24.4.12

25 de Abril – Tempo de dizer «Basta!»



«Há uma altura em que é preciso dizer “não”, em que é preciso dizer “basta”!». 

Foi com estas palavras que Sousa e Castro iniciou ontem a sua intervenção no Prós & Contras, como justificação para a ausência da Associação 25 de Abril nas comemorações oficiais do 38º aniversário da Revolução, que amanhã têm lugar. (Vale a pena ouvi-las.) 

Um grito de alma na linha do Manifesto que aquela Associação ontem divulgou («contra a iniquidade, o medo e o conformismo que se estão a instalar na nossa sociedade») e que funcionou como uma pedrada no charco, desde as primeiras horas em que foi conhecido. Um gesto simbólico oportuno e cheio de sentido  político e histórico.

Não se fizeram esperar reacções. Quanto aos partidos que não estão no governo, PS e BE foram demasiado lacónicos para meu gosto, dizendo apenas que respeitam a decisão da A25A (era melhor que não respeitassem…). Podiam – e deviam –, pelo menos, ter comentado as razões dos militares de Abril. O PCP foi mais longe, no pior sentido, e «pronuncia-se pela valorização das comemorações oficiais do 25 de Abril, das quais emerge com particular significado a sessão que se realiza na Assembleia da República», condenando assim, implicitamente, a decisão da Associação. 

É sabido que Mário Soares e Manuel Alegre já declararam que também não vão estar presentes. Quanto a Jorge Sampaio, as notícias são um pouco confusas, terá dito que ainda não sabe se estará no estrangeiro, mas ainda faltam vinte e quatro horas e continuo a esperar que não vá ao Parlamento se estiver em Portugal ou que diga explicitamente que não iria mesmo que acontecesse o contrário. 

No Manifesto dos militares, não se contesta o valor democrático das instituições em geral e muito menos da AR (acontecessem as cerimónias lugar num outro local e estou certa de que a posição seria a mesma), mas sim «a linha política seguida pelo actual poder político» que «deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril». 

Em momentos como o de amanhã, há que lutar com as armas democráticas que temos agora na mão. A A25A escolheu a sua. Resta-lhe, como a nós, a rua – na Avenida da Liberdade, em Lisboa, um pouco por todo o país e, muito especialmente, na Praça da Batalha e no Alto da Fontinha no Porto. 
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3 comments:

Miguel Serras Pereira disse...

Com efeito, Joana, sim. O que está em jogo é reconhecer ou não a legitimidade deste governo segundo os próprios critérios do regime em que oficialmente vivemos. Nesses termos, o modo de exercício das funções para que foi eleito começou por reduzir e acabou por anular a legitimidade conferida pela eleição. Que os partidos da oposição não o queiram ver, ou, vendo-o, não o queiram dizer e agir em consequência, é de facto um sintoma inquietante.

msp

Joana Lopes disse...

Foi isso que quis dizer, Miguel. Estão à espera de quê?
Se do PS, já nada me admira, do BE e do PCP era desejável que não desperdiçassem nenhuma ocasião de denúncia da «ilegitimidade» do governo e PR.

Septuagenário disse...

Mas deve-se lutar por um novo 25 de Abril ou um novo 26?

O problema é que o grande heroi do Largo do Carmo foi (deportado) transferido para os Açores e morreu no anonimato.