11.2.12

Instruções para Chorar


«Deixando de lado os motivos, vejamos qual é a maneira correcta de chorar, entendendo por isto um choro que não entre no escândalo, que não insulte o sorriso com a sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contracção geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.

Para chorar, dirija a imaginação para si mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.

Quando o choro chegar, cubra o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças choram esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.»

Julio Cortázar
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My Panton-Valentine


Mais uma excelente crónica de Luís Januário no «i» de hoje:

«De facto, a maior parte dos participantes são mulheres. Mulheres jovens, sem idade e de meia-idade. Há um ano, frequentando as aulas do sexto ano médico, algumas destas mulheres eram completamente desinteressantes. Cabelos mal lavados, farda de estudantes, pele cansada de noites sem causa – nem boémia nem estudo intensivo. Agora têm óculos geek chic, ombros decotados, saias curtas com leggings pretos, sapatos de tacão altíssimo. Em poucos meses transitaram do modo colegial deslavado para o de mulheres fatais ou peso pluma.

Às nove da manhã, hora em que supostamente só há ciência e fome de torradas, vi uma franja que faria a inveja das preciosas e pestanas postiças de tamanho XL. Há meia dúzia de homens na sala. Não têm nada de particular. Para a investigação sociológica a que neste instante me dedico não ocupam nenhum lugar de relevo. Estão dispostos pela sala e distinguem-se pelo brilho das fontes luzidias. Não merecem menção. Agora uma mulher entra na sala e desce as escadas centrais. Como os degraus são longos, ela tem de dar um passo intermédio mais curto e isso quebra-lhe o corpo e fá-la avançar com a marcha quebrada dos modelos nas passerelles, exagerando muito a proeminência das ancas. Noutra circunstância, uma entrada assim numa reunião dedicada às malfeitorias da toxina Panton-Valentine leucocidina do S. aureus teria feito história. Nesta cidade das mulheres, neste gineceu enlouquecido, nada será notado. Num mundo sem McGarrigle não há espaço para Angelica Pabst nem para Helen Reed. A dominância de género é tão esmagadora que os raros homens se habituaram a lavabos cor-de-rosa e a folhear a edição espanhola da “Vanity Fair”. A mulher continua a descer a escada enquanto eu penso que aquele deve ser o trend peso pluma da Primavera-Verão 2012 e que Panton-Valentine é um nome lindo para uma tinta de parede.»

Na íntegra aqui.
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O tabu da exploração


No número de Le Monde Diplomatique que acaba de chegar às bancas, Sandra Monteiro parte desta entrevista feita por Mário Crespo ao novo secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos. Para quem não conhece, vale a pena ver e ouvir. E ler o texto da Sandra, evidentemente.



«“Explorados”!, novamente aí está, um termo que eu em princípio não usaria facilmente. Não sugiro que o tenha usado com ligeireza… Mas a exploração como elemento negocial não pode ser utilizada. Porque há muita gente que não está a explorar ninguém, que está meramente a dar emprego a pessoas, a retribuir um salário possível, dentro de uma economia de mercado que tem também as suas regras. Portanto a “exploração” talvez seja um adjectivo [sic] um bocado forte. (…) O senhor diga-me só, na Central [CGTP] contemplam que o mundo está a mudar em termos da dinâmica financeira toda que nos ultrapassa em muitos casos e que é preciso também criar uma nova ordem de relações laborais?»

Pode não ser logo evidente, mas a longa e opinativa citação, retirada de uma entrevista, pertence ao entrevistador. O jornalista Mário Crespo entrevistava o agora secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Arménio Carlos, no Jornal das 9 da SIC Notícias de 16 de Janeiro de 2012. Debatiam-se as alterações às leis laborais propostas pelo governo à concertação social, negociações de que a central sindical se afastou denunciando a falta de postura negocial do governo e a extrema gravidade do quadro legislativo imposto ao mundo do trabalho. Ainda assim elas culminaram, a 18 de Janeiro, na assinatura de um acordo que vincula as estruturas patronais e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Era a segunda vez que Arménio Carlos usava o termo que tanto incomodou o jornalista, primeiro para dizer que se estava a aproveitar a crise para aumentar a «exploração» e promover um maior desequilíbrio nas relações laborais e, pouco depois, para explicitar a situação a que são sujeitos os trabalhadores que vendem a sua força de trabalho: são «explorados». À segunda foi de vez, Mário Crespo teve de interromper. Tentando repor a ordem habitualmente reinante no espaço mediático, instruiu o convidado, sem êxito é certo, sobre as sãs regras da etiqueta discursiva que costumam ser observadas na televisão, ainda para mais em horário nobre, caso não se queira ser tratado como insensato ou anacrónico.

Já antes o jornalista se sentira à vontade para chamar «retórica» à forma como o convidado se exprimia e para o criticar quando, no seu entender, colocou o trabalho na esfera «do garantismo e dos direitos» (dizer «direitos» poderá ser aceitável, desde que não sejam garantidos nem laborais…). Mas a seguir, perante o repetido uso do conceito de exploração pelo sindicalista, Crespo adoptou um tom mais impositivo. Não é apenas um termo que o próprio dificilmente usaria; é um termo que não pode ser usado: «A exploração como elemento negocial não pode ser utilizada». Não é também apenas um termo de que ele discorda, por legitimamente ter um pensamento político diferente; é um termo cuja utilização ele se sente no direito de censurar, num tom entre o paternalismo e a agressividade, por o considerar ultrapassado numa altura em que o que importa é promover a aceitação da configuração que o mundo está a tomar e isolar ao máximo os que a contestam: «O senhor diga-me só, na Central contemplam que o mundo está a mudar (…)?»

Vamos passar então a chamar-lhe uma conversa num programa televisivo, e não uma entrevista. Seria necessário e urgente que a comunicação social fizesse o debate sobre as vantagens de os órgãos de informação assumirem com clareza os pontos de vista subjacentes às suas análises e escolhas informativas. Seria desejável, para o reforço da democracia, que os cidadãos não tivessem quase só acesso a um campo mediático sem verdadeiro pluralismo de ideias e que tantos jornalistas deixassem de ver a sua autonomia ser cada vez mais constrangida pelas regras e interesses dos poderes económicos proprietários da generalidade dos meios de comunicação. Enquanto nada disto for uma realidade, fica a sensação, como diria Mário Crespo (mas agora acertando na gramática), de que chamar a esta conversa jornalismo talvez seja um substantivo um bocado forte.

Continuar a ler.
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Até logo

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Um ritual nesta data


Em 11 de Fevereiro de 2007, a vitória no referendo a favor da IVG, depois de uma duríssima campanha.

Como alguém me recordava ontem, foi a única votação em que muitos de nós «ganharam», nos últimos anos...


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10.2.12

Amanhã


(Clique para ver todos os locais de concentração)


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Carnavais

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Palmas para a desgraça alheia


Ainda não foi ontem que se conheceu o desfecho de mais uma etapa da situação grega, porque os ministros da zona euro puseram mais duas condições para a concessão do resgate: que o pacote que Atenas trouxe a Bruxelas seja aprovado pelo parlamento grego e que sejam encontrados mais uns trocos (325 milhões de euros) em cortes de despesas deste ano.

Mas são já conhecidas as medidas adicionais deste plano grego, nomeadamente:

- Redução em 22% do salário mínimo nacional, actualmente nos 751 euros. Para os jovens com menos de 25 anos, a redução será de 32%.
- Congelamento do salário mínimo para os próximos três anos.
- Aumentos salariais congelados até à taxa de desemprego descer para os 10% (19% actualmente).
- Despedimento de 15 mil funcionários públicos até ao fim de 2012.
- Redução em 15% das pensões de funcionários de empresas estatais.
- Privatização até ao final de Junho de várias empresas detidas pelo Estado, no sector do gás, petróleo e águas.

Perante esta verdadeira tragédia, qual foi a reacção praticamente generalizada no nosso serão televisivo, de comentadores e jornalistas destacados em Bruxelas? Em resumo: É uma excelente notícia para Portugal, embora seja pouco provável que isto resolva o problema grego e que o povo aguente. Ou, em português mais corrente: eles que se lixem porque enquanto o pau vai e vem folgam as nossas costas.

Quando o país que se seguir a nós na fila de espera reagir deste modo ao que nos for imposto, acharemos bem? Será que se tem consciência do que isto realmente significa? É esta a «união» europeia que se pretende defender, os valores morais que erguemos em baluarte?

P.S. – Bem a propósito:


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9.2.12

Aos que brindarão com champanhe


Hoje, virou-se uma página negra na história da  justiça espanhola. Baltasar Garzón foi condenado pelo Supremo Tribunal em onze anos de proibição do exercício da profissão. María Garzón Molina, sua filha, escreveu esta carta:

A los que hoy brindarán con champán


Esta carta está dirigida a todos aquellos que hoy brindarán con champán por la inhabilitación de Baltasar Garzón.


A ustedes, que durante años han vertido insultos y mentiras; a ustedes, que por fin hoy han alcanzado su meta, conseguido su trofeo.


A todos ustedes les diré que jamás nos harán bajar la cabeza, que nunca derramaremos una sola lágrima por su culpa. No les daremos ese gusto.


Nos han tocado, pero no hundido; y lejos de hacernos perder la fe en esta sociedad nos han dado más fuerza para seguir luchando por un mundo en el que la Justicia sea auténtica, sin sectarismos, sin estar guiada por envidias; por acuerdos de pasillo.


Una Justicia que respeta a las víctimas, que aplica la ley sin miedo a las represalias. Una Justicia de verdad, en la que me han enseñado a creer desde que nací y que deseo que mi hija, que hoy corretea ajena a todo, conozca y aprenda a querer, a pesar de que ahora haya sido mermada. Un paso atrás que ustedes achacan a Baltasar pero que no es más que el reflejo de su propia condición.


Pero sobre todo, les deseo que este golpe, que ustedes han voceado desde hace años, no se vuelva en contra de nuestra sociedad, por las graves consecuencias que la jurisprudencia sembrada pueda tener.


Ustedes hoy brindarán con champán, pero nosotros lo haremos juntos, cada noche, porque sabemos que mi padre es inocente y que nuestra conciencia SÍ está tranquila.


Madríd, 9 de febrero de 2012.
María Garzón Molina

Daqui.
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Trocar os xailes negros pelas boinas negras



Ricardo Araújo Pereira faz mais pela democracia deste país do que muitos zelosos e ilustres jornalistas e comentadores. O texto que a Visão publica hoje, de um humor que corta fininho mas muito fundo, é imperdível.

«Passos Coelho sabe melhor do que ninguém o que acontece àqueles portugueses menos esforçados, cuja capacidade de trabalho lhes permite arranjar emprego apenas nas empresas dos amigos, e que por opção, e não por necessidade, deixam a conclusão da licenciatura lá para os 37 anos: podem chegar a primeiro-ministro. E esse é um destino trágico que ele não deseja aos seus compatriotas.»

Ver AQUI na íntegra.
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Há cinco anos


Também estava muito frio no dia em que se encerrou a campanha do referendo a favor da IVG. Talvez seja o momento adequado para recordar…
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Deviam era apostar em Angela Merkel que provoca instintos assassinos

8.2.12

Magazine Littéraire


Muito interessante, este número de Fevereiro 2012: escritores sob ocupação nazi durante a II Guerra Mundial.

Índice aqui.
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De outras eras


No início do século XX, «os novíssimos clubes nocturnos lisboetas são vistos como lugares de civilização e começam a dar brado. Estes espaços que se instalam nos antigos palácios alugados pelas famílias falidas do “ancien regime” definem um eixo de folia, na novíssima geografia noctívaga que se desenha entre o Rossio, a Avenida da Liberdade e a Rua das Portas de Santo Antão».

E eu não sabia que o primeiro casino da capital tinha sido o «Majestic Club», inaugurado em 1918, na Rua das Portas de Santo Antão. Mais tarde «Monumental Club», acabou por ser encerrado em 1928, quando o jogo foi proibido nas casas de diversão e nos clubes.

Hoje é… a «Casa do Alentejo» - evidentemente!

Todas as explicações aqui, neste magnífico blogue.
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Leitura útil



O que aconteceu na Grécia desde o primeiro acordo com a 'troika'? Os mercados “acalmaram”? O país voltou a crescer? A Grécia vai para o 'default'? Portugal é muito diferente da Grécia?
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Ela já o diz, há quem o diga há muito tempo, todos os que não dizem também o sabem


«Uma coisa é isso [cumprir as medidas impostas pela troika], outra coisa é pensar se, quando chegarmos ao fim do prazo, atingimos ou não atingimos os objectivos que estão estabelecidos no acordo com a troika. E eu acho que não se vai conseguir (…), por culpa das metas que estão estabelecidas porque pretendem objectivos que não são exequíveis.
A dimensão do aumento da receita que era necessária, a dimensão no corte na despesa que era necessária só seria possível se destruíssemos o país.»

Daqui.
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7.2.12

Não parece possível


… mas Juliette Gréco faz hoje 85 anos!



(Na foto, com Michel Piccoli, com quem foi casada.)

Da imprensa de hoje: Juliette Gréco plus jeune que jamais
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Passos Coelho revelou que só casou com uma das cantoras das piegas "Doce" porque a Patti Smith não estava disponível

Não há tolerância de ponto? Who cares?!


Estamos perante uma grande onda de desautorização do governo, por causa de uma decisão disparatada, tomada num timing errado e anunciada levianamente. Embora pareçam de importância secundária, acções como esta são causas de irritação absolutamente desnecessárias, que em nada ajudam a aguentar tempos difíceis.

A cada hora que passa, surgem mais notícias como estas:






Etc., etc., etc.
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Punk Economics

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(Via Paulo Coimbra no Facebook)
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Piegas não nos querem, revoltados nos terão


A frase suicida que Passos Coelho disse ontem ficará para a história (curta, espera-se) deste pavoroso governo.

Coleccionem-se as reacções na blogosfera e não só, porque é também com estas «desgraças» que se constrói a memória de um país. Durante o dia, irei actualizando a lista das (menos meigas) que for encontrando. Para já:




* José Simões, O verdadeiro artista

Actualizado às 14:40:
*Henrique Monteiro, O puxão de orelhas
*Precários inflexíveis, Piegas? Quando um Primeiro-Ministro é perigoso e irresponsável
* Luís Novaes Tito, Pieguices
* Nuno, De um "piegas"
* Filipe Tourais, OK, chefe!
* Tiago Mota Saraiva, Acordai piegas!

Actualizado às 18:00:
* Vítor Dias, É este fulano primeiro-ministro?
* Teófilo M., Serão os portugueses piegas?

Actualizado 19:15:
* Rui Rocha, Estampou-se!
* Rhumor, Piegas és tu, malandro

Actualizado às 22:50:
* Vasco Morais, «Piegas» de todo o país, unamo-nos para mandar este gajo para o c...... !
* João Martins, Piegas

Actualizado 8/2, 10:00:
* Luta Popular, Não sejamos piegas… arremessemos pela janela os Migueis de Vasconcelos!
* Rogério da Costa Pereira, Custe o que custar, piegas, hás-de emigrar

P.S. - Contributos de links na Caixa de Coemetários, sff.
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6.2.12

Economia social e solidária


(Contributo de Jorge Pires da Conceição.)

Embora constatemos que maioritariamente as pessoas, individual ou colectivamente, só acreditam que as mudanças sociais se produzam por vias institucionais macro-organizadas, como as dos governos, dos partidos, das autarquias megalòpolitas, etc., verificamos também que, felizmente, não é esse o sentir de muita gente que minoritariamente se vai organizando em pequenos grupos de iniciativas locais, regionais, nacionais e mundiais, ensaiando práticas mais ou menos estruturadas que vão de algum modo influenciando mudanças do comportamento e do viver sociais. Muitos de nós temos observado - e mesmo participado - em iniciativas dessas. São exemplos, mesmo que escassos, da cidadania activa e participada, sempre possível e perfeitamente ao nosso alcance.

Um dos exemplos que nos vem de França, está no artigo de 2 de Fevereiro de Mickaël de Draï na Rue89, com o título «Une monnaie solidaire à Lyon».

É uma experiência de economia social e solidária, alternativa à economia de mercado e especulativa. Não é uma experiência pioneira, nem sequer em Portugal. É algo, aliás, que tem laços de parentesco próximo com a linha global e alternativa de comércio justo, como aquela que é seguida pelo Espaço por um Comércio Justo, rede de comércio justo formada por perto de trinta organizações de Portugal e de Espanha.

Convém recordar que o conceito e a prática, com várias nuances, da moeda local solidária ou complementar tem na Europa mais de um século e que a ela se recorreu em tempos sociais e políticos de crise como complemento à moeda institucional, embora quase sempre localmente ou em pequenas regiões.

Assinale-se que o artigo citado surge cerca de uma ano depois do Colóquio internacional em Lyon sobre as moedas locais (ver vídeo) ), e depois do inquérito popular efectuado em Dezembro de 2011 para lançamento da moeda local em Lyon (ver aqui e aqui). Registe-se ainda que em França presentemente existem, ou estão em vias de se constituirem, pelo menos cerca de duas dezenas de moedas locais.

Este é um artigo-debate que, sinteticamente, expõe esse modelo alternativo e complementar de economia, bem como as suas limitações, hipóteses de sucesso e implicações no relacionamento social, ao qual o público acrescentou vários comentários, com as suas dúvidas, achegas e contestações.

E pode também abrir um frutuoso debate entre nós!...

Alguns sítios na net sobre esta temática em França:
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Leituras

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Entretanto na Síria - razões para um duplo veto


A barbárie continua, com o planeta, impotente, a assistir.

Talvez valha a pena tentar perceber as razões do braço de ferro da Rússia e da China nas Nações Unidas, não só por causa deste caso concreto, mas pelo que pode estar para vir, neste mundo em que tudo acontece a uma velocidade estonteante!

Um longo texto, publicado em Rue 89, ajuda: «Double véto à l'ONU : pourquoi Pékin et Moscou défendent Assad».

«Bem-vindos ao mundo da realpolitik, onde o jogo das grandes potências emergentes não tem razões para invejar o cinismo que demonstraram, historicamente, os donos do mundo inteiro. Este mundo desenhou-se à nossa frente, no Sábado à noite, no Conselho de Segurança da ONU, com o duplo veto, chinês e russo, a uma resolução sobre a Síria.»

Na íntegra aqui.


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Que reste-t-il?


Ainda há poucos dias falei dele, mas impõe-se recordar que François Truffaut faria hoje 80 anos. Se até o Google o assinala!...

Baisers Volés (1968), em jeito de homenagem a um dos realizadores que marcou para sempre algumas gerações.




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5.2.12

Democracia diminuída


Confesso que não tenho prestado a atenção devida ao que se tem passado recentemente, em Espanha, durante o julgamento de Baltasar Garzón, mas não me escapou a notícia de há dois dias sobre os netos das vítimas do franquismo, que testemunharam a favor da pessoa em que viram uma oportunidade de «curar as feridas».

Num texto publicado pela ATTAC Espanha, hoje divulgado, Xavier Caño Tamayo dá-nos um bom resumo crítico do historial da questão BG e da sua relação com o processo da Transição espanhola.

A ler também, no Editorial de NYT de hoje: Truth on Trial in Spain
«Judge Garzón is undeniably flamboyant and at times overreaches, but prosecuting him for digging into Franco-era crimes is an offense against justice and history. The Spanish Supreme Court never should have accepted this case. Now it must acquit him.»
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Vícios de todo o mundo, uni-vos!

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«Acredito que a crise pode determinar a guerra»


Antonio Negri esteve recentemente em Lisboa e foi entrevistado por Nuno Ramos de Almeida. Vale a pena ler.

«A globalização económica e a transformação informática são as duas faces de uma mesma moeda. Esta mutação é acompanhada pela passagem ao capitalismo financeiro em que o capital financeiro se torna o veio fundamental da globalização. (…)

Hoje a transformação das classes subalternas, que são aquelas que teriam interesse numa revolução, são extraordinariamente profundas. Há uma ligação cada vez mais plena, pelo menos nos países desenvolvidos, entre o velho proletariado e uma classe média enormemente empobrecida. E isso determina dificuldades profundas, de linguagem e de instrumentos de comunicação em torno dos protestos, mas sobretudo de projecto. Mas há elementos revolucionários em si: a indignação, e não falo especificamente do movimento dos indignados, e a consciência cada vez mais profunda e forte de que a ordem democrática inventada no século XVIII e concretizada de uma forma global após a queda da União Soviética não é qualquer coisa que se possa confrontar com a ordem mundial que agora se impôs. (…)

Não acredito que a guerra vá ser decidida porque há uma crise. Acredito que a crise pode determinar a guerra. A conflitualidade é sempre depois. (…)

Em Itália fizemos um referendo para impedir a privatização das águas. Foram 28 milhões de italianos que votaram contra a privatização da água, e neste momento o governo, com o apoio da Europa, decide privatizar a água enquanto nós, os 28 milhões, lutamos para que a água fosse um bem comum. Não só a água, mas tudo aquilo que existe em torno dela deve ser gerido de uma forma democrática. Há 28 milhões de pessoas que votaram isso e agora querem-nos impor uma água privada mascarada de pública. Considero que o público não é mais que uma garantia do privado. Hoje em dia o público não é mais que a manutenção da ordem pública para dar aos privados, numa relação de subordinação, os bens comuns e a exploração das coisas. O público foi sempre nas democracias capitalistas alguma coisa que servia os interesses privados. (…)

Sou pessimista porque tenho medo. Vejo o que há, mas da outra parte sinto a potência deste século de reiventar, talvez não o comunismo, certamente não o comunismo soviético, mas o comum. É preciso reinventar as formas em que teremos a capacidade de nos dirigir a nós mesmos.»

Na íntegra aqui.
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