8.10.13

Teatro às escuras



Esta segunda-feira, um grupo de teatro de Coimbra estreou um espectáculo às escuras. Perante uma plateia cheia, seis actores fizeram o seu trabalho sem poder ser vistos e, portanto, o teatro não se cumpriu.

O episódio é insignificante perante o estado do Mundo e a tragédia é outra coisa, como eu sempre digo.

Ou então não.

O grupo é o TEUC e faz parte da Universidade de Coimbra. A estreia às escuras foi uma acção de resistência perante o desinteresse de todos pela actividade que desenvolve, significativamente, há 75 anos. Para o seu espectáculo, precisava de corrente trifásica. Que não teve porque o quadro da Associação Académica está velho e sobrecarregado pelas máquinas do bar; porque os Serviços de Acção Social da UC passaram a entender que o apoio às actividades culturais está fora da sua alçada; porque a Reitoria acha que o assunto não é com ela.

Não duvido que todas estas entidades sejam capazes de argumentar em sua defesa, atirando para as restantes as responsabilidades pelo sucedido. Mas é isso que irrita.

Perante um país em ruptura, mesmo as instituições com tradições e responsabilidades na contestação, no apoio aos mais fracos e no progresso das ideias sucumbem ao conformismo, convertem-se à lógica da rentabilidade e anulam-se a si mesmas.

Diz o TEUC, no comunicado em que explica a situação, que a redução dos apoios de que tem sido vítima vai acabar com o teatro universitário. Peca por defeito. As políticas que impediram a corrente trifásica de chegar à sua sala-estúdio e a cumplicidade de todos aqueles que se comportam como se isto fosse necessário e inevitável são as que conduzem o país inteiro para as trevas e que, pelos vistos, são tão eficazes a cortar-nos a energia vital.

Com ou sem consciência disso, os seis bravos actores que representaram às escuras ofereceram a quem os (não) viu uma extraordinária metáfora do estado em que estamos.

O teatro cumpriu-se, afinal. E nós?

(Via Pedro Rodrigues no Facebook)
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