24.7.13

O CDS tomou conta



Um grande texto de Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios (*):

«O vice-primeiro-ministro Portas coordena as áreas económicas. E negoceia com a troika. Pires de Lima é ministro da Economia e vice do vice-primeiro-ministro. Paulo Núncio ensanduicha a ministra das Finanças nos Assuntos Fiscais. Lobo Xavier lidera a reforma fiscal. Mota Soares fica na Segurança Social, Cristas na Agricultura. E Nuno Fernandes Thomaz assume a vice-presidência da Caixa. Enquanto esfregávamos os olhos, perplexos com a crise política, o CDS ficou a mandar nisto. Passos Coelho é o primeiro primeiro-ministro a ficar para segundo. (...)

A dupla Paulo Portas e Pires de Lima será muito poderosa. Sim, é uma dupla, são amigos sem mácula desde a escola primária e, sobretudo, equivalem-se. Portas não manda em Pires de Lima, nenhum é criador nem criatura. E Pires de Lima é como Paulo Macedo, deixou muito para estar aqui. Esta é provavelmente a aposta da sua vida. Vai dar tudo. Sabe gerir equipas. Sabe gerir Portas. Tem ideias próprias sobre economia e fiscalidade. Sobre a troika. E sobre a pequena política, que despreza e dinamita. A sua influência será muito superior às paredes do Palácio da Horta Seca. A banca e as grandes empresas estão radiantes. (...)

O CDS fia-se na Europa, nesta mudança que permitirá também flexibilizar metas do défice. Se não for assim, não há nem Orçamento, quanto mais crescimento; se não for assim, as negociações entre o político Paulo Portas e o técnico Abebe Selassie serão diálogos risíveis entre letras e números.

A remodelação fica marcada pelo reequilíbrio de poderes entre CDS e PSD; por uma orgânica menos pesada; e pelo fim do fanatismo pró-troika (o que esvazia em muito o discurso de Seguro). Talvez Passos tenha deixado ao CDS o presente envenenado da economia e da troika. Para já, abdicou. Cedeu para segurar a coligação.

E assim o CDS não tomou posse, tomou conta. Portas titubeou, torpedeou e tripudiou, mas tem cara de pau para hastear a bandeira de aço: "Eu fico. E ganho". Esperemos daqui a nada poder ao menos dizer: ainda bem.»

(*) O link pode só funcionar mais tarde. 
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