Aung San Suu Kyi e pediam a libertação daquela que, em 21 anos, esteve 15 privada de liberdade. Só saiu de prisão domiciliária em Novembro de 2010 e apresenta-se agora, pela «Liga Nacional para a Democracia», às eleições parciais que terão lugar no Domingo para escolha de algumas dezenas de representantes no parlamento e outras instâncias birmanesas.

Aung, «a senhora» como é carinhosamente referida, foi obrigada a suspender a campanha, durante um comício que teve lugar na mítica cidade de Mandalay no Sábado passado, por estar absolutamente exausta, mas a campanha decorreu sem incidentes de maior, parecendo demonstrar que o clima político mudou de facto desde as eleições de Novembro de 2010: o povo quer acreditar que, desta vez, o governo vai respeitar os resultados. O futuro o dirá, mas, mesmo a nível dos comentadores internacionais, cresce a convicção de que «a Realpolitik e o interesse económico por si só, não moldarão mais o grande jogo disputado na Birmânia. Os ideais e a procura da liberdade também desempenharão um papel fundamental».

Vale a pena ler este artigo publicado agora no Der Spiegel: The Triumphal Rise of Aung San Suu Kyi.

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Fiquei fascinada pela Birmânia quando lá estive, em Novembro de 2009. Retomo em parte o que então escrevi sobre esse lindíssimo país.

Dez dias de turismo são menos do que pouco para conhecer seja o que for, mas o suficiente para se perceber que se está perante um país especial. Ao contrário do que acontece em países vizinhos como o Vietname, o Cambodja ou o Laos, a ditadura ali nem sequer é ditada por uma qualquer ideologia, mas reduz-se pura e simplesmente a um poder férreo de militares sobre 56 milhões de pessoas, tendo como único objectivo o seu próprio enriquecimento e o luxo em que vivem as famílias e os respectivos amigos – à custa de uma corrupção generalizada e sem vergonha, enquanto a esmagadora maioria do povo vive num estado de pobreza extrema, visível em todos os detalhes, sem empregos, em cidades mais do que degradadas e desordenadas, onde nem sequer se vêem os enxames de motoretas já célebres no Sudeste asiático porque uma simples bicicleta é quase um luxo. Tudo isto num país riquíssimo em recursos naturais (gás, madeiras de várias espécies, pedras preciosas de primeira qualidade, etc., etc.) que são vendidos para todo o mundo porque é evidente que o boicote dos Estados não atinge as algibeiras dos comerciantes.

Tudo feito «em nome» do budismo que os políticos dizem professar e protegem de facto, que mais não seja porque a conservação dos pagodes (templos e estupas) parece ser a única realidade digna de atenção – e de dinheiro.

Três apontamentos, e respectivas fotos:




Ícone de Yangon e da Birmânia, absolutamente indescritível. O que se vê na primeira imagem é a cúpula principal num terraço de cinco hectares, com centenas de templos (e nem sei quantos milhares de budas…), um mundo dourado cuja manutenção custa uma verdadeira fortuna.



Nas eleições de 1990, os habitantes de Bagan votaram em massa na «Liga para a democracia». Os chefes foram então detidos, cortada a electricidade e depois a água e altifalantes anunciaram que a aldeia seria arrasada dentro de uma semana. Cada família recebeu materiais para a construção de uma nova casa, longe, um pequeno terreno e algum dinheiro. Nasceu assim a nova Bagan. Paupérrima, como se vê.



Um táxi… em que andei.
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1 comments:

momo disse...

Como siempre al pie de la informação um abraço e hasta la volta