17.5.14

Adeus e até ao seu regresso




No dia em que, teoricamente, a troika deixa Portugal, Eduardo Paz Ferreira recorre à evocação de certas músicas para caracterizar o acontecimento, no Expresso de hoje:

«Ray Charles é um daqueles cantores imortais. Muitas são as suas canções que acompanham a nossa vida, nos bons e nos maus momentos, nos de alegria e nos de tristeza.

Na ocasião em que, formalmente, termina a missão da troika em Portugal veio-me, por exemplo, imediatamente à cabeça o “Hit the road Jack, don’t come back no more, no more”. (...)

Não duvido que não haverá muitos jovens para cantar à troika o "Hit the Road Jack", mas alguns mais velhos não cederão à tentação e, seguramente, não com o sentido original da música, que é apenas o do despejo de um namorado, que não deixa saudades, mas que não quer acreditar que isso lhe está a acontecer. (...)

Mas nessa altura, nós, que tanto gostamos de Portugal e de Ray Charles, recordaremos outra das suas mais belas canções, "Georgia", a música evocativa do seu racista Estado de origem, e damo-nos conta de que, depois de a troika passar, Portugal recuou nos tempos e aproximou-se da Georgia que nos cantava Ray Charles, uma terra pobre, intolerante, dividida, assente no poder dos ricos.

E, no entanto, mesmo em quem, como Ray Charles, sofreu essa situação, o amor pela Georgia não desapareceu, como não desaparece o nosso por Portugal. Apenas sabemos que Jack voltará, a menos que tenhamos força para dizer não e saibamos congregar os apoios e os projetos que permitam que as portas se lhe fechem definitivamente. (...)

Naturalmente que "Grândola Vila Morena" seria esperar de mais, mas o "E Depois do Adeus" vem bem a propósito e convém que tenha uma resposta, mas que a resposta não seja confusa e contraditória, como de costume, mas antes, como pedia Denzel Washington em “Filadélfia” a uma testemunha, explique-me como se eu fosse uma criança de dez anos aquilo que está a dizer.»





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