13.5.14

Europeias e sonhos mínimos



«A campanha eleitoral para as europeias já começou e agora vamos ter de aturar doze dias de mentiras descaradas, de reescrita da história recente e de provocações do PSD e do CDS e doze dias de discursos absolutamente vazios de conteúdo do PS, dando uma no cravo e outra na austeridade, sempre empenhado em atacar o Governo com veemência ma non troppo, num daqueles exercícios de hipocrisia e de língua de trapos que são a razão do crescente desencanto dos cidadãos com a democracia. (...)

O espectáculo da campanha vai ser triste, mas o que será mais desolador será ver a quantidade de votos que os partidos do Governo vão, apesar de tudo, recolher, ilustrando as limitações da democracia. Assim como é desoladora a prevista vitória do PS, cujas promessas eleitorais e prática política se situam não no domínio da real alternativa e da construção de uma sociedade mais justa mas no domínio da nuance em relação ao PSD. (...)

E, no entanto... No entanto, há razões para continuar a ter esperança e, mais do que esperança, não faltam razões e objectivos para lutar, porque aquilo que queremos para os nossos filhos e para os seus filhos não é diferente do que queriam os homens e as mulheres de há cem anos e ninguém pode ter como ambição ser um escravo com um telemóvel no bolso. (...)

Sonhos? Sim. São os sonhos que temos o dever de exigir que os partidos realizem. Estes sonhos são a democracia. São o mínimo que podemos exigir.» 

José Vítor Malheiros, no Público.
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3 comments:

Victor Nogueira disse...

Fui ver se José Malheiro Dias apenas havia referido a troika ps(d)cds no seu artigo.

Não, JMD falou tb no BE e na CDU. E aquilo que pareceria pelo extracto um artigo pela positiva, atola-se em "nada". Para JMD o BE não serve, está em decadência eleitoral. Quanto à CDU, JMD prevê o seu crescimento, mas ... o "esperado aumento de votos irá caucionar a sua pose isolacionista e reforçar a sua convicção de que é imprudente e precipitado sonhar com uma solução governativa à esquerda antes de 2060"

Para além disso o truque velho e nada inocente utilizado por JMD ao dar nome aos cabeças de lista do ps(d)cds, sem referir os do BE e da CDU.

Se JMD no seu artigo argumenta que nada distingue no essencial as políticas do ps(d)cds contra as quais o povo se manifesta (sem que isso se traduza em mudança de voto alternativo e não de alterne), das duas uma:

ou JMD considera o ps(d)cds de esquerda e lamenta que a cdu não "consensualize"

ou JMD considera o ps(d)cds como não de esquerda e então pk vem com a estafada história subliminar do "imobilismo" da cdu, i.e., do pcp ?

No fundo JMD vem com a estafada e serôdia "narrativa" de que não há alternativa, uns, como ps(d)cds pk defendem mais do mesmo, outros pk estariam em "decadência" como o BE ou são "imobilistas", sectários e todo o blá-blá pavloviano e subliminar sobre a CDU.

O que defendem de facto as forças políticas em presença, isso não refere o articulista. Nem os critérios ditos jornalísticos dos órgãos de "reverência" ou das TV's e seus articulistas, comentadores e jornalistas. A esmagadora maioria registados na empresa A Voz do Dono ?

Pk para JMD nem ps(d)cds, nem BE nem CDU permitem o sonho, termina em apoteose e ao som das charangas e das trombetas ... JMD

Joana Lopes disse...

1ºJMD não significa nada, não são as inicias do autor do texto.
2º Não pus o link porque o texto não está acessível para os leitores de blogues.
3º Dizer que JVM defende que não há alternativas é, no mínimo, uma conclusão inadequada de quem leu o texto na íntegra e, sobretudo, para quem conheça os textos que ele publica regularmente (o que não significa que eu me identifique com as suas opções políticas).

Victor Nogueira disse...

Joana Lopes - houve um erro meu que troquei parcialmente o nome de JVM e não JMD. Também eu leio e aprecio o articulista. E por isso fui em busca do texto original parcialmente reproduzido. Em função do texto original, escrevi o que escrevi nas caixas de comentários.

Voltando de novo ao artigo, depois do comentário da Joana, devo dizer que no meio da floresta de palavras JVM admite que haja saída fora do que se convencionou chamar o "arco do poder".

E fora do referido arco estariam o BE e a CDU (há mais partidos concorrentes). Não teria JVM que apelar ao voto em qualquer deles. E se queria apelar, poderia fazê-lo sem ser nas entrelinhas ?

Mas, independentemente de outras considerações, o que para mim ressalta da leitura é a referência a um BE eleitoralmente "decadente" e a uma CDU " cujo esperado aumento de votos irá caucionar a sua pose isolacionista e reforçar a sua convicção de que é imprudente e precipitado sonhar com uma solução governativa à esquerda antes de 2060."

Como enquadrar isto nas linhas finais "Sonhos? Sim. São os sonhos que temos o dever de exigir que os partidos realizem. Estes sonhos são a democracia. São o mínimo que podemos exigir."? Que partidos ?

Os meus comentários visam apenas o artigo de JVM. Do qual os leitores podem fazer as interpretações mais ou menos díspares.