28.5.12

Verdade e verosimilhança



José Queirós, «Provedor do Leitor» do Público, explicou ontem longamente, na sua coluna semanal, a posição que tem neste momento quanto à saga que opõe o ministro Relvas a várias instâncias daquele órgão de comunicação. 

Alguns dirão, imediatamente, que é parte interessada neste caso. Mas a sua análise (que pode ser lida aqui na íntegra) parece-me muito calma, lúcida e cuidadosa. Destaco o seguinte: 

«Con­virá recor­dar que são aber­ta­mente con­tra­di­tó­rias as des­cri­ções fei­tas por Miguel Rel­vas e Leo­nete Bote­lho acerca do con­teúdo das con­ver­sas tele­fó­ni­cas que, por ini­ci­a­tiva do pri­meiro, man­ti­ve­ram no dia 16. A edi­tora rea­firma que foram pro­fe­ri­das, em duas cha­ma­das dis­tin­tas, as ame­a­ças que o jor­nal denun­ciou; o minis­tro nega tê-las feito. Não espe­rem os lei­to­res encon­trar aqui uma ver­dade apu­rada de acordo com inequí­vo­cas pro­vas mate­ri­ais, que, ao que tudo indica, não existirão.

Não me fur­ta­rei, con­tudo, a um juízo de vero­si­mi­lhança. Não con­si­dero crí­vel que as ame­a­ças denun­ci­a­das pos­sam ter sido inven­ta­das pelo PÚBLICO, e a con­sis­tên­cia das expli­ca­ções que recebi reforça essa con­vic­ção. Não se vis­lum­bra que motivo ou inte­resse pudes­sem con­du­zir a tama­nho aten­tado à ética pro­fis­si­o­nal, que pres­su­po­ria o envol­vi­mento de um con­junto de jor­na­lis­tas res­pei­ta­dos numa cons­pi­ra­ção ini­ma­gi­ná­vel em que esta­riam a enga­nar cons­ci­ente e deli­be­ra­da­mente os seus lei­to­res. No essen­cial, o balanço da his­tó­ria do jor­nal é o maior argu­mento con­tra essa hipó­tese mira­bo­lante, e a repu­ta­ção pro­fis­si­o­nal da edi­tora que escu­tou as fra­ses agres­si­vas de Rel­vas desau­to­riza qual­quer sus­peita desse tipo. (…)

Não posso dizer o mesmo da cre­di­bi­li­dade do minis­tro envol­vido neste caso, que nos últi­mos dias fez várias decla­ra­ções con­tra­di­tó­rias no âmbito das ave­ri­gua­ções sobre o escân­dalo das secre­tas — era esse, aliás, o objecto das ques­tões que o PÚBLICO lhe diri­giu — e foi intro­du­zindo adap­ta­ções e infle­xões no seu dis­curso de nega­ção das ame­a­ças ao jor­nal e à jor­na­lista, em con­traste com a con­sis­tên­cia inal­te­rada da nar­ra­ção dos fac­tos que o com­pro­me­tem. Aquilo que já reco­nhe­ceu que fez, e que o terá levado a pedir des­cul­pas cujo con­teúdo ainda não é total­mente claro, indi­cia um inte­resse empe­nhado em tra­var as notí­cias sobre o seu rela­ci­o­na­mento com o ex-espião acu­sado pelo Minis­té­rio Público.»
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