25.12.12

A memória é lixada – Natal de 1983



«Primeiro-ministro vaiado, subsídio de Natal cortado, promessas de reformas na função pública, greves, desemprego, salários em atraso ou manifestações quase diárias. (…) Nenhuma semelhança com a realidade de hoje é pura coincidência. E muito menos ficção.

Comecemos com o primeiro dia de Dezembro de 1983 quando o então primeiro- -ministro, Mário Soares, garantiu aos portugueses que “a pior fase da crise económica já passou”. (...)

O Natal de 1983 – ano em que o FMI chegou a Portugal pela segunda vez – ficou marcado por greves, manifestações e sobressaltos sindicais. Milhares de portugueses com salários em atraso ficaram ainda sem subsídio de Natal e o governo aguardava, com ânsia (ou desespero), a entrada de Portugal na CEE.

Duas semanas antes do Natal, um grupo de 16 bancos internacionais assinou com o governo um contrato que deu ao país acesso a 45 milhões de contos para equilibrar a balança de pagamentos, que já tivera melhores dias: só entre Janeiro e Outubro caíra 11%, apresentando um saldo negativo de 325 milhões de contos. (…)

Certo é que o desemprego alastrou, atingindo os 11%. Em vésperas de Natal, 7500 trabalhadores da construção civil perderam o emprego só no distrito de Faro. Os funcionários da Lisnave ocuparam as instalações da empresa para reivindicar salários em atraso. A TAP anunciou uma greve do pessoal de terra para 28 de Dezembro e só na noite do dia 23 aconteceram, em todo o país, 25 vigílias promovidas pela CGTP. No total, mais de 100 mil portugueses viviam com salários em atraso. Um dos sindicatos do Norte anunciou: “Pode afirmar-se hoje, com plena legitimidade, que não há garantias de estabilidade de emprego na função pública”. (…)

As previsões para o comércio em 1984 foram dramáticas. O índice de quebra de vendas iria variar entre os 30% e os 35% só no primeiro semestre do ano. Nogueira Simões, presidente da Confederação do Comércio Português, queixou-se da “elevada carga fiscal” que estaria a “abafar” as empresas. Morais Leitão, do CDS, concordou e defendeu, numa entrevista ao “Diário de Notícias” (DN), que Portugal teria carga fiscal “excessiva”.

Apesar da contestação generalizada, o Orçamento do Estado para 1984 foi aprovado dez dias antes do Natal, recebendo as críticas de Cavaco Silva. O ex-ministro das Finanças garantiu que as medidas previstas para o ano seguinte conduziriam o país para “uma profunda recessão, com agravamento do desemprego”.»

(Daqui)

1 comments:

Septuagenário disse...

O termo "salários em atrazo"foi inventado com o Mário Soares a governar, com a melhor das irresponsabilidades.

E fez escola em Portugal, a escola da irresponsabilidade de Soares.

Um político que não se quer assumir!!