26.1.14

Multimilionários



Clara Ferreira Alves, na Revista do Expresso, 25/1/2014

«É preciso um encontro de ricos para saber como vivem os pobres. A Oxfam apresentou um relatório sobre a distribui¬ção de recursos no mundo, de modo a ser lido e discutido durante o Fórum de Davos. O relatório conclui que as 85 pessoas mais ricas do mundo concen¬tram tantos recursos como a metade mais pobre da população mundial. (...) Em Portugal, o país mais desigual da Europa ociden¬tal, o peso dos rendimentos dos mais ricos no rendimento total do país mais do que duplicou desde 1980. (...)

No Estado democrático, a velha social-de¬mocracia ou a esquerda foram incapazes de pensar o mundo depois da revolução tecnológica, da globalização e da explosão de mão de obra barata nas economias e mercados emergentes, como antes ti¬nham sido incapazes de pensar o mundo depois da queda do Muro. Os anquilosados partidos socialistas, que tentaram adaptar-se aos tempos absorvendo as lições da expansão capitalista e financeira internacional, deixaram-se enredar num discurso que se limita a papaguear as vantagens e desvantagens da democracia igualitária, sem apresentar um único plano ou medida (como a uniformização fiscal europeia). (...)

Os funcionários políticos deixaram de ver o Estado como uma forma de poder e de enriquecimento próprio e passaram a usar o Estado como uma alavanca do poder das empresas e grupos com ambições sobre os recursos públicos. As privatizações, incluindo as privatizações de sectores estratégicos dos países, são o meio de enriquecimento ilícito de uma classe corrompida, como antes foram o poder local e a repartição de recursos e sinecuras.»
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