5.11.12

O Estado caritativo



Este terrível título da primeira página do Púbico de hoje remete para um extenso dossier (sem link) sobre o «Programa de Emergência Alimentar». Logo na primeira frase, uma jornalista comenta que «o nome faz pensar num país atingido por uma seca devastadora, ou a braços com uma guerra». De facto.

Os primeiros acordos assinados entre o governo e cantinas de vários serviços datam de Abril e, neste momento, são já financiadas mais de 34 mil refeições por dia. Em duas páginas, seguem-se gráficos e números e mais números de localizações, de refeições, de pessoas.

O Estado social a ser substituído pela caridade exercida pelo próprio Estado – como líamos há uns meses nas notícias sobre a Grécia, ainda crentes que não as veríamos por cá. Engano nosso. 

Mas quem é toda esta gente? «São pessoas que na sua maioria estavam empregadas ou recebiam subsídios que, por sua vez, permitiam fazer face aos seus compromissos e às suas despesas fixas», diz alguém da Caritas de Setúbal.

E têm rostos que não vemos, mas nomes que nos são por vezes revelados, como o do. protagonista de uma das histórias relatadas. Já trabalhou num Call Center, já teve uma bolsa, viveu depois à custa da namorada que, entretanto, também ficou desempregada. Enviou currículos, tem ido a entrevistas. Entretanto:

«De manhã, o recém-formado em Engenharia Electrotécnica Adilson Gonçalves, de 25 anos, saiu de casa com uma camisa de xadrez, os colarinhos a saírem do pullover de malha, o casaco de cabedal preto. Impecável. Foi à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte da Caparica, onde dentro de duas semanas defende a sua tese de mestrado, e depois dirigiu-se ao lar de idosos Granja Luís Rodrigues, da Santa Casa da Misericórdia de Almada. Sentou-se num banco do jardim, apesar das nuvens ameaçarem chuva. Esperou que lhe trouxessem um saco com o almoço e o jantar. E saiu. Adilson é um dos beneficiários do Programa de Emergência Alimentar.»

Assim vamos. Até onde e até quando? Não sabemos, ninguém sabe.
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