22.7.13

O país não ideológico de Cavaco Silva



De tudo o que o presidente da República disse ontem, há uma frase-chave que já vi referida mas não suficientemente sublinhada:
«Mais cedo ou mais tarde, um compromisso interpartidário alargado será imposto pela evolução da realidade política, económica e social do País.» E Cavaco explicita logo a seguir para que não fiquem dúvidas: «Estou igualmente convicto de que os cidadãos se encontram agora mais conscientes da necessidade de um consenso entre os partidos que subscreveram o Memorando de Entendimento.»

Ou seja: para o presidente da República, está à vista o fim da democracia parlamentar tal como a conhecemos, esta deve reduzir-se à acção concertada de um bloco central que a domine sem sobressaltos. Tudo o resto é lixo irrelevante que só serve para empatar. Para já, interessa a defesa consensual de um Memorando, amanhã de um outro texto ou tratado qualquer.
Deve ficar garantida a neutralização de divergências significativas quanto à «evolução da realidade política, económica e social do País», o que implica, pura e simplesmente, o fim de devaneios ideológicos, a convergência para uma ideologia única. Quando se fala do futuro de um país nestes termos, é de ideologia que se trata e não apenas de folhas Excel.

O cidadão Cavaco Silva teria mais jeito e sentir-se-ia mais à vontade como presidente do Conselho de Ministros em tempos antigos. Não hesitaria em assinar uma versão mais modernaça de uma outra frase que ficou célebre e de que me lembrei ontem imediatamente: «A União Nacional nunca será um partido, porque tem uma aspiração mais alta : organizar a Nação!» Descubra as diferenças. 


(Também aqui.) 
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