20.10.12

E la nave va



Da crónica «Rendição», de Miguel Sousa Tavares, publicada no primeiro caderno do Expresso de hoje (sem link). Mais um texto, cortante, que evidencia a quase unanimidade de opiniões e de críticas, no momento que passa. Raramente se terá visto uma frente tão ampla e tão aguerrida contra um governo – eu não me lembro de nenhuma situação equivalente. 

«Fora dó círculo dos cinco terroristas económicos que nos governam, fora da nave de loucos supostamente conduzida pelo primeiro-ministro Passos Coelho, não há uma alma penada que não tenha percebido já que seguimos uma estratégia de suicídio colectivo. (...) 

Perante a evidência do desastre, perante o descalabro do "bom aluno" e do "bom exemplo", os seus mentores tratam de tirar o cavalinho da chuva: o FMI fez um extraordinário exercício de mea culpa, reconhecendo ter-se enganado na teoria e na sua demonstração prática (o que, mesmo assim, não convenceu o último dos moicanos, o nosso Vítor Gaspar, que acha que tudo não passou de um problema de má tradução do inglês). E Bruxelas já tratou de esclarecer, pela voz do nosso amigo Durão Barroso, que a responsabilidade por tanta asneira junta, aqui ou na Grécia, "é dos governos nacionais". É assim que acontece nas histórias de espionagem, quando os agentes undercover são descobertos: abandonam-se à sua sorte. O careca, o alemão e o etíope já estão em roda livre e por conta própria: só Gaspar e Passos Coelho é que persistem em validar as suas credenciais. (...) 

Há uma coisa pela qual Passos Coelho não merece perdão: dizer que estava preparado para governar. A ignorância só é desculpável quando é humilde, não quando se mascara de sapiência e suficiência, sabendo que, com isso, vai causar danos a terceiros de boa-fé. Mas é o que temos, por ora. 

E, se ele não tem coragem para estar à altura da situação e fazer o que tem de fazer como primeiro-ministro de um país com quase 900 anos de história, que agoniza, sem sentido nem dignidade, pois que acorde então Sua Excelência que habita no Palácio de Belém e que tem o dom de falar quando é fácil ou lhe convém e de ficar calado e quieto quando acha prudente. Que Cavaco Silva obrigue o PM a defender Portugal, que o substitua nisso, se necessário, ou que o demita, se não restar alternativa. Mas que se deixe de silêncios palacianos e jogos florentinos, à mistura com desabafos de alma no Facebook. Eu nem sequer tenho conta no Facebook e não penso vir a tê-la para ler as mensagens criptadas do alter ego do Presidente da República. Ó, sorte a nossa!» 
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Gentes do Norte...


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Não somos a Grécia – para o bem e para o mal



Numa sondagem agora divulgada na Grécia, seriam estas as percentagens de votos obtidas pelos diferentes partidos, se se realizassem agora eleições legislativas:

SYRIZA 23.8%
NEA DIMOCRATIA 22.7%
GOLDEN DAWN 9.2%
PASOK 7.2%
INDEPENDENT GREEKS 6.1%
DEMOCRATIC LEFT 5%
KKE (Communist Party) 4.5%

Alguns comentários:
– Os três partidos que estão no governo – ND, PASOK e Esquerda Democrática – somariam apenas 34,9% e estariam portanto muito longe da maioria parlamentar.
– O SYRISA seria a força mais votada, embora a pequena distância da ND.
– Os socialistas do PASOK vão desaparecendo, nos seus reduzidíssimos 7,2% e o KKE também vai definhando.
– Mas absolutamente assustador é a subida do GOLDEN DAWN pró-nazi, que passa a terceira força.

Se (felizmente e pelo menos a médio prazo), não corremos o risco de vermos um partido de extrema-direita com 9% dos votos, nem outro (infelizmente, digo eu...) da esquerda da esquerda em primeiro lugar, há que estar atento porque em fases de crise tão aguda como aquela que vivemos, a História acelera-se muito mais facilmente do se pensa.

(Fonte)
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«Jogue e instrua-se» – Uma crónica de Manuel António Pina



Nos últimos tempos, as suas críticas, sempre certeiras, eram cada vez mais mordazes. Sentimos a falta, precisamente quando delas tanto precisamos.  
 
«Esqueça o "Trivial Porsuit". O jogo das noites de 2012 será tentar descobrir uma ideia, uma "representação que se forma no espírito", uma "percepção intelectual" ou um "pensamento" nas 812 palavras da mensagem de Natal do primeiro-ministro.

É uma espécie de "Jogo da (in)Glória". Quem, por exemplo, encontrar algo parecido com uma "percepção intelectual" na frase "queremos colocar as pessoas comuns com as suas actividades, os seus projectos, os seus sonhos, no centro da transformação do país", avança duas casas; e quem, designadamente algum dos 689,6 mil desempregados ou dos 100 mil jovens forçados a sair do país, não vir na frase "uma sociedade que se preza não pode desperdiçar nem os seus jovens nem as pessoas que se encontram na fase mais avançada da sua vida activa" uma piada de humor negro, volta ao início e será obrigado a reler as estatísticas do desemprego e da emigração.

Já quem vislumbrar uma "representação que se forma no espírito" diferente da hipocrisia na frase "um dos objectivos prioritários (...) do Governo consiste na recuperação e fortalecimento da confiança", depois de ter ouvido Passos Coelho garantir que, consigo a primeiro-ministro, não haveria aumentos de impostos nem seriam confiscados os subsídios de férias e Natal, será expulso do jogo.

"Um Bom Natal e um Feliz Ano Novo", como disse Passos Coelho (foi impressão minha ou ouviu-se mesmo, em fundo, o sinistro riso de Muttley?)»

27 de Dezembro de 2011

19.10.12

Manuel António Pina – Hoje, na RTP2 (20:58)



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Manuel António Pina – o que guardo



Morreu hoje e a notícia não me encontrou desprevenida: sabia que estava muito doente, não publicava as suas magníficas crónicas no Jornal de Notícias desde fim de Julho.

Neste momento, tudo está a ser dito sobre a pessoa, a obra, republicam-se excertos de poemas. Eu percorro este blogue e registo, sem medo do chavão, que é um pouco dele que morre com Manuel António Pina, tantas foram as vezes que o citei, que o transcrevi, que o comentei. Já disse algures que a última coisa que fazia à noite, antes de fechar este computador, era ver se já estava online a sua crónica do dia seguinte. 

Morre também um dos meus leitores: sei que passava por aqui regularmente porque mo disse mais de uma vez em privado e fê-lo também em público, em entrevista publicada na revista LER, há menos de um ano – eternamente grata.

Mas os nossos contactos tiveram início há quatro anos, quando lhe pedi para publicar alguns dos seus textos nos «Caminhos da Memória». Teve então início uma troca de mails que guardo como tesouros e que agora reli com emoção. Eram sempre muito longos, naquilo que o próprio confessava ser uma espécie de «desforra» do espartilho imposto pela limitação do número de caracteres nos textos a serem publicados em jornais – «o morto tem que ser feito exactamente à medida do caixão (...) mas, às vezes, o morto é grande de mais para o caixão disponível e torna-se particularmente penoso escolher o que dele tem que ficar de fora». 

Falava sempre dos gatos e tinha um magnífico sentido de humor. Um dia comentou uma «enorme calinada» que não tinha conseguido corrigir a tempo no texto que enviara umas horas antes para o jornal: «Troquei a Sierra Maestra pela Sierra Madre. Confundi Fidel com Pancho Villa (por quem aliás, tenho, apesar de tudo, mais simpatia do que por Fidel). O dr. Freud teria aqui motivo para um parágrafo na "Psicopatologia da vida quotidiana", eu só tenho vontade para, como quando era miúdo, meter a cabeça debaixo dos cobertores e passar assim o fim-de-semana.»

Fico, a sorrir, com este parágrafo.
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Previsões que dão que pensar



«Um estudo da McKinsey estima que, em 2025, a China terá mais de 220 cidades com populações acima de um milhão, superior às 125 de 2010. O estudo prevê que 23 mega cidades tenham, pelo menos, uma população de cinco milhões.» 

 (Daqui.)

Enquanto a Europa se está a transformar num enorme Museu de Arte Antiga, a céu aberto. E os chineses não têm culpa.
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Conselho da Europa versus troikas?



Uma comissão do Conselho da Europa declarou que duas reformas ao código laboral, decretadas na Grécia em 2010, são ilegais porque violam direitos dos trabalhadores, tal como estes se encontram definidos na Carta Social Europeia. Por esse motivo, devem ser anuladas, já que «reajustamentos orçamentais impostos pela crise económica não devem levar a uma erosão dos direitos dos trabalhadores consagrados na Carta Social Europeia».

Em causa está o alargamento do período experimental para novos trabalhadores e a diminuição do salário mínimo de jovens com menos de 25 anos.

A comissão não tem poder para impor as suas conclusões, mas faz recomendações ao Conselho de Ministros do Conselho de 47 nações da Europa. Este pode adoptar uma resolução que apele a um estado membro para que tome medidas correctivas.

Na origem de tudo isto esteve uma queixa de sindicatos gregos. Para seguirmos o exemplo, estamos à espera de...??? Quem não tem cão, caça com o primeiro gato que aparece pelas redondezas. 

 (Daqui.)

18.10.12

Custa a crer



... que Sylvia Kristel tenha morrido, com apenas 60 anos. Ela que foi o ícone de um filme que marcou quem já tinha idade para o ver – Emmanuelle –, estreado em França em 1974 (onde ficou em cartaz durante onze anos consecutivos), chegado a Portugal em Abril de 1975, em pleno PREC.


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Nave de loucos



«Basta um grama de lucidez para se perceber que viajamos numa nave de loucos em que o espetáculo de demências diversas se impôs como matriz de um quotidiano de que vai desaparecendo qualquer sentido. Mas esse grama é precioso para podermos avaliar a dimensão dos fracassos que se pretendem maquilhar ou ocultar: o fracasso do Governo, o fracasso do memorando e o fracasso da União Europeia.» 
Manuel Maria Carrilho

E aquilo que é mais desesperante é que (quase) todos parecem concluir o mesmo do exercício desse «grama de lucidez», enquanto os dias e os meses vão passando sem que nem os menos pessimistas vislumbrem qualquer réstea de luz no horizonte.

Importa-se de repetir, dr. Aguiar Branco?



É que parvos não somos – nem cegos, nem surdos. 



Na referida reunião, foi marcada uma concentração de militares no próximo dia 10 de Novembro.

A propósito da greve na Agência LUSA


Recebido por mail, com pedido de divulgação.

Os Trabalhadores da Agência Lusa iniciam na quinta-feira, dia 18, uma greve de quatro dias, contra a intenção do Governo de reduzir em cerca de 30 por cento o valor do contrato de serviço noticioso e informativo de interesse público. 

Essa redução comprometerá gravemente o funcionamento e a dimensão da rede nacional e internacional da Agência, bem como a qualidade editorial dos serviços por ela prestados.

Os órgãos representativos dos trabalhadores da Agência Lusa decidiram agendar as seguintes ações para os dias de greve:

Dia 18, quinta-feira
- Concentração junto da Presidência do Conselho de Ministros, a partir das 11h.
- Concentração à porta da delegação da Lusa no Porto (Praça Coronel Pacheco), a partir das 10h, com a presença do presidente do sindicato dos jornalistas, Alfredo Maia.
- Ação de sensibilização junto às antigas instalações da delegação da Lusa em Coimbra, na Avenida Fernão de Magalhães, às 10h.

Dia 19, sexta-feira
- Concentração junto à porta lateral do Parlamento às 09h30.
- Deslocação às 11h00 do Parlamento para o jornal Público (Rua Viriato 13, metro Picoas), também em greve neste dia, no âmbito de uma ação convocada por jornalistas de diversos meios de comunicação social, em solidariedade com os jornalistas do Público e da Lusa. Esta mesma ação repete-se junto à sede da Agência Lusa, por volta das 13h.
- Debate sobre a situação da comunicação social, organizado em conjunto pela Lusa e pelo Público, no auditório do Polo das Indústrias Criativas da UPTEC, no Porto (Praça Coronel Pacheco), às 11h.

Dia 20, sábado
- Ação de sensibilização junto ao café A Brasileira, à saída do metro da Baixa-Chiado, às 12h.
- Ação de sensibilização junto à Estátua do Ardina, na Praça da Liberdade, Porto, às 10h, seguindo para a Rua de Santa Catarina.

Dia 21, domingo
- Ações de sensibilização feitas por diversos piquetes de greve junto dos restantes órgãos de comunicação social, clientes dos serviços da Agência Lusa.

Dia 22, segunda-feira
- Conferência de imprensa, às 11h, nas instalações do Sindicato dos Jornalistas, em Lisboa, com os representantes dos órgãos representativos dos trabalhadores, na qual será feito um balanço da greve e serão anunciadas novas ações.

Tendo presente que a Lusa distribui, por mês, quase 12 mil notícias e 30 mil fotografias, mais de 1000 sons, 850 vídeos, para além de assegurar um serviço de agenda nacional, regional e local, satisfazendo as necessidades de rádios, sites, jornais e televisões, os Trabalhadores da Agência Lusa lamentam os incómodos que esta greve possa causar aos restantes órgãos de comunicação social, clientes da Agência, mas apelam à sua compreensão e solidariedade e, sobretudo, à cobertura noticiosa destas ações de luta.

DESTRUIR A AGÊNCIA LUSA É ATACAR A DEMOCRACIA

OS TRABALHADORES DA AGÊNCIA LUSA.
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17.10.12

Pelo jornalismo, pela democracia - Carta aberta de 80 jornalistas



A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática. 

O jornalismo não se resume à produção de notícias e muito menos à reprodução de informações que chegam à redacção. Assenta na verificação e na validação da informação, na atribuição de relevância às fontes e acontecimentos, na fiscalização dos diferentes poderes e na oferta de uma pluralidade de olhares e de pontos de vista que dêem aos cidadãos um conhecimento informado do que é do interesse público, estimulem o debate e o confronto de ideias e permitam a multiplicidade de escolhas que caracteriza as democracias. O exercício destas funções centrais exige competências, recursos, tempo e condições de independência e de autonomia dos jornalistas. E não se pode fazer sem jornalistas ou com redacções reduzidas à sua ínfima expressão. 

As lutas a que assistimos num sector afectado por despedimentos colectivos, cortes nos orçamentos de funcionamento e precarização profissional extravasa, pois, fronteiras corporativas.
Sendo global, a crise do sector exige um empenhamento de todos – empresários, profissionais, Estado, cidadãos - na descoberta de soluções. 

A redução de efectivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.

Porque existe uma componente de serviço público em todo o exercício do jornalismo, privado ou público;

Porque este último, por maioria de razão, não pode ser transformado, como faz a proposta do Governo para o OE de 2013, numa “repartição de activos em função da especialização de diversas áreas de negócios” por parte do “accionista Estado”;

Porque o jornalismo não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece;
Porque o jornalismo é um serviço que está no coração da democracia;

Porque a crise dos média e as medidas erradas e perigosas com que vem sendo combatida ocorrem num tempo de aguda crise nacional, que torna mais imperiosa ainda a função da imprensa;
Porque o jornalismo é um património colectivo;

Os subscritores entendem que a luta das redacções e dos jornalistas, hoje, é uma luta de todos nós, cidadãos. 

Por isso nela nos envolvemos. 

Por isso manifestamos a nossa solidariedade activa com todos os que, na imprensa escrita e online, na rádio e na televisão, lutando pelo direito à dignidade profissional contra a degradação das condições de trabalho, lutam por um jornalismo independente, plural, exigente e de qualidade, esteio de uma sociedade livre e democrática.

Por isso desafiamos todos os cidadãos a empenhar-se nesta defesa de uma imprensa livre e de qualidade e a colocar os seus esforços e a sua imaginação ao serviço da sua sustentabilidade.

Proponentes: 

À espera do que se segue



Com amigos destes, a esperança de vida deste governo encurta de dia para dia. Para memória futura, algumas declarações de especialistas mais do que insuspeitos, registadas só no dia de ontem:





Bagão Félix: «Se é assim em 2013, como será em 2014?»:

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Boa pergunta


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O não-oe: teoria geral do sufoco



Já li dezenas de notícias e comentários críticos ao Orçamento de Estado. Escolho esta crónica de José Reis, inserida no Público de ontem (sem link). Está lá tudo. (Os realces são meus.)

«Quando havia pensamento e memória, isto é, antes da “teoria geral do esquecimento” (tomo de empréstimo o título magnífico do livro de José Eduardo Agualusa) se ter tornado dominante, o Orçamento do Estado (OE) era um instrumento fundamental da vida coletiva e da organização da economia e da sociedade. Na verdade, o Estado, independentemente da filosofia que se adotasse, era uma presença reconhecível em nome de princípios minimamente aceitáveis. Nos tempos mais recentes, os orçamentos foram sobretudo avaliados pelas injustiças relativas que apresentavam ou pelos desequilíbrios variados que introduziam. E foram muitos e graves. Mas o OE para 2013 é o orçamento da injustiça absoluta e do efeito sufocante geral. Ninguém descobrirá uma novidade, por mais contas que faça, que destoe do espectro obscuro da destruição. É um fado de uma nota só, um caso raro de insensatez. Na sua última apreciação, o Tribunal Constitucional pronunciou-se sobre a desigual repartição dos sacrifícios. Invocou princípios de justiça relativa. Não me admiraria que a teoria constitucional, felizmente reavivada da canibalização que dela fizeram os cultores do estado de excepção e da bondade do empobrecimento, viesse agora invocar princípios de ordem absoluta. O problema é que todos os limiares de capacidade para suportar a punição fiscal foram ultrapassados. É isto, em suma, o OE para 2013. Os caminhos cruéis também são caminhos. Já há muita gente a perceber que o sufoco se resolve por uma denúncia do memorando e por uma renegociação corajosa de uma dívida ingerível. E que isso é urgente. Talvez haja economia e sociedade depois disso.» 
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16.10.12

Desde ontem que isto não me sai da cabeça



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Prós & Contras por 10 euros



Soube hoje que quem vai para a plateia do programa «Prós & Contras» recebe 10 euros (sujeitos a IRS, Segurança Social, etc., etc., porque se passa recibo). Acho bem: aquilo é uma espécie de «Preço certo» e, nos concursos, a RTP sempre pagou aos públicos figurantes.

Não sei como é feita a escolha de toda aquela gente, nem se há cachets diferenciados para primeira e segunda plateia. Mas é mais do que provável que muitas daquelas pessoas sejam as mesmas que aplaudem Malato na «Decisão Final». Aliás, copio o que alguém que esteve lá ontem me relatou: «E são habitués. Na fila do wc, cumprimentam-se todos, sabem as regras do programa (por exemplo, que o intervalo é demasiado curto para toda a gente conseguir ir ao wc e que não se pode entrar atrasado de forma nenhuma), falam entre eles com enorme familiaridade, perguntam pelo periquito e pelo gato.»

Só eu é que fico chocada com esta coreografia num programa deste tipo, de serviço público, que se pretende sério? Não podia decorrer numa sala mais pequena, com o público adequado, formado apenas por aqueles que acompanham quem está na mesa e que não recebem os tais 10 euros (talvez fosse mais incómodo para a apresentadora, eu sei...)? Uma plateia de circo é necessária, parcialmente paga por nós todos na conta da electricidade, btw? Seria muito diferente se a enchessem com espantalhos?
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S. Bento, ontem, enquanto as TVs só falavam de futebol


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OE: próximos dias?



O CDS manter-se-á com um pé dentro e outro no ar, depois de ter discutido esta noite, «inconclusivamente», a saída do governo? Para já, pediu uma reunião urgente com Cavaco.

E Cavaco ficará calado? Escreverá mais um recado no Facebook? 

Os partidos da oposição farão algo de mais incisivo do que declarações de circunstância? Virão para a rua já, esta semana?

Quanto ao serão televisivo de ontem, esse, foi bem elucidativo: depois de umas tantas apreciações sem chama dos comentadores habituais, passou-se rapidamente para o futebol e para o inenarrável programa de Fátima Campos Ferreira. Na rua, em frente da Assembleia da República, acontecia algo de importante, até «com sangue» de que tantos jornalistas gostam! Mas dizem-me que foi a TVE espanhola que melhor cobriu os acontecimentos. 

E hoje há mais futebol, certo? 
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15.10.12

E agora, Cavaco?



Perante o Orçamento para 2013, hoje oficialmente expedido dentro de múltiplos pen drives, o presidente da República continua a pensar o que disse há dois dias: «não é correcto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objetivo de défice público fixado em termos nominais»? Se sim, o que se segue?

Além disso: Vítor Gaspar disse esta tarde, em resposta a um jornalista, que não tinha lido o que o chefe de Estado escreveu no Facebook («Confesso com algum embaraço que não estudei as afirmações que têm vindo a ser reportadas do sr. Presidente.»). Acredite quem quiser, mas tinha acabado de responder taco a taco aos argumentos utilizados por Cavaco, com base no que tem vindo a ser difundido sobre as recentes afirmações do FMI, reduzindo-as a opinião pessoal de um dos seus economistas. 

Tudo normal? Tudo pelo melhor no melhor dos mundos, entre a presidência e o governo? Nada se passará nos próximos dias? 
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Leitura mais do que aconselhada



Um texto de José Maria Castro Caldas, no site da IAC: «Os neo-indignados».

«Com a mesma cara de pau com que defenderam a desregulação e a privatização durante décadas, as PPP, a insustentabilidade do Estado Social, o Tratado de Maastricht, o Euro, o Tratado de Lisboa (porreiro pá!), a intervenção do FMI e a inevitabilidade da austeridade, a maioria das cabeças falantes da TV, de Pacheco Pereira a Medina Carreira, passando pelos notórios Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Ferreira Leite, vêm agora indignar-se com os efeitos do veneno que eles próprios inocularam no país.» 

Na íntegra AQUI.
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Schiu, não digam a ninguém



É imperdível o texto de Pedro Santos Guerreiro, hoje, no Jornal de Negócios, agora já acessível online.

«Este Orçamento vai correr mal. Ninguém acredita nele, nem quem o faz. Mas shiu, parece que isso não pode ser dito alto, piscamos os olhos uns aos outros mas não dizemos nada. Hoje há OE, hoje temos a angústia do guarda-redes no momento do penálti, hoje vamos discutir o indiscutível mas só uma coisa não tem alternativa: insistir em vez de desistir. Insistir na mudança. Não seremos nós, será o tempo a rasgar o OE. (...)

Pronto, não digam nada, guardem silêncio, há uma encenação para cumprir, por causa das opiniões públicas dos países do Norte, por causa dos gajos dos mercados. Guardemos os falhanços para nós e, aqui que ninguém nos ouve, fechemos os parêntesis e escrevamos uma única frase, audível e responsabilizadora. 

Os portugueses têm de pagar austeridade. O Governo tem o dever de garantir a sua racionalidade, equidade e propósito. A UE e o FMI têm de mudar de plano – eles não são só credores, são responsáveis. E nós não podemos deixar que eles se esqueçam disso. Fazê-los merecer o próximo Nobel da Paz.»

Na íntegra AQUI.
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Jornal Público – Solidariedade



Na próxima 6ªf, dia 19, entre as 11:00 e as 13:00, terá lugar um «Encontro de solidariedade para com os dispensados do Público», em frente da redacção do jornal (Rua Viriato, 13, Lisboa).

Marcada para o primeiro dia da greve prevista, esta iniciativa partiu de e terá a participação de um grupo de ex-profissionais do jornal Público, que apela à presença de todos os leitores e cidadãos que se solidarizam com os profissionais agora em vias de serem dispensados.


Comunicação subscrita por vários ex-profissionais do Público, na base da presente iniciativa: 

«O anúncio do despedimento colectivo de 48 pessoas do Público não passou indiferente a ninguém na sociedade portuguesa; a história do Público tem sido, em grande medida, a história da evolução da democracia portuguesa.

Desde o seu nascimento, em 1989 – com início de contacto diário com os leitores em Março de 1990 –, que o Público se pautou por ser um espaço de enorme liberdade, de total liberdade de opinião, de pluralidade e democracia; em paralelo, o Público revelou-se um dos órgãos de comunicação social que mais lutou pela liberdade de imprensa nos últimos anos.

Contudo, o constante e crescente interesse na obtenção de resultados económicos foi empurrando o Público para um atoleiro complicado; foram saindo os primeiros directores, outros foram boicotados, outros despromovidos, outros enfim. Em simultâneo, foram saindo muitos jornalistas e quadros que conferiam unidade orgânica ao projecto, que, grosso modo, apesar dos percalços vários, se tem mantido no rumo definido originalmente.

Nos últimos meses, temos ouvido histórias deveras tristes sobre episódios de funcionamento do Público, algumas das quais revelaram uma profunda divisão interna e se tornaram em temas incontornáveis da actualidade política nacional – o caso das escutas ou o caso Relvas são disso exemplos.

Nós, ex-Público, somos já mais de 300 pessoas. Em comum, temos o amor que mantemos pelo Público e o prazer de procurar nele notícias sérias, objectivas e independentes. É com esse espírito que nos reunimos com a regularidade possível e é com esse espírito que falamos sempre em prol da continuidade do projecto.

Nestes mais de 20 anos, o Público tornou-se património nacional, que é nosso (dos que lá trabalharam), dos que ainda lá trabalham e de todos aqueles que o compram ou lêem diariamente. Por isto tudo, não ficamos indiferentes ao que se passa no Público. Por isso, estamos solidários com todos os profissionais que lá labutam, independente do trabalho que executam. Por isso, e também por sabermos dos tempos difíceis que o país atravessa, repudiamos a recente atitude da administração e da direcção editorial de despedir alguns dos melhores que por lá ainda estão.

Defendemos que mais do que de um ajuste de quadros e de poupanças, este despedimento colectivo é efectivamente um saneamento de quadros por discordâncias várias. Reafirmamos que, na medida do que nos for possível, lutaremos pela revogação destas medidas, e estaremos juntos, e seremos solidários, não só dos que agora querem atirar pela borda fora, como dos que lá ficam e que terão um futuro muito árduo. E estaremos também ao lado dos leitores, de todos os leitores, que perderão muito com a “reestruturação” ora iniciada.»

(Daqui.)

Existe também uma PETIÇÃO online, que pode ser lida e assinada AQUI
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Nobel da Paz? (4)


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14.10.12

Uma pequena amostra



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Cavaco: um governo de iniciativa virtual?



Sensivelmente à mesma hora a que tinha início, pelo menos em Lisboa, a Manifestação cultural «Que se lixe a troika, este orçamento não passará!», o presidente da República decidiu sentar-se à secretária e falar aos portugueses, na sua página do Facebook.

Provavelmente, não terá querido deixar de se associar às muitas manifestações contra a troika e mandou-lhe um recado: espera que as afirmações de um dos seus membros – o FMI - «chegue aos ouvidos dos políticos europeus dos chamados países credores e de outras organizações internacionais». Disse ainda que «nas presentes circunstâncias, não é correcto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objetivo de défice público fixado em termos nominais». 

Estranho este hábito que tem de recorrer às redes sociais para dizer algo de importante, uma semana depois das banalidades que lhe ouvimos no discurso oficial do 5 de Outubro!

Quando tantos falam da eventual nomeação de um governo de iniciativa presidencial, creio que é bem possível que Cavaco venha a tentar uma governação de iniciativa virtual. Não deixaria de ser original e de ter (quem sabe...) potencialidades inesperadas... 
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Massacre Final



Este texto de António Carlos dos Santos, publicado no site da IAC (Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida), foi escrito ainda antes dos últimos pré-anúncios do orçamento de Estado e merece ser lido com atenção.

«Este massacre fiscal é, aliás, apresentado com um cinismo borgesiano. Primeiro, com um auto-elogio hipnotizante sobre a governança do país, quando todos percebem que o tão louvado equilíbrio da nossa balança comercial é artificial (liga-se à quebra da atividade económica e à exportação de ouro das famílias), lembrando muito a história do cavalo que já se tinha desabituado de comer e um dia surpreendentemente faleceu, e que o próprio governo admite a subida da taxa de desemprego para 16,4%, níveis nunca vistos.» 

Na íntegra aqui.
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Manifesto «Que se lixe a troika, este orçamento não passará!» (Praça de Espanha, 13/10/2012)



Hoje, dia 13 de Outubro, no preciso local (do antigo teatro aberto) onde no 1º de maio de 1981 José Mário Branco cantou e gritou contra o FMI, gritamos juntos. E não estamos sozinhos.

Hoje, em centenas de cidades do mundo, um enorme movimento de protesto cidadão manifesta-se com um Ruído Global (Global Noise) contra as políticas de austeridade e por um rumo diferente. A nossa luta é internacional.

Em Portugal, estamos em Aveiro, Barcelos, Barreiro, Braga, Bragança, Caldas da Rainha, Coimbra, Faro, Guarda, Lisboa, Loulé, Portimão, Porto, Santarém, Setúbal e Viseu. No Brasil, decorre um protesto em Fortaleza. E aqui afirmamos:

Que se lixe a troika, este orçamento não passará!

Tomámos as ruas e as praças das cidades. Juntámos as vozes, as mãos.

No dia 15 de Setembro, rompemos o silêncio e enfrentámos o medo.

O governo tremeu. O povo derrotou a política da troika e a TSU, mas ainda não vencemos a guerra.

Esta proposta de orçamento retoma o assalto a quem trabalha, pelo aumento brutal do IRS e outras medidas de ataque ao trabalho, de criação de mais desemprego, de aumento da pobreza e da precariedade, de injustiças sociais e de desespero.

Esta política, sabemo-lo bem, é um caminho sem fim e sem futuro.

Hoje, 13 de Outubro, dizemos não!

Esta “Manifestação Cultural” coloca a cultura ao lado do povo, na frente da contestação, da luta e da resistência.

Hoje, milhares de artistas, de profissionais do espectáculo e de pessoas anónimas juntaram-se em todo o país para afirmar que a nossa vitória contra este governo e a política da troika passa também pela defesa da cultura.

Este governo acabou.

Só serve os interesses financeiros, faz crescer o desemprego, a miséria e a dívida. Perdeu toda a legitimidade ao deixar de servir o povo que o elegeu.

Não há ministro que saia à rua sem ser insultado e o Presidente teme celebrar a República com o povo.

Não abdicamos de quem somos. Um povo com direitos, liberdade, identidade e cultura.
Este Orçamento do Estado não passará!

A proposta deste governo representa um agravamento colossal do roubo. A nossa resposta é o aumento da participação, a multiplicação das acções e o endurecimento da luta. O caminho que nos querem impor não é inevitável. Combateremos este e qualquer orçamento injusto de austeridade e miséria.

Apelamos a todos para fazerem frente a esta política da troika, para que participem em todas as formas de resistência e pressão que nos próximos 15 dias vão tomar forma, até derrubarmos este orçamento, esta política e este governo.

No dia 31 de Outubro será votado no parlamento o Orçamento do Estado para 2013. 

Começando hoje, aqui, e passando por dia 31, estaremos na rua para dizer: “este orçamento não passará!”
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