19.3.14

1968: Mário Soares detido e deportado



Mário Soares foi deportado para S. Tomé, pouco depois de ter estado preso e incomunicável, durante três meses, pretensamente por ter fornecido a um jornalista do Sunday Telegraph informações relativas a um escândalo sexual que envolveu suspeitas de actos pedófilos por parte de várias figuras públicas – o chamado caso dos «Ballet Rose». No fim de Fevereiro de 1968, conseguiu sair em liberdade na sequência de um pedido de habeas corpus.

O que se seguiu, aqui resumido por Maria João Avillez (Soares. Ditadura e Revolução, 1996, Círculo de Leitores, p. 197):


Detido pela PIDE nesse 19 de Março, foi-lhe comunicado que partiria para S. Tomé no dia seguinte, por volta das onze horas da noite. Rapidamente espalhada a notícia (sem internet, sem telemóveis...), centenas de pessoas, de todos os quadrantes da oposição, dirigiram-se para o velho aeroporto da Portela, na tentativa de chegarem a uma varanda de onde então se podia assistir a descolagens e aterragens de aviões. Em vão, porque a polícia correu tudo à bastonada. Recordo bem algumas cabeças partidas e correrias atabalhoadas por corredores e escadarias. Alguns escaparam: Maria Belo, por exemplo, porque era loira, foi tomada por estrangeira e saiu calmamente, sem pressas e sem que os bastões lhe tocassem. Eu não era loira, mas só um me tocou – e de raspão.

In illo tempore, havia um consenso sagrado: contra a PIDE, sempre, quaisquer que fossem as afinidades ou as divergências. E, se existiam algumas (poucas) excepções, não faziam mais do que confirmar a regra. 
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