3.8.13

A coligação já está coesa?



Não, só quando Paulo Portas aparecer com um polo cor de laranja. 
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Do legado cavaquista



No Público de hoje (sem link), leitura obrigatória de um texto de Manuel Loff, absolutamente arrasador para Cavaco Silva e para o seu longuíssimo reinado.

Alguns excertos:

«Quando no próximo 25 de abril se completarem 40 anos de democracia em Portugal, Cavaco terá cumprido mais de oito como Presidente da República (2006-14), a que se somam os dez como primeiro-ministro (1985-95) e o ano (1980-81) em que foi ministro das Finanças – 19 no total, praticamente metade do período democrático. Na história destas quatro décadas, é Cavaco quem emerge. É terrível, e deprimente, mas é assim. O regime político em que hoje vivemos, aquilo em que ele se transformou, a articulação perversa entre poder económico e político, é, sobretudo, o resultado do cavaquismo dos anos 1985-95, replicado sem cessar desde então, com o próprio, o Presidente menos votado da nossa democracia, na chefia do Estado. (...)

Cavaco, o homem que, desde Salazar, e muito mais que Caetano ou Sá Carneiro, melhor sintonizou com as direitas portuguesas, é o responsável máximo pela re-oligarquização do Estado e do poder político em Portugal, pelo regresso às formas mais elitistas de dominação política que caraterizavam o sistema liberal-conservador, que a I República breve e fragilmente interrompeu, mas que se reconstituiu, com muito mais força, com o salazarismo. O cavaquismo foi essa espécie de marcelismo adaptado às regras formais da democracia política (Cavaco chamou ao poder muitos dos pseudotecnocratas que Marcelo promovera), que, tendo beneficiado da bazófia ideológica do fim da História, procurou convencer os portugueses de que as ideologias tinham morrido, o que havia era economia, progresso e uma naturalíssima desigualdade social que só o mérito individual (e não quaisquer políticas sociais!) poderia corrigir. (...)

Eis o legado que nos deixa o homem que dizia na última campanha eleitoral: “Para serem mais honestos do que eu tinham que nascer duas vezes.” (Imprensa, 23/12/2010.) Ele, que se rodeou no poder daquela que se revelou a mais descarada clique de trapaceiros das finanças de que há memória desde, provavelmente, Alves dos Reis. Ele, que, depois de 34 anos de atividade política ininterrupta, gosta de derrapar pelo discurso antipolíticos como se não fosse um deles, e que em 1981 era (com Eurico de Melo e Santana) o campeão das conspirações internas no PSD contra Balsemão, que, à la Portas, se demitiria para logo a seguir ser reconduzido. Ele, que depois de dez anos da mais intensa política deliberada de inviabilização social e económica do mundo rural e piscatório português, discorre hoje pateticamente sobre as maravilhas do regresso ao campo e ao mar. (...)

O “melhor povo do mundo” deve ter alguma responsabilidade em que este homem tenha chegado aonde chegou. Mas tudo indica que não acredita mais. Nele ou nos seus pupilos.» 
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Um texto violentíssimo



Este que Óscar Mascarenhas, Provedor do Leitor no Diário de Notícias, publica hoje e que está a inundar as redes sociais: «Poiares Maduro e Lomba são tão-somente o fascismo a bater-nos ao de leve à porta».

«Aldrabões. Não faço por menos. Mandam as artes e manhas dos artigos de opinião que não se diga logo ao que vem o autor, para manter o leitor agarrado ao prazer do texto. Mas desta vez, iconoclasta como me quero, finto as regras e vou direto ao assunto: os senhores (professores doutores ou doutorandos e mais o que desejarem ser no currículo e na mercearia do bairro) Miguel Poiares Maduro e Pedro Lomba, nos poucos dias que levam de governo, já deram provas de terem sido aldrabões. Não digo que o sejam, que não sou tão pateta e desajeitado que abra um alçapão legal sob os meus próprios pés perante juristas assim ditos tão eminentes: afirmo que o foram. Episódica e admito que corrigivelmente.

E vou mais longe: nos poucos dias em que estes governantes exerceram o poder, o fascismo deu um passo em frente. Nem lhes vou dizer que limpem as mãos à parede, porque podem espalhar a peste, a cólera e a tinha. Lavem-nas, com sabão azul e branco e, de caminho - vão ao banho!

Caro leitor: custou muito chegar à liberdade de imprensa e ainda mais firmar em lei os valores civilizacionais que não deixassem que certos produtos nascidos de uma faísca de ferradura de um cavalo da guarda a raspar no basalto de uma viela os pudessem alterar a seu bel-prazer. Impusemo-nos, jornalistas, liderados pelo Sindicato menos corporativo que conheço - e mais atacado pelos que venderam a alma e o talento por dois réis de mel coado ao patrãozinho querido ou ao governozinho de ocasião - normas de respeito pelos direitos do público que raros são os países que as têm. Há os que falham - há muitas falhas -, mas os jornalistas e, mais importante do que eles, o público, sabem dizer quando falham.» 

A ler NA ÍNTEGRA.
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Cadeira de Salvação Nacional



E, há 45 anos, também era Sábado. 

 (Franco Nogueira, Salazar, o último combate, vol. VI, p. 377)
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2.8.13

Faria hoje 84 anos




29 de Janeiro de 1983 – como se tivesses sido ontem. 
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Privatizar é...




Dois curtos parágrafos de Miguel Esteves Cardoso, que dispensam comentários. Mesmo sem ter visto o outdoor, guardo a imagem porque ela é excelente. 
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Palmas, muitas palmas



«Palmas de pé, cadenciadas e definidas como num plano quinquenal, ao estilo dos gloriosos congressos soviéticos, em louvor dos líderes, não abafam o som do desconforto da sociedade portuguesa. Os deputados da maioria apoiaram uma moção de apoio ao apoio que têm dado às manifestações de apoio do Governo ao apoio que lhe têm dado. Confusos? Não: numa democracia normal o Governo responde perante os deputados. Em Portugal, os deputados da maioria dependem do Governo. Ou melhor são o megafone da sua voz. As patéticas perguntas de um parlamentar social-democrata à ministra Maria Luís Albuquerque sobre os swaps, que começavam por um inevitável "obrigado por nos estar a revelar a verdade", ou algo parecido, mostram o equívoco desta encenação.» (O realce é meu.)

Fernando Sobral, no Negócios de ontem.
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E ainda há quem deseje uma maioria absoluta



Segundo uma sondagem da Universidade Católica, ontem divulgada, prevê-se que o CDS-PP obteria apenas 3% dos votos se eleições legislativas tivessem agora lugar, ao contrário do que sr. Silva decidiu. Descontadas margens de erro, sempre associadas a este tipo de iniciativa, e mesmo admitindo que o CDS sai tradicionalmente prejudicado nestas previsões, é obra! (O «partido do táxi» já pode andar de Smart...)

Mas neste preciso momento e durante as próximas duas semanas, é toda a pátria que está entregue a Portas para que o seu principal subordinado descanse. E, a partir de agora, ele liderará oficialmente grande parte da governação, em reuniões quinzenais com 16 ministros e secretários de Estado.

António José Seguro que aprenda: anda aí a esfalfar-se e a comer carne assada por tudo quanto é terreola para tentar uma maioria absoluta que nunca terá (é olhar para os números da sondagem), quando um pouco de jogo de cintura lhe garantiria uma coligaçãozita à maneira. Ainda vai a tempo. 
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A pensar no futuro



Qual das jotas me aconselham? 
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1.8.13

Sempre



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Viragens e inversões



Ricardo Araújo Pereira já quase só fala a sério. Mas bem, como sempre.

«Para um país como Portugal – que, à data do início das viragens e inversões, se encontrava em recessão –, passar por um número par de viragens é prejudicial, na medida em que, terminada a última viragem, o país continua a dar por si voltado na direcção do empobrecimento.»

Na íntegra AQUI.
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Sabemos que chegou mesmo a «silly season»

«Duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar»




Antes de mais, ele sabe, tão bem como nós, que a previsibilidade não se decreta e que o futuro próximo só é «previsível», para Portugal e para a Europa, pelas piores razões.

Em segundo lugar, nunca é de mais sublinhar que esta ideia fixa da convergência dos partidos, num consenso de salvação nacional, é antidemocrática na essência, porque despreza a necessária e indispensável diversidade de projectos para a sociedade, que implica sempre conflituosidade.

Mas, mas... é bom recordar que já lá vão oito anos desde que o presidente disse uma frase límpida e esclarecedora, em entrevista a Judite de Sousa: «duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar». Foi então grande o escândalo que provocou, hoje já nem estranhamos. Porque previsível, sempre previsível, é ele – para nossa desgraça. E, com a idade, só se muda para pior. 
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Que seja um pouco menos louco do que Julho




... se não for pedir muito! 
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31.7.13

FMI duvida que a Grécia seja solvente

Quem espera nem sempre alcança



Em Mondim de Basto, «o Presidente da República frisou hoje que os dois partidos da coligação assumiram o compromisso de manter e reforçar a coesão governamental e de alcançar de forma duradoura uma sintonia relativamente às principais políticas económicas e sociais» e disse que «espera para ver»

E se não vir? What next? Nós é que (des)esperamos para ver. 
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Mutação



«Segue em marcha lenta, como o célebre comboio dos torresmos, o milimétrico plano de reabilitação do Governo. (...)
É uma mutação física e sentimental. O Governo da austeridade quer agora ser o da economia. O do desemprego quer ser o do emprego. O do aumento generalizado de impostos quer ser o reformador do IRC (esquecendo, claro, o IRS). É um plano minucioso que só é traído por pormenores e algumas minas, como os swaps, o BPN ou o BPP.»

Fernando Sobral no Negócios de hoje.
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Mentiu, Não menti



Ao ouvir ontem uma parte das longuíssimas horas em que a ministra das Finanças foi interpelada sobre swaps numa Comissão Parlamentar, pensei algo de semelhante ao que Ferreira Fernandes escreve hoje no DN. Era óbvio que o desfecho seria o que foi: a ministra a insistir que não mentiu, a oposição a tentar provar que sim e os espectadores, em casa, a tomarem partido por uma ou por outros, conforme as suas opções políticas. O assunto é sério mas, a páginas tantas, parecia que assistíamos a uma querela entre crianças de escola («aquele menino é que mentiu, senhora professora»). Mais valia recorrerem a polígrafos, sei lá...! Mais a sério: não seria possível nomear uma comissão que escrutinasse o que ficou escrito? É que todos sabemos que palavras leva-as o vento e para o lado em que interessa soprar.

«O escrutínio - palavra grave, que quer dizer exame minucioso - a que são sujeitos os maquinistas e os motoristas envolvidos em desastres deveria ser estendido a outras áreas sinistradas da sociedade. (...) A causa dos três acidentes vai ser julgada sobre factos. Esse correcto método de escrutinar maquinistas e motoristas poderia, digo eu, ser estendida a uma classe que agarra o volante da sociedade a pretexto de lá chegar por escrutínio (relembro, quer dizer exame minucioso). Essa classe, suspeito eu, pode ocasionar maiores tragédias do que os 118 mortos acima contabilizados. Porém, essa classe brinca com palavras. Mentiste! Não menti nada! Mentiste, mentiste...»
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30.7.13

Ainda não foi hoje



... mas talvez um dia!

(Imagem de Fernando Roque)
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Há 39 anos, um 30 de Julho bem mais interessante



No dia 30 de Julho de 1974, milhares de pessoas concentraram-se junto ao Palácio de Belém para manifestarem ao Presidente da República a alegria pelo fim da guerra colonial. A manifestação foi convocada pelos três partidos representados no II Governo Provisório: PCP, PS e PPD.

Ler notícia detalhada neste Diário de Lisboa, pp. 1 e 4.

(Na véspera, tinha sido assinado, em Argel, o acordo que reconhecia a independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.) 
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O 199º estudo sobre o futuro da RTP

Governo, no reino de «faz de conta»



O governo terá estabelecido 2 de Agosto como data limite para que as direcções gerais e regionais da Administração Central do Estado «reformulem os horários de trabalho e apresentem os mapas de pessoal com vista à racionalização de efectivos», tendo em conta as medidas aprovadas ontem na Assembleia da República sobre aumento do horário de trabalho para 40 horas e regime de requalificação dos excedentários.

Acontece que os partidos da oposição já ameaçaram recorrer ao Tribunal Constitucional para evitar a aplicação das leis em questão. Assim sendo, no caso de o dito TC dar provimento a estes recursos, estaremos de novo envolvidos num imbróglio sem fim, mas agora mais grave. Porque, se já foi a confusão em que ainda estamos metidos quanto aos subsídios, sempre é mais fácil pagar qualquer coisa em duodécimos, centésimos ou milésimos, do que mexer no regime de trabalho de pessoas (é disso que se trata, certo, e não de transferências bancárias...) Para simplificar: se as chefias vão contar agora com mais cerca de 14% de tempo semanal de cada trabalhador e, tendo isso em conta, dispensar x pessoas para a tal «requalificação», o que farão se se mantiver o horário das 35 horas por decisão do TC?

Para além de tudo o resto que está em questão, o governo dá assim mais um exemplo de péssimo profissionalismo, ordenando que as suas chefias trabalhem com base no «faz de conta». A pressa e a precipitação são inimigas não só do bom mas até do sofrível. 
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Agora é que vai ser



«Para nós portugueses, os que sofremos com todos os desvarios presentes e passados, seria bom que o Governo mudasse de política e de atitude perante os nossos credores. Que este novo Governo abandonasse os delírios revolucionários Que a incompetência desse lugar ao mínimo bom senso. Que subitamente Passos e Portas se transformassem em estadistas. E isso será talvez tão fácil como pôr galinhas a voar. Impossível, mesmo que se diga muitas vezes, batendo com a mão no peito, que agora é que vai ser.»

Pedro Marques Lopes

29.7.13

Novigramática


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Buñuel, Luis



Luis Buñuel morreu há 30 anos, em 29 de Julho de 1983. Nascido espanhol, naturalizado mexicano, foi certamente um dos realizadores mais controversos, irreverentes, e mesmo «escandalosos», do século passado.Bem jeito dava que andasse por cá para retratar este século XXI...

Desde que, com 17 anos, rumou a Madrid para frequentar a universidade, entrou em círculos ligados a cineclubes e inseriu-se em grupos onde se tornou amigo de Dalí, García Lorca e mais uns tantos. Em 1925, partiu para Paris, via três filmes por dia, iniciou actividade como crítico de cinema e aproximou-se cada vez mais dos surrealistas que o adoptaram definitivamente depois da exibição do seu primeiro filme – «O Cão Andaluz» – em 1929.



Seguiu-se «A Idade de Ouro» (1930). Cinco dias depois da estreia, grupos de extrema direita atacaram a sala onde o filme era exibido, as autoridades francesas proibiram-no e recolheram as cópias existentes. Seguiu-se meio século de censura até que reapareceu em Nova Iorque em 1980 e um ano depois em Paris.



Seguem-se etapas complicadas nos Estados Unidos, no México e de novo em França, mas recorde-se apenas um dos seus filmes mais emblemáticos, «Viridiana», absolutamente inesquecível, de 1961, que ganhou nesse ano a Palma de Ouro em Cannes, mas que, depois de ser condenado pelo Osservatore Romano que o classificou como «blasfêmia» e «sacrilégio», foi proibido pela censura em Espanha e só veio a ser exibido em 1977. (Vale a pena ler este texto de Lauro António.)



A célebre cena da Última Ceia:


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Em dia de votações sobre funcionários públicos



«Se não for preciso tanta gente como a deste governo para fazer isso, essas pessoas têm de ir fazer alguma coisa para outro lado, não pode o Estado podemos nós ficar a pagar-lhes eternamente para fazer o contrário do que não é preciso.»

(A partir daqui)
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Regresso ao (nosso) futuro?



Segundo uma fonte grega, de todo o dinheiro que entrou ou vai entrar na Grécia, via Troika ou através de privatizações, entre 2010 e 2014, 1,6% vai para o orçamento de Estado, para a economia real e para as pessoas, revertendo os restantes 98,4% para os credores internacionais FMI, UE e BCE.

«Temos orgulho em entregar a última fatia do nosso aos nossos credores» – diz alguém.

(Daqui)

28.7.13

As Cidades e as Praças (51)



Praça Charles Aznavour, (Yerevan, 2012)




(Para ver toda a série «As Cidades e as Praças», clicar na etiqueta «PRAÇAS».)
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Afinal, ele quer mesmo a União Nacional?



Se ontem ainda se podia pensar que a utilização do termo pelo primeiro-ministro tinha sido apenas descuido ou falta de memória histórica, a insistência, hoje, já parece mais suspeita.

Mas onde quaisquer dúvidas se dissipam é se recuamos a 25 de Abril de 2011, com o PSD ainda na oposição, e relermos o que Passos Coelho então disse: «Ter a ideia de que, como estamos com um problema muito sério para resolver, temos de fabricar em Portugal uma espécie de União Nacional é uma perversão, ainda para mais a ser invocada num dia como este, porque a União Nacional não é desejada em Portugal, nem pelos que têm memória da que já existiu, nem por aqueles que, com prudência, aprendem lições do passado.» (É melhor ouvi-lo.)

Sejamos portanto claros: o primeiro-ministro, ontem, sabia mesmo o que queria dizer e o que era para ele uma «perversão» em 2011 deixou de o ser. Interpretem-se as diferenças. 
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Baralhados andamos todos

Clicar na imagem para ler melhor.

(Via «A Criada Malcriada» no Facebook)
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O mundo pula e avança



No século XIX, os jornais noticiavam que a família xyz, da alta burguesia lisboeta, se tinha deslocado na véspera para as suas férias de Verão em Paço de Arcos, com criados, panelas e colchões devidamente transportados numa carroça. 

Não mudámos muito, tornámo-nos apenas mais internacionalistas: hoje dizem-nos que David Cameron foi comprar peixe ao mercado de Aljezur e que Pamenla Aderson veio ao Algarve para uma festa de anos.
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