29.7.14

Burro em Pé



No Negócios de hoje, Fernando Sobral recorre à série «House of Cards» para sublinhar algumas características da situação em que nos encontramos.

«De um lado temos a série americana "House of Cards". Aqui, menos remediados, temos o nosso "Castelo de Cartas".

Em inglês, tal como em português, um castelo de cartas é algo sem solidez. Na série, Frank Underwood sabe o que quer e para onde vai. Sabe qual é a "linha certa" para o poder. Mas revela-nos algumas verdades: hoje não existe "um" governo (este é o fruto proibido de negociações de diferentes facções com agendas próprias); o célebre "espírito público" dos políticos é um logro (estes estão voltados para a realização dos seus interesses); a política atrai quem tem capacidade para relações públicas, jogos de poder e troca de favores. Mas sobretudo, mostra que o verdadeiro poder e o poder do dinheiro não são equivalentes. (...)

Grande parte do poder económico português fez-se, durante séculos, a partir de uma aliança entre o poder político e o económico. Mas como a acumulação de capital sempre foi um logro em Portugal, foi-se alterando quem influenciava o poder do Estado. A queda do GES é o capítulo final do poder financeiro junto do Estado político. Hoje são outros grupos de interesses, especialmente quem tem a técnica de estabelecer a arquitectura legal das decisões e liga interesses que podem ser comuns, que influenciam determinantemente o poder executivo. O Governo de Passos Coelho foi o dobre de finados de uma época.»

Assim que comecei a ler o texto de Fernando Sobral, não foi um Castelo de Cartas que visualizei, mas sim o velhinho Burro em Pé que alguns talvez ainda recordem. Jogo infantil, que não existe certamente no iPad ou na Playstation, e onde o engenho específico consiste em tirar uma carta de um baralho em equilíbrio instável sem derrubar as restantes. Se estas caírem, o infeliz jogador é considerado burro tantos anos quantas as cartas derrubadas.
Há quanto tempo andamos a brincar ao Burro em Pé? Há muito e acabamos sempre com as cartas na mão. Nunca mais percebemos que o jogo tem de ser outro. 
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