22.6.12

Índia: barragens versus religião



Eu não sei se as mais de 50 barragens previstas pelo governo indiano para o rio Ganges são, ou não, um bom projecto em termos globais e há relatórios de especialistas que apontam no sentido de ser aconselhável desistir de uma parte delas por razões ambientais. 

A polémica está lançada, há quem acuse os Estados Unidos de fomentarem esta contestação porque a construção das centrais eléctricas provocará um forte decréscimo da venda de urânio à Índia e o governo indiano vem agora dizer que está disposto a reduzir em 50% a produção de energia prevista, de modo a salvaguardar a sobrevivência da vida aquática e o débito do rio. 

Mas não é só, nem sobretudo, este tipo de contestação que está em curso, mas sim a de carácter religioso: centenas de sadhus insurgem-se, indignados, contra o «assassínio da mãe Ganges», afirmam que as barragens serão construídas sobre os seus cadáveres e que podem misturar o seu sangue com o cimento. 

Todos os anos, há milhões de hindus que vão em peregrinação a locais que acreditam terem a função de purificar a alma, dissolver os pecados e garantir uma vida melhor depois da morte. Banham-se e bebem a água de um dos dez rios mais poluídos do mundo, não apenas por causa de resíduos industriais, mas principalmente por lançamento de esgotos não tratados. São queimados em crematórios instalados nas margens do rio e neste são lançadas as cinzas. 

Já me cruzei com o Ganges mais de uma vez. Mas nunca como em Varanasi, que guardo como símbolo de horror, e onde não voltaria nem que me pagassem fortunas. 

Numa cidade enorme e miserável, ao nascer do dia vêem-se velhos ex-leprosos estropiados a pedirem esmola, banhos de multidões na tal água indescritível, crematórios em pleno funcionamento (poupo a descrição dos cheiros…), eventualmente corpos de crianças mortas a boiarem – as crianças não são queimadas, mas sim atiradas ao rio sem que, por vezes, a pedra ao pescoço, que é suposto afundá-las, tenha sido devidamente colocada. Eu vi uma que deveria ter seis meses (está nesta foto). 

Não me falem de crenças religiosas e de diferenças culturais dignas de respeito porque não aceito, pura e simplesmente. Tudo tem limites. 

Que venham as barragens!

(A partir daqui)
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1 comments:

Fada do bosque disse...

Não se preocupe com a purificação do Ganges, porque quando a Rockfeller Foudation dá um cenário futuro é para ser concretizado... Temos os interesses dos EUA na Índia e não são só os do armamento, embora este ano seja o país que bate o record de compra de armamento pesado. Antes disso, temos o bem essencial e agora precioso que é a água:

"Remembering that experience is what made today so remarkable. It was now 2025.
Manisha was 27 years old and a manager for the Indian government’s Ganges
Purification Initiative (GPI). Until recently, the Ganges was still one of the most
polluted rivers in the world, its coliform bacteria levels astronomical due to the
frequent disposal of human and animal corpses and of sewage (back in 2010, 89
million liters per day) directly into the river. Dozens of organized attempts to clean
the Ganges over the years had failed. In 2009, the World Bank even loaned India
$1 billion to support the government’s multi-billion dollar cleanup initiative. But
then the pandemic hit, and that funding dried up. But what didn’t dry up was the
government’s commitment to cleaning the Ganges — now not just an issue of public
health but increasingly one of national pride.
Manisha had joined the GPI in 2020, in part because she was so impressed by
the government’s strong stance on restoring the ecological health of India’s most
treasured resource. Many lives in her home city of Jaipur had been saved by the
government’s quarantines during the pandemic, and that experience, thought
Manisha, had given the government the confidence to be so strict about river usage!

O problema são alguns dos outros cenários neste PDF, como a morte de 13.000 pessoas nos Olímpicos de Londres, pág. 34:

(...)The years 2010 to 2020 were dubbed
the “doom decade” for good reason: the 2012
Olympic bombing, which killed 13,000, was
followed closely by an earthquake in Indonesia
killing 40,000, a tsunami that almost wiped
out Nicaragua, and the onset of the West China
Famine, caused by a once-in-a-millennium
drought linked to climate change.
Not surprisingly, this opening series of deadly.(...)

http://www.gbn.com/articles/pdfs/GBN&Rockefeller%20scenarios.technology&development.pdf