3.11.12

E quanto a convergências com o PS...



João Semedo dá hoje, no «i», uma boa entrevista a Ana Sá Lopes. Caracteriza – bem, no meu entender – o que pode, e não pode, ser uma «plataforma mínima» de entendimento com o PS. Sublinho dois pontos:

– Já muitos tentaram, por dentro, «desencostar» o PS da direita. Em vão. JS cita, a título de exemplo, o caso dos chamados ex-MES. E eu, que acabei de ler a biografia de Jorge Sampaio da autoria de José Pedro Castanheira, tenho todos os detalhes bem presentes: foram engolidos.

– A primeira condição de que a esquerda não pode prescindir é que o PS rasgue o MoU. Ao contrário de muitas formulações propositadamente vagas que por aí circulam (como, por exemplo, «denunciar» o MoU), esta é bem clara: rasgar é rasgar. E JS explica o que entende por este acto, na parte da entrevista que não transcrevo – é só ler.

Excertos da entrevista (os realces são meus):

«O adversário do Bloco é a direita. Mas o problema do PS é um problema complexo. O Partido Socialista é o que é. E nós verificamos há muitos anos na sociedade portuguesa uma diferença nítida entre as escolhas da direcção do PS e o que são – pensamos nós – as aspirações, as preocupações da sua base social de apoio. (...) Houve gente que tentou resolver esse problema entrando para o PS. Foram deputados, secretários de Estado, ministros, até Presidentes da República. Estou a referir-me ao M.E.S [Movimento da Esquerda Socialista, no qual em 1974 militaram Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e João Cravinho, entre muitos outros], que entrou em bloco, estou a referir-me à Plataforma de Esquerda, ou a parte dela. Não noto que o Partido Socialista tenha vacilado muito ou tenha mudado muito o seu rumo. Nós temos um problema, que é termos um Partido Socialista que sempre esteve mais perto da direita que da esquerda. O desafio é desencalhar o Partido Socialista da direita. Isto não vai apenas do nosso desejo ou da nossa vontade. Eu gostaria muito que o Partido Socialista de António José Seguro, tal como diz que está contra o Orçamento do Estado, estivesse contra o Memorando. Eu posso desejar isso, mas não basta desejar. (...)

Nós estamos na disposição de uma plataforma mínima. A nossa moção (...) diz o que são para nós os mínimos de esquerda. São quatro pontos apenas: primeiro, rasgar o Memorando. Segundo, devolver aquilo que os portugueses perderam em direitos, em salários, em pensões, em serviços públicos. Terceiro, uma reforma fiscal que tribute mais os rendimentos de capital e de propriedade que os rendimentos do trabalho. Quarto e último ponto: o controlo público do crédito bancário, que significa a nacionalização dos bancos que entretanto foram intervencionados. (...)

E eu pergunto: é possível a esquerda entender-se, construir um governo, uma alternativa, com base no respeito pelo Memorando?» 
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